“Em Brasília não se fala em outra coisa: a necessidade de fechar o país por 15 dias para tentar conter a segunda onda da Covid-19.” A frase é do CEO da Petrocity, José Roberto Barbosa da Silva, em conversa com o jornalista José Caldas da Costa, organizador do Movimento Rota 381, que teve suspenso o lançamento presencial que seria realizado nesta sexta-feira, 5, em Barra de São Francisco.
O evento vai acontecer, amanhã, a partir das 10h, em formato virtual, através da plataforma Zoom, com transmissão ao vivo pelo youtube da Prefeitura de Barra de São Francisco. (https://bit.ly/2MzJEjU).

José Roberto, que viria de Brasília diretamente para uma palestra no evento, elogiou a decisão do prefeito Enivaldo dos Anjos (PSD), mentor do movimento que vai unir lideranças políticas e empresariais do norte capixaba, leste e nordeste mineiro em torno da duplicação da BR-381 entre Governador Valadares e São Mateus e implantação do corredor logístico entre São Mateus e Sete Lagoas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Ainda segundo o CEO da Petrocity, é grande a pressão de governadores e secretários de Saúde de quase todo o país por um lockdown nacional.
A situação, na verdade, vem se agravando a cada dia e, ontem, 3, o Brasil registrou outro recorde de mortes pelo Covid-19: 1.840 vidas perdidas nas últimas 24 horas, chegando ao total de 259.402 óbitos desde seu começo.
Com isso, a média móvel de mortes no Brasil nos últimos 7 dias chegou a 1.332. A variação foi de 29% em comparação à média de 14 dias atrás, indicando tendência de alta nos óbitos pela doença.
Já são 42 dias seguidos com a média móvel de mortes acima da marca de 1 mil, 7 dias acima de 1,1 mil, e pelo quarto dia a marca aparece acima de 1,2 mil. Foram cinco recordes seguidos de sábado até aqui.
Veja a sequência da última semana na média móvel:
Quinta-feira (25): 1.150 (recorde)
Sexta-feira (26): 1.148
Sábado (27): 1.180 (recorde)
Domingo (28): 1.208 (recorde)
Segunda-feira (1º): 1.223 (recorde)
Terça-feira (2): 1.274 (recorde)
Quarta-feira (3): 1.332 (recorde)
Em casos confirmados, desde o começo da pandemia 10.722.221 brasileiros já tiveram ou têm o novo coronavírus, com 74.376 desses confirmados no último dia. A média móvel nos últimos 7 dias foi de 56.602 novos diagnósticos por dia. Isso representa uma variação de 27% em relação aos casos registrados em duas semanas, o que indica tendência de alta também nos diagnósticos.
Dezesseis estados e o Distrito Federal estão com alta nas mortes: PR, RS, SC, SP, DF, MS, AC, PA, TO, AL, BA, CE, MA, PB, PI, RN e SE.
O que é o lockdown
Fechamento total, sem permissão de circulação. Esse foi um dos conceitos que aprendemos com o desenrolar da pandemia do novo coronavírus. A estratégia foi adotada em muitos países, das mais diferentes formas e com as mais distintas durações, mas no Brasil nunca chegou a ser verdadeiramente empregada.

Agora, especialistas insistem que o lockdown é necessário para evitar o colapso do sistema hospitalar. Um deles é Miguel Nicolelis, médico, neurocientista e professor catedrático da Universidade de Duke, nos EUA. Até semana passada, ele coordenava o Comitê Científico do Consórcio Nordeste para a Covid-19.
Um dos motivos para essa necessidade é o avanço descontrolado da pandemia, que está na segunda onda no Brasil.
Nicolelis alerta para a necessidade de um lockdown nacional de 21 dias – com barreiras sanitárias nas estradas e aeroportos interditados. Segundo ele, só isso pode evitar o colapso simultâneo da saúde em todos os cantos do país.

Acelerar a vacinação
Além do lockdown, o Brasil precisa acelerar a vacinação. É a imunização da população que vai conter o espalhamento da pandemia. Essa é a ação que precisamos colocar em prática urgentemente. “Vacinação, vacinação, vacinação, testagem e isolamento social”, reforça.
Nicolelis lembra que o Brasil é conhecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e por suas campanhas de vacinação. “Ninguém esperava que o Brasil fosse ter uma performance tão baixa. Poderíamos estar vacinando 10 milhões, mais do que qualquer país.” Enquanto isso, há a interrupção da campanha em várias capitais por falta de imunizantes – os obstáculos foram inúmeros: da demora na compra à burocracia para o envio.
O neurocientista ressalta, ainda, a necessidade de uma campanha de comunicação. “A gente precisa da colaboração da população.” Ele diz que as medidas de restrição de horário não têm mais efeito, porque a doença está totalmente espalhada. “Sem gente não tem economia, ninguém produz, ninguém consome.”
Colapso próximo
O neurocientista avalia que São Paulo tem menos de três semanas de reserva de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). E isso depois que outros Estados, em todas as regiões, e até o Distrito Federal já informaram que chegaram ao limite. “A população precisa acordar para a dimensão da nossa tragédia”, diz.
Nicolelis lembra que todos esperavam que a falência ficasse restrita à região Norte. “É surpreendente que o Sudeste tenha se saído tão mal”, aponta. A situação agora foi agravada porque todas as regiões tiveram aumento de casos ao mesmo tempo. “Isso significa que não tem medicação, não tem como intubar, não vai dar para transferir de uma cidade para outra, não vai ter como transferir para lugar nenhum.”
Para ele, a sociedade tem uma parcela grande de culpa, já que muitos vão a festas clandestinas e se aglomeram em baladas. Isso sem falar, claro, da negligência com o uso de máscaras: ainda tem quem se recuse a usá-la ou que a use em lugares inapropriados, como o queixo. “Nossa sociedade em algum momento perdeu a conexão com o quão irreparável é a vida.”
É preciso agir rápido
Quando olha para o futuro, o especialista vê grande chance de haver uma crise nacional. “A ausência de comando do governo federal é danosa. Isso é uma guerra: em outros países essa é a mensagem que foi dada”, diz. “Eu tenho me perguntado muito: qual é o valor da vida no Brasil? Que valor os políticos dão para a vida do cidadão se não fecham as atividades num lugar com 100% de ocupação dos leitos?”, pondera.
É verdade que as notícias são as piores possíveis, mas Nicolelis acredita que ainda é possível reverter esse quadro. “Estou propondo a criação de uma comissão de salvação nacional, sem Ministério da Saúde, organizada pelos governadores, para resolver a logística.”
E ele insiste que é essencial comprar todas as vacinas disponíveis para garantir a imunização. “Não dá para ficar discutindo, assina o contrato e vai em frente, deixa para depois”, diz. “Estamos falando da vida de 1.500 pessoas por dia. Estamos diante de um prejuízo épico, incalculável, bíblico.” (Da Redação, com informações de O Globo)
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