As polícias Federal e Civil da Bahia estão investigando o assassinato de uma das principais lideranças quilombolas. Maria Bernadete Pacífico tinha 72 anos e estava à frente da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Quilombolas. Mãe Bernadete, como era conhecida, era ialorixá – uma líder religiosa do candomblé. Ela foi assassinada em casa, no Quilombo Pitanga dos Palmares, na noite de quinta-feira, 17, em Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador.
Testemunhas contam que Mãe Bernadete estava na sala, vendo televisão, em companhia de três netos adolescentes, quando dois homens chegaram de moto e invadiram a casa. Eles usavam capacete para não serem reconhecidos. Ainda de acordo com testemunhas, os homens tiraram os netos da sala, executaram Mãe Bernadete com vários tiros e fugiram.
Um crime parecido com o do filho dela. Flávio Gabriel foi assassinado há seis anos. Na época, ele era líder da comunidade Pitanga dos Palmares. Há três anos, a Polícia Federal assumiu as investigações. O crime permanece sem solução. O outro filho de Bernadete, Wellington, diz que a mãe vinha recebendo ameaças.
“Foi o crime de mando, porque ninguém vai lá pegar uma idosa e dar 12 tiros em uma idosa sentada que só faz o bem”, diz o filho da ialorixá, Wellington Moreira.
Uma das linhas de investigação da polícia é o conflito pela posse da terra, onde está o quilombo. São 852 hectares. Em nota, o Incra da Bahia disse que o processo de titulação está na fase de notificação de proprietários e posseiros dos imóveis rurais que estão dentro das terras do quilombo. Mas a polícia não descarta outras possibilidades.
“Uma possível ameaça, uma possível atuação do tráfico de drogas local ou, então, o fato do crime ter acontecido também nessa comunidade quilombola, se há alguma correlação entre a atuação da vítima dentro dessa comunidade”, diz a delegada Andrea Ribeiro.
Em julho, Bernadete participou de um encontro com a presidente do STF – Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, e denunciou ameaças e violências contra a comunidade quilombola.
O Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União enviara um ofício à Presidência da República e ao Governo da Bahia para que sejam adotadas, em caráter de urgência, medidas para a proteção dos territórios quilombolas no estado.
Nas redes sociais, o presidente Lula afirmou que a líder religiosa cobrava justiça pelo assassinato do filho e que o Governo Federal, por meio dos ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e Cidadania, mandou representantes, e que aguarda a investigação rigorosa do caso.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, falou da importância de se combater a intolerância religiosa.
“É importante dizer que o ataque contra terreiros e o assassinato de lideranças religiosas de matriz africana não são pontuais. E é por isso, por esses motivos, que no Ministério da Igualdade Racial tem um profundo compromisso com todo o povo de axé. Desde o início, desde o princípio desse ministério”, diz a ministra.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, do PT, se comprometeu em apurar o crime, se solidarizou com a família e afirmou que não vai permitir que defensores dos direitos humanos sejam vítimas de violência.
Pela manhã, representantes do movimento negro e várias associações fizeram uma manifestação na frente da Corregedoria da Polícia Civil da Bahia para cobrar justiça e respostas sobre o assassinato da ialorixá.
O velório de Mãe Bernadete reuniu centenas de moradores, lideranças quilombolas e autoridades. (Da Redação com g1 Bahia)
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