João Gualberto cita a segurança como fator crítico para atração de investimentos (Divulgação)
José Caldas da Costa*
O controle dos índices de violência, indicado pelos painéis estatísticos da Secretaria de Estado de Segurança (Sesp), apontando para um ambiente com maior sensação de segurança pública em Barra de São Francisco repercutiu nos meios políticos e sociais da capital capixaba. O cientista político João Gualberto Vasconcellos, que também é jornalista e economista, está acompanhando as notícias sobre políticas públicas na cidade.
“Os prefeitos são, de fato, agentes de desenvolvimento. Cabe a eles criar as condições para que novos negócios geradores de empregos, rendas e tributos se instalem em seus municípios. Criar uma boa ambiência de negócios é, pois, um dos principais elementos da boa gestão municipal. Fugir do simples assistencialismo para ingressar no campo da prosperidade para todos”, comentou João.
O cientista político, que é autor, entre outros, do livro “A invenção do coronel”, editado a partir de sua tese de doutorado, comentou sobre os elementos que compõem a formação desse ambiente propício à atração de novos negócios.
“Muitos são os elementos que compõem essa boa ambiência, seja no campo jurídico, seja no campo social. Chamo a atenção para um deles: a segurança. Nenhum empreendimento quer se instalar em terreno conflagrado. A cidade que quer receber empresas e gerar empregos, tem que investir em segurança, tem que afastar o medo, tem que ter estratégia de combate a bandidos e a marginalidade”, salientou.
LIDERANÇA
Em 2021, Barra de São Francisco apresentou o terceiro melhor índice de homicídios nos últimos 20 anos, com apenas oito homicídios. O segundo melhor foi em 2020, com sete mortes desta natureza. Da mesma forma, houve queda quase pela metade nos casos de roubos e furtos em 2020 em relação a 2019, mantendo-se praticamente nos mesmos níveis em 2021. Esse controle é atribuído à boa liderança das autoridades que estão à frente da área de segurança no município.
Autoridades ligadas à Polícia Militar, à Polícia Civil e à Secretaria Municipal de Defesa Social convergem para um fator preponderante: o trabalho conjunto entre as instituições e a liderança positiva.
Entre os anos de 2010 e 2012 houve um pico nos casos de homicídios, com 60 casos na soma dos dois anos e recorde no ano de 2012, quando houve uma sequência de crimes de mando, especialmente ligados a uma guerra entre duas famílias do distrito de Paulista, e também disputas no tráfico de drogas. Houve intervenção das autoridades estaduais, com uma ação policial de alto impacto e prisão de envolvidos. A partir de 2015 começou uma era de tranquilidade no município.
“O que muito contribuiu para a redução depois de 2012 foi a chegada da delegacia de plantão com circunscrição regional, a saída dos presos do regime semiaberto em 2013, a melhoria nas condições do hospital regional e o aumento dos efetivos da PM e da Polícia Civil”, comentou o capitão vitor Prates, comandante da Primeira Companhia e do setor de relações públicas do 11º Batalhão da PMES, instalado no município em junho de 2002. Prates está na cidade desde 2008 e acompanhou bem essa mudança de quadro.
Há uma aparente contradição entre a manutenção dos níveis de homicídio em patamares baixos desde 2015 e a defasagem no efetivo do batalhão da PM. Desde 2015, quando no governo anterior de Renato Casagrande foi formada a última grande turma de policiais no Estado, a unidade de Barra de São Francisco não recebeu reforço em seu efetivo, apesar de a população estar aumentando ano após ano.
O comandante do 11º BPM, ten cel Rômulo(C), recebe o título de cidadão francisquense: proximidade com a comunidade gera confiança
“Pelo contrário, houve uma diminuição do efetivo e operamos com defasagem de 20% no número de policiais previsto. O que mudou, internamente, foi a maior eficiência do serviço policial. A tropa do 11º BPM é disciplinada, temos um comando atuante, com diretrizes claras, que coloca o merecimento como principal forma de reconhecimento. O fato de o efetivo se identificar com a comunidade, porque o efetivo reside no município onde trabalha, ajuda, mas o que contribuiu sobremaneira foi a melhoria na gestão do serviço administrativo e principalmente operacional”, disse o capitão Prates.
Desde 27 de fevereiro de 2019 quem assumiu o comando do 11º BPM foi o tenente-coronel Rômulo Souza Dias, muito elogiado pelo secretário municipal de Defesa Social e Guarda Civil Municipal, Valmer Francisco Simões, ele mesmo capitão PM da reserva remunerada.
“O coronel Romulo bate muito na tecla da diminuição da violência, participo das reuniões com ele no Batalhão, cobra muito, as informações que chegam a mim, levo a ele, confia muito nas informações, outras informações que sabe de outros lados ele também as coleta, e as leva até a equipe de assessores dele, que são cobrados diariamente por ele”, disse Valmer.
