José Caldas da Costa*
O ex-líder estudantil Gabriel Boric, de apenas 35 anos, acaba de se eleger o mais jovem Presidente a história do Chile, no que parece ser uma nova guinada da América Latina rumo a governos com ideias de esquerda. Mas não a esquerda dos anos 70 ou 80, mas uma esquerda reformada, voltada para o “estado de bem-estar social europeu”.
É exatamente assim que se define Boric, roqueiro frustrado, que se atirou no ativismo estudantil e é, também, desde a redemocratização há três décadas, o primeiro candidato que não liderou o primeiro turno a ganhar a eleição no segundo turno. Boric derrotou o ultra-direitista José Antonio Kast, seguidor das ideias do ditador chileno Augusto Pinochet que, em 11 de setembro de 1973, derrubou o presidente socialista Salvador Allende com um golpe militar.
Boric ganhou com 55% dos votos, contra 45% de Kast. “Quero para o Chile algo que seria bastante óbvio na Europa, que é garantir um estado de bem-estar social para que todos tenham os mesmos direitos, independente de quanto dinheiro possuem na carteira”, resumiu o futuro presidente.
A eleição de Alberto Fernandez na Argentina em 2019 contra o direitista Antonio Macri parecia ser um indicador dessa tendência latino-americano de votar à esquerda, depois de uma guinada à direita que teve repercussões também no Brasil. Mas, se no caso de Fernandez isso não ficou tão claro, com Boric a tendência se apresenta mais evidente.
Se isso pode refletir nas eleições brasileiras em 2022? Tudo indica que sim, a menos que ocorra algo muito relevante para reverter a tendência manifestada do momento capturado hoje nas pesquisas de intenções de votos. A direita não está dando à maioria da população as respostas que ela espera do Estado, notadamente no equilíbrio sócio-econômico.
(José Caldas da Costa é jornalista e geógrafo)
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