*José Caldas da Costa
Houve uma explosão de violência na pequena cidade de Vila Valério, na região Noroeste do Estado, nos dois primeiros meses do ano. Enquanto todo o Espírito Santo teve uma redução 14,6% no número de homicídios em janeiro e fevereiro de 2022, a cidade, um dos maiores produtores de café conilon do País, esses números cresceram 700%, saltando de apenas um em 2021 para oito em 2022.
Para isso muito contribuiu a chacina de duas semanas atrás, quando quatro pessoas foram assassinadas numa mesma casa, no interior do município, supostamente por traficantes de Jaguaré, município vizinho, que parece estar “exportando” essa violência para além de suas divisas. No ano passado, Jaguaré teve 12 assassinatos nos dois primeiros meses do ano, mas em 2022 esse número caiu para quatro, uma redução de 66,7%.
Numa projeção universalmente adotada de número de homicídios por 100 mil habitantes para o ano, mantendo-se essa média dos dois primeiros meses, Vila Valério projeta o índice absurdo de 341,3 homicídios por 100 mil habitantes para 2022. Para efeito de comparação, o Espírito Santo, que teve 164 homicídios em janeiro e fevereiro, contra 192 no ano passado, projeta para o ano 23,95 mortes por 100 mil.
Em 45 dos 78 municípios capixabas não ocorreram homicídios nos dois primeiros meses do ano. No ano passado, eram apenas 34 municípios sem homicídios no mesmo período. O Espírito Santo registra a média parcial de 2,5 homicídios por dia, é a mais baixa média desde 2017, quando foram registrados 8,1 homicídios nos dois primeiros meses do ano.
Esse número de 2017 foi puxado pelo banho de sangue ocorrido durante a greve da Polícia Militar, que durou três semanas no mês de fevereiro e provocou mais de 200 mortes no Estado. Naquela ocasião, o Estado precisou recorrer ao Exército para patrulhar as ruas das cidades, enquanto os dirigentes políticos tentavam pôr fim ao movimento. Tirando esse fato, a média oscilou entre 3,0 e 3,6 homicídios/dia.
REGIÃO NOROESTE
A região Noroeste teve redução de -9,1% no número de homicídios em janeiro e fevereiro, de 33 em 2021 para 30 em 2022. São 514.246 habitantes, a segunda maior população depois da Grande Vitória, distribuídos em 21 municípios e três Ações Integradas de Ações de Segurança.
Com 188.366 habitantes, a região da AISP02 continua a mais violenta do Noroeste, com 17 homicídios em janeiro e fevereiro de 2022, uma redução de -10,5 em relação aos 19 de 2021. Vila Valério teve o pior desempenho, subindo de um homicídio em 2021 para oito em 2022. Se não tivesse havido a chacina de quatro pessoas há duas semanas, ainda assim o município estaria muito mal.
A criação de uma companhia independente da Polícia Militar em Pinheiros parece estar surtindo efeito. A cidade teve uma redução de -57,1% no número de homicídios, de sete em 2021 para três em 2022. Outra cidade coberta pela companhia, Boa Esperança, teve dois no ano passado e nenhum em 2022. Juntando as duas cidades, foi uma redução de -66,7%.
Nova Venécia teve cinco em 2021 e dois em 2022, uma queda de 60%. São Gabriel da Palha manteve este ano os mesmos três homicídios de 2021. Montanha teve um no ano passado e zero este ano, enquanto Mucurici teve zero ano passado e um este ano. Vila Pavão e Ponto Belo não registraram homicídios nos dois primeiros meses do ano tanto em 2021 quanto em 2022.
BARRA DE SÃO FRANCISCO
Barra de São Francisco, com 45.301 habitantes, é a maior cidade da AISP11 e teve uma redução de -66,6% no número de homicídios, de três em 2021 para um em 2022. A região sob comando da 14ª Delegacia Regional de Polícia Civil e do 11º Batalhão da Polícia Militar teve redução de -16,7%, de seis para cinco homicídios.