Valmer Simões participa de reunião com o comandante do 11º Batalhão da PM (Foto: Gilberto Gil)
A Guarda Civil Municipal havia sido criada há 30 anos na primeira gestão do prefeito Enivaldo dos Anjos e não efetivada nas gestões seguintes. Ativá-la foi uma das primeiras medidas do prefeito ao assumir em janeiro de 2021, mas a pandemia da Covid e as limitações de uma lei federal que regulava o suporte financeiro para o combate à pandemia, não permitiu as contratações dos seus membros, o que vai acontecer neste primeiro semestre de 2022, segundo Valmer.
“A criação da Guarda Civil Municipal vai contribuir para aumentar a sensação de segurança, podendo colaborar com as Polícias Militar e Civil. Isso vai ajudar muito. Sei que o coronel Rômulo se preocupa muito com a segurança da cidade e da área que pertence ao 11° BPM. Ele é atencioso e tem bom de relacionamento com a gente e com o público. Acompanha tudo o que acontece na área dele, pede relatório diário, isso pode ser o ponto positivo para que houvesse a diminuição da violência em nossa área”, disse Valmer.
SOLUÇÃO
Por estar em região de divisa interestadual, Barra de São Francisco tenderia a ter índices de violência piores do que apresenta, conforme admitem as autoridades, mas é a cooperação que faz grande diferença, segundo Prates: “Temos um trabalho de inteligência e informação, com estreita integração entre a PM e a Polícia Civil, e com a própria Polícia Militar de Minas Gerais. Um trabalho integrado de inteligência e investigação, complementado por uma atuação preventiva baseada em análise criminal”.
Leonardo Forattini chefia a 14ª Delegacia Regional da Polícia Civil: de 15 homicídios, somente dois ainda não foram solucionados
Outro fator que tem sido destacado é o alto grau de solução dos crimes de homicídios, que está na faixa de 84%. Delegado titular da 14ª Delegacia Regional de Barra de São Francisco, Leonardo Forattini, disse que os sete homicídios de 2020 foram elucidados e apenas dois dos oito de 2021 ainda não têm solução.
“Mesmo com as dificuldades já conhecidas, a equipe é combativa e só descansa após solucionarmos o caso. O apoio da população é fator primordial. A colaboração por meio do 181, cujo sigilo é absoluto, sempre contribui, servindo muitas vezes de norte para nossas tomadas de decisões”, disse.
O delegado Forattini também é da opinião de que os bons resultados na área de segurança em Barra de São Francisco e região (a AISP 11 é a que tem os mais baixos índices de violência nas regiões Norte e Noroeste do Estado) “é fruto da integração total entre as polícias civil e militar. Somos despidos de qualquer vaidade, de um lado e de outro, e isso faz com que a gente trabalhe com esse conceito de integração full, tendo em mira o sistema único de segurança pública”.
DESENVOLVIMENTO
Para o capitão Prates, a área de segurança está dando sua contribuição para os novos tempos que se anunciam para a economia municipal, com a assinatura de contratos de autorização do Governo Federal para a Petrocity Ferrovias construir duas ferrovias que terão Barra de São Francisco como ponto de convergência nos próximos 10 anos. “Penso que para o desenvolvimento que teremos em Barra de São Francisco a segurança é essencial. Afinal, desenvolvimento com segurança é desenvolvimento sustentável”, disse Prates.
Em sua entrevista coletiva de final de ano, na Rádio Clube 103 FM, o prefeito Enivaldo dos Anjos disse que a cidade precisa se preparar para esses novos tempos e que a administração está focada em criar as condições para isso. “Teremos um aumento de 15 a 20 mil pessoas em nossa população em função dos novos investimentos que virão, como as ferrovias, a Unidade de Transbordo e Armazenagem de Cargas com porto seco alfandegado, e empresas que certamente virão se instalar. Isso envolve a todos”, disse o prefeito.
O cientista político João Gualberto fez menção direta à gestão do prefeito Enivaldo dos Anjos, que está completando um ano à frente da prefeitura de Barra de São Francisco, que voltou a comandar depois de 30 anos de ter sido eleito pela primeira vez (1989-1992) e de ter cumprido próspera jornada política no Estado, como secretário de Estado, deputado em cinco mandatos e conselheiro do Tribunal de Contas.
“Quando o prefeito Enivaldo dos Anjos elabora e executa seu projeto de desenvolvimento de Barra de São Francisco, ele privilegia a segurança, no que está coberto de razões”, acrescentou João Gualberto.
*José Caldas da Costa é jornalista e geógrafo, sócio-diretor da TNL
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