José Caldas da Costa*
Minha Pátria é a mãe que me acolhe, a minha casa. Nação é o grupo a que pertenço, minha família, meus amigos. Nem patriota nem nacionalista, mas ser humano, cuidando do espaço que é de todos nós. Pertencendo ao lugar e ao grupo social e deles cuidando.
Reconheço. Humanos são simbólicos. Parecem ter uma estrutura psíquica que demanda símbolos para sentir-se parte de, e pertencente a.
Minha geração cresceu sob a imposição desses símbolos. Muitos de nós nunca mais conseguiram escapar dessa prisão. Lembro dos desfiles do Dia da Pátria. Gostava, porque era uma forma de ser incluído, de receber elogios. Criança precisa dessa afirmação.
Quando jovem, apreciei o serviço militar. Modéstia à parte, dei o meu melhor. Liderei tudo. Era até bom de tiro. Mas nunca mais atirei na vida. Não vejo o menor sentido. Amava ser o guarda bandeira. Chorava nas solenidades enquanto cantava o Hino Nacional e hasteava o “pavilhão”.
A História mostra várias nações sem Pátria. Antes do território vem o grupo. Antes do grupo, o indivíduo. Juntamo-nos e viramos uma sociedade. Se não houver empatia, humildade, sentimento de que somos humanos, com forças e virtudes, mas também defeitos e fraquezas, viveremos a esquizofrenia social.
Tudo isso são reflexões para o Dia da Independência. Um movimento de uns poucos fixado em determinado momento de nosso passado. Se ressignificarmos, talvez consigamos avançar numa sociedade menos neurótica e comemorarmos o Dia da Interdependência.
Ah, em tempo: obrigado aos que nos trouxeram até aqui. Se eu escrevesse isso nos meus tempos de criança, talvez não houvesse amanhã.
Pertençamos mais.
* José Caldas da Costa é jornalista, geógrafo, escritor e diretor geral do tribunanorteleste.com.br
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