Águia Branca é o destaque, com zero homicídios nos dois primeiros meses dos dois anos. Água Doce do Norte registrou um homicídio em 2021 e um em 2022. Ecoporanga reduziu de dois para um e Mantenópolis foi o destaque negativo, tendo zerado em 2021, mas já teve duas mortes em 2022. A AISP11 é responsável pela segurança de 104.124 pessoas.
AUMENTO NA REGIÃO METROPOLITANA
Apesar desses números acentuados de Vila Valério, todas as regiões do interior do Estado registraram queda no número de homicídios neste início de ano, considerando-se os números do painel de homicídios da Secretaria de Estado de Segurança Pública. Destaques para as regiões Sul e Serrana do Estado.
Na Região Metropolitana da Grande Vitória (Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica, Guarapari e Viana), porém, houve uma elevação de 6%, saindo de 83 em janeiro/fevereiro de 2021 para 88 em 2022. A região tem 2.010.688 habitantes.
Isso reflete uma explosão de crimes contra a vida em Vila Velha, com aumento de 156,25%, saindo de 16 homicídios em janeiro/fevereiro de 2021 para 41 no mesmo período em 2022. A cidade tem 508 mil habitantes e respondeu por 47% dos homicídios registrados na Grande Vitória.
Em Vitória, houve queda de nove para seis (-33%), em Cariacica de 29 para 20 (-31%), em Viana de quatro para três (-25%), em Serra de 19 para 15 (-21%), e em Guarapari de seis para três (-50%).
REGIÃO NORTE
A região Norte, com 611.499 habitantes e três áreas de Ações Integradas de Segurança Pública (AISP), registrou queda de -25% no número de homicídios nos dois primeiros meses do ano. O destaque ficou por conta dos municípios de Fundão e Jaguaré, que tiveram reduções significativas, mas também Rio Bananal, o único município a não ter registro de homicídios no mesmo período tanto em 2021 quanto em 2022.
O melhor desempenho foi da AISP13 (São Mateus, Conceição da Barra, Pedro Canário e Jaguaré), que reduziram em mais de 50% os homicídios: 23 em 2021 para 11 em 2022. Conceição da Barra caiu de três para zero, Jaguaré de 12 para quatro, São Mateus de oito para seis. Pedro Canário foi o único a aumentar: de zero em 2021 para um em 2022.
Na região da AISP12 houve ligeiro aumento 7,7%, de 13 para 14 homicídios. Linhares fico no zero a zero, com 11 em 2021 e 11 em 2022; Sooretama aumentou 50%, de dois para três; e Rio Bananal zerou os homicídios nos dois primeiros meses, tanto em 2021 quanto em 2022.
Na AISP05 (Aracruz, Fundão, Ibiraçu e João Neiva) houve aumento de 25%, de quatro em 2021 para cinco em 2022. O pior desempenho de toda a região Norte foi de Aracruz, que em 2021 não teve nenhum homicídio nos dois primeiros meses, mas em 2022 registrou quatro. Fundão teve três no ano passado e zero em 2022, Ibiraçu teve zero em 2021 e um em 2022, e João Neiva teve um em 2021 e zero em 2022.
CAPARAÓ: TERRITÓRIO DE PAZ?
A região Sul, com 22 municípios distribuídos em quatro AISPs, teve o melhor desempenho do Estado, com redução de -72% no número de homicídios nos dois primeiros meses do ano, caindo de 25 em 2021 para apenas sete em 2022. Em dez municípios não foram registrados homicídios em janeiro e fevereiro, tanto em 2021 quanto em 2022.
Na AISP03, que cobre oito municípios da região do Caparaó, não houve um único homicídio nos dois primeiros meses deste ano, enquanto em 2021 foram três (dois em Guaçuí e um em São José do Calçado). Portanto, essa região, com 112.672l habitantes, é o território de paz do Espírito Santo neste início de 2022: Alegre, Apiacá, Bom Jesus do Norte, Divino de São Lourenço, Dores do Rio Preto, Guaçuí, Jerônimo Monteiro e São José do Calçado.
O Caparaó somente não será chamado, totalmente, de território de Paz por causa dos quatro homicídios ocorridos em Iúna, que, no entanto, está, para efeitos estatísticos, na região Serrana.
