A polícia do Espírito Santo prendeu, na tarde desta quarta-feira (26), num bairro se Vila Velha, na Região Metropolitana, o adolescente cigano de 14 anos que está sendo apontado com quem matou a tiro sua própria mulher, da mesma idade que ele, numa comunidade cigana do Sul da Bahia, no último dia 6 de julho.
A “apreensão” do menor foi feita por agentes da Força Tarefa de Segurança Pública do Espírito Santo após troca de informações com a Delegacia da Polícia Civil de Itabela.
O mandado de busca e apreensão foi expedido pela 1ª Vara Criminal de Guaratinga, sob a alegação de que o menor praticou ato infracional análogo ao crime de homicídio qualificado (feminicídio), previsto no art. 121, § 2°, inciso VI, do Código Penal (CP), sendo decretada a sua internação provisória por 45 dias.
O menor apreendido será encaminhado para a Delegacia Especializada do Adolescente em Conflito com a Lei.
ENTENDA O CASO
Pivô da suposta vingança que teria levado ao assassinado da jovem cigana Hyara Flor Santos Alves, de 14 anos, Ricardo Silva Alves, tio da vítima, relatou que vivia, há pelo menos seis anos, um romance às escondidas com Janaína Alves, mãe do marido da jovem, principal suspeito pela morte.
Ao GLOBO, ele contou ainda que, no começo da relação, o marido da amante descobriu a traição e ameaçou matá-lo com “seis tiros na cara”. A família acredita que a jovem, morta no último dia 6 com um tiro no pescoço, foi vítima de uma trama de vingança que teria começado a ser arquitetada ainda antes do casamento.
“Eu e a Janaína tínhamos um caso há mais ou menos seis anos. Naquela época o marido dela descobriu, me encontrou e disse que ia me dar seis tiros na cara. Mas o tempo passou e agora quando soube que a minha sobrinha ia casar com o filho de Janaína, eu disse que era melhor pararmos de nos encontrar. Ficamos afastados e voltamos a nos falar há uns 90 dias. Até que aconteceu a tragédia”, afirma Ricardo.
De acordo com o tio da vítima, o romance era conhecido pela comunidade cigana de Guaratinga, onde as duas famílias vivem. Ele contou que Janaína costumava presenteá-lo com bens caros para que não a deixasse. Entre os agrados que recebeu, ele lista uma pulseira de ouro e R$ 25 mil. Apesar de não recusar os presentes, ele afirma que tentava terminar o romance, mas não conseguia porque Janaína já teria tentado se enforcar, de acordo com Ricardo, e cortava os pulsos.
“Ela me mandava fotos com vários remédios na mão falando que ia tomar. Já tentou se enforcar. Era uma situação muito complicada”, relata ele, acrescentando nunca ter imaginado que a situação pudesse terminar em tragédia.
EUNÁPOLIS
Ainda segundo Ricardo, o relacionamento extraconjugal acontecia em motéis na cidade de Eunápolis, que fica a aproximadamente duas horas de Guaratinga. A desculpa dada por Janaína ao marido para encontrar Ricardo era de que ela iria à costureira, onde mandava confeccionar suas roupas típicas.
“Todo mundo desconfiava. Eu tentava não deixar na cara, mas a Janaína não conseguia. Ela me dizia que o marido batia muito nela”.
VINGANÇA
No dia 6 de julho, a cigana Hyara Flor Santos Alves, de 14 anos, foi morta a tiros em Guaratinga, na Bahia. Ela estava casada há dois meses com seu marido, de mesma idade, apontado como principal suspeito do crime pelos familiares da vítima.
Ao GLOBO, o pai da jovem disse que acredita que o assassinato foi planejado pelo pai do genro, que não aceitava ser traído pela mulher com Ricardo, tio de Hyara. Há vídeos em que Júnior Silva Alves, pai do suspeito de ter feito disparos, aparece bebendo e manipulando uma arma preta.
“Ele sabia que minha filha era muito querida por todos da comunidade e principalmente pela família dela. Então, ele planejou casar o filho dele com a minha filha e mandou o menino matar a Hyara, porque achou que não fosse dar em nada”, defende Hiago Alves.
Os casamentos na comunidade cigana são arranjados e costumam acontecer quando os noivos ainda são bem jovens. Assim como Hyara, o marido, preso em Vila Velha (ES), tem 14 anos.
Para o pai de Hyara, a filha foi usada para a família do noivo se vingar do caso extraconjugal. Procurada pelo GLOBO, a Polícia Civil da Bahia ainda não informou se Júnior tinha ou não posse de arma. Todos os integrantes da família do noivo, inclusive a mãe envolvida no romance, estão foragidos desde o assassinato.
Conforme divulgado pelo Fantástico no último dia 16, o laudo da perícia afirma que o tiro disparado contra a jovem no dia 6 de julho foi feito por alguém a, no máximo, 25 centímetros de distância. A bala entrou pelo pescoço e ficou alojada na vértebra cervical da adolescente. O crime teria uma testemunha-ocular: o tio do noivo teria visto ele manuseando a arma.
Ainda não se sabe se o tiro foi intencional ou acidental, mas a polícia pediu à Justiça a apreensão do marido de Hyara, já que ele é menor, o que efetivamente ocorreu nesta quarta-feira (26). (Da Redação com FTSPES e O Globo)
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