
Nas eleições de 2018, quando um dos meus filhos perguntou se eu sabia que um dos eleitos seria um tal Felipe Rigoni, eu devolvi a pergunta: Felipe o quê? Quem é esse cara? Só faltou o Felipe chegar na minha frente e cantar “esse cara sou eu”. Não cantou, mas parece ter encantado o eleitorado em busca de algo novo na política e foi o segundo deputado federal mais bem votado do Espírito Santo.
Sua presença no Congresso Nacional chamou a atenção, inicialmente, porque a Câmara nunca havia tido um deputado cego e teve que adaptar tudo para receber seu novo integrante. Mas, depois, Felipe chamou a atenção ao demonstrar que a falta de visão, perdida gradativamente por conta de uma inflamação ocular que apareceu ainda na infância, não lhe impedia de sonhar e enxergar com os olhos da mente.
Seu primeiro discurso silenciou a Câmara e, assim, ele foi ocupando seus espaços até chegar a 2022 anunciando uma possível candidatura a governador. Felipe Rigoni é o novo na política? Ele está cercado de velhas raposas, como Theodorico Ferraço e sua mulher Norma Ayub, também deputada federal, seu filho ex-senador Ricardo Ferraçoe, agora, o veteraníssimo deputado José Esmeraldo, sempre sonhando em ter uma legenda para disputar a Prefeitura de Vitória. Se tiver legenda, e disputar, ganha, ele sempre garante.
Rigoni foi eleito pelo PSB do governador Renato Casagrande, com mais de 85 mil votos, depois de, em 2016, ter perdido uma eleição para vereador de Linhares, cidade que mais cresce no Espírito Santo e onde teve um terço dos votos pra deputado federal. Isso prova que cada eleição é diferente da outra.
Rigoni é diferentão? Ele inovou ao escolher seus assessores por uma espécie de concurso público. E, na hora de fazer suas emendas parlamentares, não saiu distribuindo para prefeitos e aliados como é da tradição política da velha república brasileira. Para levar emenda dele tem que apresentar um projeto sustentável – e qualquer entidade pode pleitear isso. Por isso, criou um edital para quem quisesse disputar essa fatia do orçamento federal.
Ah, e o Vitor? Esta tem sido uma pergunta recorrente sobre o “pecado” de Rigoni. E quem é Vitor? Vem a ser o filho de Renato Casagrande nomeado por Rigoni em seu gabinete. O problema é que, em geral, as pessoas preferem o julgamento apressado à investigação. Vitor, o filho do governador, é amigo de Rigoni desde a juventude e estudaram juntos muitos anos. Construíram juntos a candidatura vitoriosa, com 2 mil voluntários ajudando nas redes sociais. Por isso que meu filho sabia quem era Felipe e eu não.
Hoje, depois que Felipe deixou o PSB por incompatibilidade de pensamento ideológico, o deputado e Vitor estão mais distantes, o que não significa que não sejam amigos. É que a política possui o dom de afastar os amigos e aproximar os inimigos – não, obrigatoriamente, nessa ordem. Estava na cara que um deputado com formação pelo liberal Instituto Líderes do Amanhã não ficaria muito tempo num partido socialista. Foi apenas um casamento por interesse, apadrinhado por um velho amigo.
Por ser deputado federal, Felipe vai presidir no Estado o União Brasil, fruto da fusão de PSL e DEM – pelo menos é o que está acordado para que as duas legendas busquem um gordo quinhão de cota partidária. E está construindo sua proposta de candidatura com as mãos de duas feras: o ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellloso Lucas, engenheiro de produção como ele, e o cientista social João Gualberto de Vasconcellos. Velloso está elaborando o programa de governo e disso entende bem.
Felipe é o novo na política? Vai saber! Fato é que ele vem com uma proposta de ser um candidato de centro-direita descolado de vínculos com o atual inquilino do Palácio do Planalto. Quer reunir, em torno da mesma mesa, velhas raposas da política com jovens aprendizes de feiticeiros, do alto empresariado aos pequenos empreendedores da periferia, e, por isso, busca entender melhor a sociedade em que vive e que pretende governar.
Para isso, toma emprestados os olhos dos outros. Isto é sabedoria, coisa rara num menino que está chegando agora aos 30 anos, idade mínima para ser governador do Estado. (José Caldas da Costa/Webber Andrade)
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