Aumentou em 122% em oito anos o número de brasileiros que deixaram o País para viver no Exterior, segundo dados do próprio Itamaraty. São 4,2 milhões de brasileiros lá fora, conforme números de 2020. Isso equivale à população do Espírito Santo. E a tendência permanece em alta, pois uma pesquisa entre os jovens, feita pela FGV Social neste ano de 2021, demonstrou que quase a metade deles (47%) deixaria o País, se pudesse.
Mas, por que os brasileiros estão desistindo do Brasil? Foi o que discutiu um podcast do jornal Folha de São Paulo, que ouviu a especialista brasileira Gabrielle Oliveira, professora de Harvard que estuda os movimentos migratórios. Segundo ela, os principais destinos de brasileiros são, pela ordem, Estados Unidos e Portugal, onde um em cada quatro imigrantes são brasileiros, segundo o serviço português que cuida do assunto.
A desesperança no futuro é um dos principais motivos que empurram os brasileiros para morar fora. De acordo com Gabrielle, a questão econômica é a principal delas, mas também a instabilidade política e social.
Uma das pessoas ouvidas pela FSP, Patrícia Lemos, foi com toda a família para Portugal em busca de segurança, de não viver com a neura da violência, mesmo com um padrão de vida sete vezes menor, o que é provocado pela diferença cambial. As comunidades de brasileiros nesses países ajudam a superar a “saudade de casa”, podendo se encontrar músicas e comida típicas de qualidade por conta disso.
RISCO DE MORTE
Entrar nos Estados Unidos passou, entretanto, a ser mais arriscado, porque, se antes os brasileiros usavam o visto de turista e depois ficavam ilegais no País, hoje o maior número de pessoas que entram no País o fazem por uma arriscada travessia na fronteira do México. Risco que pode custar a vida, como ocorreu mais recentemente com Lenilda dos Santos, 50 anos, que não aguentou a travessia e foi abandonada no deserto americano sem comida e sem água pelos amigos que com ela estavam e pelo coiote que recebeu para conduzi-la.
Pessoas perdem até a vida em busca de um futuro melhor, mas o País também perde muito. Principalmente, cérebros, segundo Gabrielle Oliveira: “São cientistas desiludidos pela falta de valorização, pessoas que levam toda uma bagagem para outro País, mas o País perde também aquela mão de obra mais bruta, de trabalhadores que nunca conseguem realizar nada em seu País e vêm essa perspectiva em outro País, seja na América ou na Europa”.
18 de dezembro é o Dia Internacional dos Migrantes, assim declarado pela Organização das Nações Unidas. Neste ano de 2021, o secretário-geral da ONU, António Guterres, divulgou uma mensagem reconhecendo “as contribuições dos migrantes em todo o mundo diante de múltiplas dificuldades, incluindo a pandemia de COVID-19.”
“Migrantes continuam sofrendo estigmatização, desigualdades, xenofobia e racismo generalizados. Mulheres e meninas migrantes correm um risco maior de violência baseada no gênero e têm menos meios de obter ajuda. Com as fronteiras fechadas, muitos migrantes ficaram sem conseguir renda ou abrigo, impossibilitados de voltar para casa, separados de suas famílias e diante de futuros incertos”, disse Guterres.
O líder mundial ainda acrescentou que, “durante a pandemia, migrantes enriqueceram sociedades em todo lugar e geralmente estão na linha de frente da resposta à pandemia atuando como cientistas, profissionais da saúde e trabalhadores essenciais”.
Em 2022, o Fórum de Revisão da Migração Internacional fará o balanço do progresso realizado na aplicação do Pacto Global para a Migração Segura, Ordenada e Regular como uma oportunidade para avançar os esforços para garantir a inclusão total de migrantes “à medida que buscamos construir sociedades mais resilientes, justas e sustentáveis”.
“Precisamos de uma cooperação internacional mais efetiva e de uma abordagem mais solidária para a migração. Isso significa gerenciar fronteiras de forma mais humana, respeitar ao máximo os direitos humanos e as necessidades humanitárias de todos, e garantir que migrantes sejam incluídos nos planos nacionais de vacinação contra a COVID-19.
Isso significa, também, reconhecer o valor das vias para entrada regular tanto para os migrantes quanto para os países de acolhida. E significa abordar os fatores subjacentes que os levam a migrar, incluindo profundas desigualdades, além de combater o contrabando e o tráfico de pessoas”, completa a nota da ONU.
O número de mortes de migrantes em 2021 ultrapassou 4.470 após a notícia de que dezenas morreram na última quinta-feira quando um caminhão lotado com migrantes tombou em Chiapas, no México. Mais de 45.400 mortes foram registradas desde 2014, de acordo com o Projeto de Migrantes Desaparecidos, da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Globalmente, o número de mortes neste ano de 2021 já superou o total de 4.236 mortes registradas em 2020. Considerando que os incidentes fatais são frequentemente registrados semanas ou meses depois, o número final de mortes em 2021 provavelmente será muito maior. (José Caldas da Costa com informações da Folha de São Paulo e da ONU)
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