Weber Andrade
“Meu pai conta que por aqui, só havia tratadores e eu fui levado até um deles, não me lembro o nome, mas o tratador disse que não iria adiantar nada, que a doença não tinha cura. Mas, como eu era o único filho, ele decidiu me levar até Barra de São Francisco, até o doutor Fenelon e, ao me examinar e medicar, ele disse que se eu tivesse demorado mais uma hora pra chegar, talvez não me salvasse.”
O relato é do produtor rural da região do distrito de Santo Antônio (Tatu), Adilton Gonçalves, 70 anos, por quatro vezes eleito vereador em Barra de São Francisco, que, aos oito meses de idade chegou a ser desenganado pelos ‘tratadores’, por conta da meningite, doença infecçiosa grave que pode ser causada por vírus, bactérias e fungos e por isso a transmissão pode ocorrer de pessoa para pessoa através de secreções e gotículas de saliva, bem como através de objetos e ambientes contaminados.
“Felizmente, eu escapei sem sequelas, mas, anos mais tarde, fui saber que dezenas de crianças, principalmente de famílias alemãs (luteranas), morreram devido à meningite aqui no distrito de Santo Antônio. Tem até um cemitério luterano, apesar de ser chamado de cemitério de São Pedro, onde estão os pequenos túmulos, mas no cemitério da sede do distrito também há muitas vítimas da doença enterradas”, relata Adilton.
O produtor rural conduziu a nossa reportagem até o cemitério de São Pedro, onde pudemos constatar uma grande quantidade de túmulos, muitos já com as informações sobre os mortos ilegíveis, mas também muitos outros com sobrenomes conhecidos na cidade, como os Holz, os Binow, Golt, Gebert e Beling, entre outros.
Na maioria dos túmulos, crianças que morreram no dia do nascimento ou uma semana, um mês, no máximo dois anos depois de nascidas.
“São todas vítimas da doença que teve alguns surtos, no final dos anos 1950, no início dos anos 1960 e também no início da década de 1970”, descreve Adilton.
Em rápida pesquisa na internet, nossa reportagem constatou que “a maior epidemia de meningite da história do país grassava na cidade de São Paulo nos anos 70”.
A omissão das autoridades na época, fertilizou terreno para o avanço da doença, que atingiu todos os bairros e chegou a registrar a média de 1,15 óbitos por dia. A doença se espalhou por vários Estados, inclusive o Espírito Santo.
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