*José Caldas da Costa
A ganância traiu o espanhol Joaquin Gimenez, o mergulhador profissional identificado como responsável pela tentativa de embarcar quase uma tonelada de cocaína pura para a Europa, em pacotes acoplados a compartimentos no casco de navios no Porto de Vitória. Joaquin, apelidado de Aquaman do Crime, é natural de Las Palmas, nas Ilhas Canárias, Espanha, para onde seriam destinados 60kg de uma carga que a Polícia Federal apreendeu no ano passado em Vitória, totalizando 160kg.
Agora, um dos pontos da investigação é descobrir se Joaquin Gimenez está envolvido também com essa tentativa de embarque. Com uma empresa altamente especializada, sediada em Madrid, na Espanha, ele ganhava dinheiro honestamente, até ser cooptado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), comandado das prisões paulistas pelo boliviano Marcos Camacho, o Marcola, e receberia R$ 300 mil pelo serviço executado desta vez, segundo apurou a Polícia.
A revelação foi feita no podcast do Fantástico, que reuniu o policial federal Rafael Pachedo, da Superintendência do Espírito Santo, a produtora Esther Radaelli, que trabalhou na matéria exibida na noite deste domingo (23) no Fantástico, programa da Rede Globo, além do jornalista Evandro Siqueira, repórter especialista em grandes investigações, e do apresentador Murilo Salviano.
Rafael Pacheco contou para o programa que a Polícia Civil de São Paulo tinha a informação de que um navio sairia com um carregamento de drogas do porto de Santos e resolveu monitorar, quando às 2 horas da manhã do dia 11 de janeiro flagrou dois homens em roupa de mergulho caminhando numa viela que dá acesso às águas do porto. Os dois saíram correndo em direções diferentes e os policiais alcançaram o homem certo: o espanhol Joaquin Gimenez.
No primeiro momento, os policiais não encontraram nada de ilegal com o espanhol, mas, ao cruzar informações com a Polícia Federal, descobriu que ele tinha uma ordem de prisão em aberto emitido pela 1ª Vara da Justiça Federal de Vitória. Então, cumpriram o mandado de prisão. Agora, o espanhol será transferido, em data mantida em sigilo, para o Espírito Santo, onde será julgado e poderá pegar de 15 a 20 anos de prisão. A pena será cumprida no Brasil.
Mas as investigações não param. Pacheco informou que ainda existem informações a serem levantadas e que o caso deverá render mais 60 dias de trabalho. Também serão repassadas informações para agências policiais da Europa para que desdobre as investigações, pois havia oito rótulos nos pacotes com 900kg de cocaína apreendidos em duas operações pela Polícia Federal em Vila Velha, nos dias 7 e 8 de dezembro.
“Isso significa que oito organizações estavam associadas na operação. Eles fazem assim para, em caso de perdas, elas não se concentrarem em apenas uma organização”, disse Pacheco, reafirmando que ficou comprovado que o contratante foi o PCC.
De maneira informal, Joaquin Gimenez contou para os policiais civis de São Paulo que ele mesmo retiraria a droga no seu destino. “É um elemento ganancioso, que não quis compartilhar os ganhos com mais ninguém. Ele mesmo cuidaria de tudo. Colocaria a droga no Brasil, acompanharia a viagem pela internet e viajaria para fazer a retirada no destino, na Espanha. Uma viagem dessa dura 18 dias, tempo suficiente para ele se deslocar e completar o serviço. Lá, a mercadoria seria imediatamente distribuída com as oito organizações”, disse Pacheco.
Detalhes da operação foram revelados. Apelidado de “Aquaman do Crime”, por sua extrema habilidade, o espanhol afixaria as drogas na chamada caixa de mar, que é por onde entra a água que é sugada por uma bomba para resfriar máquinas da embarcação. Joaquin retirava a grade de proteção, afixava os pacotes com uma anilha para que não boiassem, e depois fechava de novo a grade. Como já sabia os detalhes, no destino ele mergulhava e fazia a logística inversa, retirando a droga para distribuição.
A prisão de quatro elementos em Vila Velha no dia 7 de dezembro levou ao desbaratamento da quadrilha, que até agora tem oito pessoas devidamente identificadas. Com esses elementos foram apreendidos celulares, onde foram encontradas gravações das operações. Outro três elementos foram presos em São Paulo e, por fim, o espanhol que comandava o esquema. “Agora, queremos descobrir se há mais gente envolvida ou se fechamos o circuito”, disse Pacheco.
A Polícia investiga também se esse esquema de embarque de drogas, comum em outros portos do mundo, era utilizado em outros portos brasileiros e se Vitória passou a ser utilizada depois o cerco se fechou sobre os criminosos em outros locais. (Com informações da Polícia Federal, do Fantástico e do Podcast do Fantástico)
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