Parece cedo para falar de eleições que “somente” acontecerão em outubro, mas fato é que quem está no ar não quer sair da velocidade de cruzeiro e quem está no chão não quer perder o contato visual. E quem está no ar, nesse momento, no Espírito Santo é a candidatura natural do governador Renato Casagrande à reeleição, ainda que não anunciada diretamente. Todos os demais pretendentes estão apenas taxiando. Alguns somente anunciaram seu plano de voo, estudam o clima, mas sequer saíram do hangar.
A coluna tem conversado com diferentes analistas de cenário e este parece o mais plausível, assim como uma constatação: no Estado, o palco está sendo preparado visando a provocar um segundo turno, quando o jogo zera e sofre outras influências.
Na interlocução, foi incluída a consultora política Lúcia Dornellas, que foi deputada estadual entre 2011 e 2015 pelo PT, mas que hoje está fora do partido. “Ganhei coragem e parti para minha consultoria, que é o que sempre gostei de fazer”, contou Lúcia para a coluna, admitindo que ser deputada nunca fez parte de seus planos.
“Eu sempre gostei de atuar mais nos bastidores, mas acabou surgindo a oportunidade. Depois, você fica marcada. Tenta trabalhar para o partido com que se identifica, mas sempre há a desconfiança de que o que pretende mesmo é ir para uma candidatura. Por isso, deixei o partido ano passado, quando estava dando consultoria para uma candidatura em Cariacica que não era a do partido”.
A conversa foi boa e o conceito de que “ninguém decolou” foi reforçado por Lúcia, que vê o governador na frente, mas não o suficiente para se achar ungido. Com experiência, Lúcia fala que tudo vai depender de quem for eleito presidente da República, ou quem for cacifado para o segundo turno de Presidente. “Eleição é disputa de poder. No cenário de hoje, Lula seria eleito em primeiro turno. Bolsonaro e Moro disputam o mesmo eleitorado, então Lula tem e vai ter peso”, disse a ex-deputada, que conhece bem a cultura de seu antigo partido.
E esse peso pode ser jogado em cima da provável candidatura do senador Fabiano Contarato ao governo. Ele não foi para o PT para ser coadjuvante e a aliança PSB-PT no Estado enfraqueceu no último pleito, quando o PT não era exatamente um aliado desejado. Sem contar que, em 2014, João Coser levou o PT para o lado de Paulo Hartung, que derrotou Renato. Hoje, de novo no Anchieta, o governador tem a força da máquina e um partido de difícil relacionamento.
Usando a figura de linguagem do início dessa abordagem, Renato Casagrande está com o jumbo no ar e tenta encher o tanque de combustível em pleno voo, com mais de R$ 2 bilhões para investimentos em 2022. Mais do mesmo na “velha e boa” política brasileira.
Mas no chão estão os caças que estarão em seu encalce: Fabiano Contarato (eleito pela Rede e recém-filiado ao PT), César Colnago (PSDB), Guerino Zanon (de saída do MDB), Felipe Rigoni (eleito pelo PSB mas de saída para o União Brasil, que é a fusão de PSL e DEM), Audifax Barcellos (Rede) e Erick Musso (Republicanos). Além de Carlos Manato, em partido a definir.
Contarato oferece riscos à reeleição de Casagrande? E somente ele oferece? A conjectura está feita.
(Por Weber Andrade e José Caldas da Costa)
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