José Caldas da Costa*
Numa aventura digna de um romance shakespeareano, a menina se encanta por um príncipe de olhos azuis e atravessa o Atlântico num voo incerto seguindo seu coração.
O conto de fadas tupiniquim, porém, é às avessas e, diferentemente do que narraria o genial dramaturgo inglês, não se dá entre uma plebeia e um nobre que se observam numa caminhada pelas trilhas de uma floresta das ilhas britânicas ou na Baviera.
O encontro se dá pelos caminhos virtuais, entre chips, bytes, wi-fis, mouses, teclas, telas e brilhos. São as almas que se encontram como se viajassem pelos caminhos digitais à velocidade de teras ou algo que se lhe equivalham.
O avesso do avesso ocorre numa improvável aventura que envolve, de antemão, a disrupção da ordem natural das coisas. Ignorando o temível vírus, que mudou a vida no planeta, a menina rompe o mundo da imaginação para dar vida física ao seu sonho.
E voa. Um voo de mais de duas semanas para além do Atlântico, contrariando a lógica, deixando para trás apenas o seu perfume no travesseiro sobre a cama arrumada e o sorriso congelado na foto da parede do quarto na casa dos pais.
Ganha o mundo. O aeroporto de Istambul ganhou sua sonora gargalhada nas longas horas de espera depois da conexão perdida para sua primeira temporada, em cumprimento à quarentena imposta pelo seu país de destino.
Tempo suficiente para, como num encontro de pássaros barulhentos, fazer novas amizades com outros de sua tribo e, juntos, encherem de uma alegre algazarra o café do aeroporto do País das tâmaras e doces maravilhosos.
Como num roteiro escrito por mãos divinas, onde sempre duas almas gêmeas se encontram no caminho romântico para que a história não fique sem testemunha, lá se vão as duas, ela e a nova amiga, para a próxima parada em Zagreb. E nossa menina só falando a língua nativa e um elementar inglês para viagem.
A beleza natural das montanhas, vales e mares e de sua histórica arquitetura medieval contrasta com um certo atraso econômico da Croácia em relação ao Ocidente, depois do desmembramento da improvável Iugoslávia, não sem dramáticas histórias de lutas ao fim da Cortina de Ferro que dividiu a Europa e o mundo após a segunda grande guerra.
E nossa menina pôde viver tudo isso pelas duas semanas que durou a sua quarentena forçada no pequeno país da Europa oriental. Num regime de reclusão quebrado os dois últimos 7 dias, tomados de passeios marcantes junto com sua nova amiga quase irmã. Situação mais que normal para os pais distantes, capazes de selarem sólidas amizades por uma vida inteira, apenas com poucas horas de contato. Cavaco não voa longe do pau.
Cumprido o tempo, eis que novo pássaro metálico vai levá-la, finalmente, aos braços e abraços de seu príncipe de olhos azuis.
Isto é apenas um spoiler do romance de aventura que virá no futuro, pois o que importa é que, depois do voo incerto, das dúvidas e ansiedades dos que aqui ficamos, eis que chega o dia da concretização do sonho de nossa princesa a milhares de quilômetros de distância, literalmente num reino pequeno e próspero.
Nossa alma está em paz. Coração de pai e de mãe não se enganam quanto ao que sentem filhos e filhas. E nossa Lídia está feliz ao lado de seu Dietrich De Baerdemaeker, e de sua nova família na Bélgica. Nossa alma se une à dela e de seu marido neste sábado (17.09.2022), às 11 horas locais (6 horas de Brasília), na cerimônia de casamento civil sob as leis belgas.
Em breve, a gente se encontra para beijos e abraços e gostosos afagos, e sonoras gargalhadas. Que Deus vos abençoe, Lidia e Dietrich. Sua família se alegra com essa conexão belgo-brasileira, levando para além-mar o calor e o amor do “Reino dos Caldas”.
*José Caldas da Costa é escritor, geógrafo, jornalista e diretor geral do site tribunanorteleste.com.br
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