Weber Andrade*
Várias são as histórias sobre como surgiu a expressão e quando ela foi utilizada pela primeira vez. Porém, a mais aceita pelos livros de história trata do ano 1905, sendo esta referente ao baile na Ilha Fiscal no Rio de Janeiro, em que os indivíduos mais poderosos da região se aglomeravam, algumas poucas vezes no ano. Eles se tornavam cada vez mais odiados pela população local. De maneira resumida, a frase referida sintetiza o fim melancólico da monarquia no Brasil.
Na década de 80, já quase no final, quando cheguei a Governador Valadares em busca de trabalho, a frase estava em alta e foi título até de uma peça teatral exibida no Atiaia, o teatro municipal, no centro da cidade.
Na altura, a emigração de valadarenses para os Estados Unidos estava bombando, para usar uma expressão que também começou a aparecer por lá, pouco tempo depois, como jargão dos praticantes do voo livre, que assim se referiam às termais – ondas de ar quente que saem do solo para se condensar na atmosfera e formar as nuvens, e são fundamentais para que urubus e aparelhos de voar, como as asas deltas e os parapentes, ganhem altura sem muito esforço.
Naquela época, a ressaca do governo Sarney e a desesperança do brasileiro com a morte de Tancredo Neves, deu força a uma onda de emigração a partir de Governador Valadares, mas com ramificações em vários outros municípios e Estados do país, inclusive o Espírito Santo.
Tancredo Neves, segundo as teorias da conspiração, teria sido envenenado pela direita, pelos militares, para não governar. A história parece querer se repetir agora, de forma um tanto quanto perversa, mas com muita semelhança.
Hoje, 4 de janeiro de 2022, a jornalista Eliane Cantanhêde, colunista política de O Estadão, publicou artigo relacionando a situação do atual mandatário brasileiro, Jair Messias Bolsonaro, com a de Tancredo Neves, Sarney e Fernando Collor, com sobra para Itamar Franco.
“José Sarney virou presidente porque Tancredo Neves morreu. Fernando Collor criou a ficção do ‘caçador de marajás’ e foi o primeiro presidente eleito depois da ditadura militar. Itamar Franco jamais seria eleito presidente pelas urnas, mas apostou ao virar vice de Fernando Collor e foi o homem certo na hora certa”. Diz o artigo.
Voltemos, então, à frase que começa essa minha ilação – o último a sair apague a luz -, no sentido de dedução, inferência, não conclusiva, fique claro.
Hoje, vemos um presidente que, mal chega das férias, curtidas enquanto muitíssimos baianos e mineiros morriam ou ficavam quase que totalmente desamparados por causa das chuvas, e vai direto para o hospital, alegando obstrução intestinal. Algo que se repete nos últimos anos toda vez que Messias se vê acuado pela mídia. Não digo que não esteja com problemas de saúde, deve estar, não só fisicamente.
Recentemente, aqui no www.tribunanorteleste.com, o colega e diretor do site, José Caldas da Costa, publicou texto onde informa que população equivalente a todos os moradores do Espírito Santo (4,2 milhões) deixaram o Brasil para viver no exterior e que quase metade dos jovens faria o mesmo, se tivesse condições. (Saiba mais abaixo).
Veja também
População equivalente ao Espírito Santo deixa o Brasil para viver no Exterior
A emigração de brasileiros, em particular os de Governador Valadares e seu entorno, para os Estados Unidos tem raízes profundas. Decorre de uma relação de admiração pelos norte-americanos desenvolvida no início do século 20, quando engenheiros norte-americanos aportaram no município e ganharam um bairro, com casas de madeira envernizada, onde tinham confortos inimagináveis para a época, como aspiradores de pó, liquidificadores, ferro elétrico, geladeiras e outras máquinas que facilitavam a vida das trabalhadoras domésticas.
Se não me falha a memória, a mãe de José Caldas da Costa, dona Eunice Caldas, chegou a trabalhar numa dessas casas, como doméstica, e a história diz que muitas dessas mulheres simples foram levadas posteriormente pelos norte-americanos para o seu país, porque tinha-se criado uma situação afetiva muito forte. As mães, depois levaram os filhos, os filhos buscaram netos, e estava feita a ponte entre a nossa região subdesenvolvida e a maior nação do mundo.
Voltando ao final de década de 80, o desespero com o Brasil e a familiaridade com os Estados Unidos provocaram nova onda de emigração para os EUA que, desta vez, teve contornos mais dramáticos: Iniciou-se a exploração comercial e ilegal da rota, com os brasileiros, particularmente os de Governador Valadares, descobrindo-a via México.
Fortunas se formaram e muitos dos agentes brasileiros de facilitação da emigração ilegal adquiriam também o poder, através de eleições, onde se sagraram prefeitos de suas cidades, sempre no entorno de Governador Valadares.
Foi quando veio à tona a expressão na chamada Princesa do Vale: ‘O último a sair apague a luz’.
Esse texto, fique claro, não tem a intenção de aprofundar o assunto, o que iria requerer pesquisas e citações de autores que já escreveram e historiaram o tema.
Trago o assunto à tona para corroborar reportagens que publicamos agora, sobre a nova onda de migração que deixou, aparentemente, de ter Governador Valadares como eixo e migrou para municípios como Itabirinha, Central de Minas, Cuparaque, Conselheiro Pena e, por último, Mantena, em Minas Gerais, além de Barra de São Francisco, Água Doce e Mantenópolis, no Espírito Santo, todos próximos e interligados.
Na semana que passou publiquei matéria sobre a possível intervenção da Polícia Federal em Mantena, dado que o município vive uma onda de migração onde alguns estão fazendo fortuna às custas de outros, que querem deixar o Brasil a qualquer custo, atraídos por uma remuneração mais ‘justa’, mas que apenas reflete o momento econômico frágil do Brasil, com o dólar batendo na casa dos 5,5 por um.
Em Mantena, onde estive nesta terça-feira, 4, pesquisando e conversando com amigos, a situação é muito parecida com a de Governador Valadares no final da década de 80, quando o município tinha poucas oportunidades de trabalho e era considerado cidade-dormitório do Vale do Aço – leia-se Ipatinga, onde a Usiminas contratava gente especializada com salários comparáveis aos dos EUA.
Agora, em Mantena, os moradores estão divididos, mas muitos estão pagando fortunas para chegar aos Estados Unidos, decepcionados com um país que não lhes dá oportunidade real de vida digna. E muitos repetem por lá: O último a sair, apague a luz.
*Weber Andrade é editor de conteúdo do site tribunanorteleste e foi editor geral do Diário do Rio Doce, em Governador Valadares, nas décadas de 1990 e anos 2000.
Comente este post