Usiel Carneiro de Souza*
Esta frase me provocou. Numa tradução livre: “Eu não fico preocupado com drag queens, a menos que veja um com um rifle de combate”. Ela vem do contexto americano em que o lobby armamentista conta bastante com evangélicos conservadores. Os mesmos que têm nas drag queens o estereótipo do mal.
Minha criação foi modelada pelo ambiente religioso e, naturalmente, as questões da sexualidade humana foram mal elaboradas. O sexo é o pecado na mente religiosa. E isso fertiliza o solo da imaturidade e indispõe para a reflexão, gerando mais preconceito que consciência.
As drag queens serem um risco para os mais jovens é apenas um julgamento e não um fato. A mão frouxa do Estado no controle da venda de armas coloca em risco os mais vulneráveis. Isso é um fato e não um julgamento. Mas falta senso crítico ou sobra desonestidade em muitos religiosos.
O que nos indigna? O que provoca nossa revolta interior? De que lado ficamos e por quê, quando a polêmica se instala?
Diariamente, acontecem cenas cruéis em nossa sociedade. De repente estão ali, diante de nós! Impossível não ver pessoas revirando latas de lixo, abusos contra crianças, descuido com os mais vulneráveis, pessoas inescrupulosas, violentas, preconceituosas, ativamente cuspindo na dignidade humana…
Estamos diante da disputa de opiniões sobre a PL das Fake News! Por que somos contra ou a favor? Já lemos o texto? Precisamos ou não de uma medida urgente em relação a elas? Temos nos esforçado para pensar com clareza ou somos dominados pela paixão?
Viram médicos tripudiando da Ministra Maria Silva, que foi acometida por Covid? Chegando a dizer: “Espero que o vírus esteja bem”! Médicos! Que juraram lutar pela vida! Está tudo bem com isso? Justifica-se só porque “não gosto dela”? Temos tido escrúpulos para não comprometer o inegociável? Temos colocado a vida acima das discordâncias?
Já lacramos a certeza de que “bandido bom é bandido morto” trata-se de absurdo ético e moral? E, na visão cristã, uma ofensa contra Deus?
O que nos indigna? A quantas andam nossa ética e nossa moral? Que sociedade estamos contribuindo para que se estabeleça?
Precisamos da força da reflexão e não da violência da reação!
* Usiel Carneiro de Souza é teólogo, administrador e pastor da Igreja Batista da Praia do Canto (Vitória – ES)
Comente este post