Weber Andrade
Decepção com a economia e a política, oportunidade de conseguir estabilidade financeira rapidamente e adquirir ‘patrimônio’ no Brasil, dar melhor educação e oportunidade aos filhos… Os motivos para que tantas pessoas, jovens, adultos e até idosos estejam se mandando para os Estados Unidos nos últimos anos e, particularmente, neste ano que passou, são muitos. E as regiões leste de Minas e nordeste do Espírito Santo estão perdendo contingentes consideráveis de mão de obra e inteligência, não só para os EUA, mas também para países como o Canadá, Portugal, Inglaterra e Bélgica, para ficar nos mais conhecidos.
Recentemente a Polícia Federal (PF) estourou uma rota de emigração que envolve o Espírito Santo, desde a Grande Vitória, com ramificações no noroeste capixaba e leste de Minas. Em Mantenópolis, só um escritório de despachante, havia solicitado 400 passaportes, em dois anos, mas a PF estima que o número de documentos solicitados por moradores da região nesse período ultrapassa os 4 mil.
Mas, e quem já vive nos Estados Unidos? E quem tentou e não conseguiu entrar? Fomos atrás de algumas respostas, já que a sociedade se divide, quando o assunto é imigração ilegal feita através de coiotes, ou seja, os traficantes de gente, que ganham fortunas para ‘entregar’ um cidadão brasileiro em território norte-americano. E muitas vezes a coisa não corre bem, como no caso de uma jovem rondoniense de 24 anos estuprada e abandonada para morrer no México.
Em Mantena, um desses jovens, Willian Moreira, o Lila, ainda na década de 80, chegou a entrar na América, de navio. Foi detido junto com vários outros emigrantes brasileiros e deportado, após uma tentativa frustrada de fuga. Mais tarde foi para Portugal e ganhou algum dinheiro.
Mas, a história do irmão dele, Wallace, o Lací, consternou toda a cidade e a família. Eram três irmãos, todos craques de bola e somente o mais velho, Wagno, o China, nunca tentou emigrar.
Lací conseguiu chegar e realizar o sonho de ‘fazer a América’. Passou mais de dez anos por lá e, quando conseguiu o green card, voltou ao Brasil, mas curtiu a vida em seu país por pouco mais de um ano. Foi acometido por um câncer no osso do rosto e tudo que ganhou foi gasto para minimizar as dores até sua morte.
Melhor sorte teve outro mantenense, que migrou há mais de 20 anos e, embora ainda não tenha conseguido o green card, vive muito bem por lá, com sua família, mas não pode retornar ao país, pois, corre o risco de não ter como voltar.
Sobre a forma de migração usada pela maioria, ele diz achar abusiva a quantidade de dólares que cobram por pessoa e as formas que empregam para receber. “Aqui tem muito trabalho. Pagam no mínimo 15 dólares a hora trabalhada. Ganha-se dólares, mas gasta-se em dólares também. Nem todos que vêm tem a sorte de fazer sobrar dinheiro. Vive-se bem, de qualquer forma. Mas, ficar rico é outro detalhe. Trabalho pesado, bem remunerado. Segurança, saúde. Isso é o que nos segura aqui, pelo menos até que tenhamos governantes que sejam patriotas o suficiente para garantir aos brasileiros a segurança financeira e emocional para se viver no Brasil”, opina.
Outro mantenense que não quis emigrar, ficou sozinho, ou melhor, apenas com duas filhas no Brasil. As duas irmãs foram embora há décadas, junto com os maridos e filhos. Vivem por lá e não querem saber de voltar. Até a mãe, que tem problemas sérios de saúde, está nos Estados Unidos e, segundo ele, bem cuidada pelas filhas e genros, com total apoio do governo norte-americano.
De Barra de São Francisco, há que citar o jovem José Antônio da Mata, filho do falecido Antônio da Mata, que foi um dos homens mais ricos da cidade na década de 80. Um outro irmão, Mauro da Mata, que foi secretário de Obras na gestão passada, também esteve por lá, mas acabou deportado, segundo informações obtidas pela nossa reportagem.
José Antônio, no entanto, vive o sonho americano e comprou terra na região do Itaúnas, logo após a AABB, onde o irmão deportado construiu uma belíssima morada. Bastante politizados, José Antônio da Mata e seu irmão Mauro são fãs do presidente Jair Bolsonaro.
Mais recentemente, outro francisquense, Jaconias Gervásio, deixou Barra de São Francisco, junto com a esposa, para viver o sonho americano. Foi embora em silêncio, parece que apenas a família sabia da sua decisão antes de partir.
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Mas, para encerrar esse texto, vamos citar um goiano, Samuel Andrade, de Carmo do Rio Claro, homossexual assumido, casado, como deixa claro em sua página no Facebook, onde nos brinda com uma lição, em tom de brincadeira, mas de forma bem honesta: “Rapadura é doce, mas não é mole não. Se você quer vir, não venha pelo México, vendendo tudo o que tem, ficando endividado. Depois dá errado você não tem nem como voltar, nem os parentes te ajudam. Venha com visto, porque se der errado você tem como voltar. Não venha iludido, venha ciente de como é realmente aqui na América.” Assista o vídeo dele no link abaixo:
https://www.facebook.com/100000551661048/videos/2542263422468688/
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