A AISP19, com 81.426 habitantes, foi outra região de ótimo desempenho nos dois primeiros meses do ano, não havendo um único homicídio em Anchieta, Piúma, Alfredo Chaves e Iconha, enquanto em 2021 foram cinco (três em Anchieta, um em Alfredo Chaves e outro em Piúma. Iconha zerou os dois anos.
A AISP18, com 97.587 habitantes, teve uma queda de -77,8% no número de homicídios, de nove em 2021 para apenas dois em 2022, sendo um em Itapemirim e outro em Marataízes, cidades contíguas, no litoral sul. Em 2021, as duas cidades também haviam sido as mais violentas da região, com cinco homicídios em Marataízes, três em Itapemirim e um em Rio Novo do Sul. Presidente Kennedy zerou nos dois anos.
A maior população é a da AISP09, com 325.857 habitantes. E nelas a redução foi de-37,5% no número de homicídios, de oito em 2021 para apenas cinco em 2022, todos eles ocorridos em Cachoeiro de Itapemirim, que no período do não anterior havia tido quatro. Vargem Alta, Mimoso do Sul, Castelo, Muqui e Atílio Vivácqua ainda não tiveram homicídios este ano. No ano passado, Vargem Alta e Mimoso haviam tido um, e Atílio Vivácqua registrou dois.
REGIÃO SERRANA: IÚNA DESEQUILIBRA
A região Serrana, com cerca de 345 mil habitantes, distribuídas em quatro AISPs, teve queda de -18,2% no número de mortes provocadas dolosa ou culposamente. O ponto de desequilíbrio nos dois primeiros meses foi Iúna, que respondeu por quatro dos nove homicídios dentre 18 municípios.
A AISP14, com 108.307 habitantes, teve o mesmo número de homicídios do ano passado: seis. Em 2021, foram quatro em Ibitirama e dois em Ibatiba. Em 2021, foram quatro em Iúna e dois em Ibatiba. Irupi, Muniz Freire, Brejetuba e Ibitirama zeraram em 2022.
Na AISP15, com 80.336 habitantes, todos os municípios zeraram em janeiro e fevereiro de 2022: Afonso Cláudio, Conceição do Castelo, Laranja da Terra e Venda Nova do Imigrante. Em 2021, foram dois, um em Afonso Cláudio e outro em Venda Nova.
Na AISP16, com 51.261 habitantes, apenas um homicídio este ano, em Marechal Floriano, contra zero no ano passado. A região é formada apenas por Marechal Floriano e Domingos Martins.
E, por fim, a região Serrana é completada pela AISP17, com 114.629 habitantes, distribuídos em seis municípios. Queda de 33,3%, de três em 2021 para dois em 2022, sendo um em Itaguaçu e outro em Santa Maria de Jetibá. No ano passado, forma dois em Santa Maria e um em São Roque. Santa Teresa, Itarana e Santa Leopoldina zeraram nos dois anos. São Roque zerou em 2022.
Em termos de índices, a AISP08, sediada em Colatina e somando 221.756 habitantes, teve o pior resultado, com oito homicídios em 2021 e oito em 2022. Porém, na projeção por grupo de 100 mil habitantes, projeta para o ano 21,6 homicídios nos sete municípios.
Colatina aumentou de três para quatro homicídios e Baixo Guandu teve o pior desempenho, aumentando de um para três, entre 2021 e 2022. O outro homicídio deste dois primeiros meses na região foi em São Domingos do Norte, que em 2021 havia zerado. Pancas e Governador Lindenberg reduziram de dois para zero, de um ano para o outro, enquanto Marilânida e Alto Rio Novo zeraram os dois anos.
POR 100 MIL HABITANTES
As cinco regiões do Estado tiveram o seguinte desempenho, quando considerada a projeção de homicídios/ano por 100 mil habitantes, considerados os dois primeiros meses do ano:
Metropolitana – 31,1 em 2021; 25,8 em 2022
Norte – 36,4 em 2021; 36,1 em 2022
Sul – 15,7 em 2021; 16,4 em 2022
Noroeste – 25,1 em 2021; 31,1 em 2022
Serrana – 17,9 em 2021; 16,6 em 2022
*José Caldas da Costa é jornalista e geógrafo, diretor do portal Tribuna Norte-Leste
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