Parar para pensar é uma expressão muito importante para esses nossos tempos. “Parar” não é algo que costumamos valorizar. As ideias prevalentes apontam para o contrário: avançar, continuar, superar, persistir, vencer.
Claro, são ideias preciosas. Mas elas não precisam de reforço. Parar e fazê-lo para pensar, essa sim, é uma ideia muito necessitada de espaço.
Todos precisamos parar para pensar e há aqueles entre nós que parecem jamais fazê-lo. Parar para pensar, refletir, ouvir, considerar parecem ideias das quais se distanciam.
Isso é um grande prejuízo que causamos a nós e aos outros, pois, sem parar para pensar, perdemos o equilíbrio e estreitamos os horizontes. Corremos o risco de ficar apenas conosco mesmos. Ou, o que é pior, de ficarmos apenas com alguém que nos tem em seu rebanho de “impensantes ativos”. Cuja destreza está em encaminhar mensagens e distribuir likes e agressões pouco refletidas.
Precisamos parar para pensar sobre o valor da vida e a necessidade de alçarmos a dignidade do ser humano aos patamares mais elevados de nossas considerações. Precisamos parar para pensar e definitivamente compreender que não há coerência de fé, e nem de lógica, em se pretender justificar o desprezo pela vida em nome de Deus. Assim como não há em se tomar o texto sagrado para a fé cristã como razão para não respeitar o outro.
Precisamos parar para pensar que o Deus que cremos ter nos dado o texto, decidiu morrer para redimir os maus (que somos todos nós), em lugar de destruí-los. Precisamos parar para pensar e perceber que o Todo Poderoso agiu assim e permanece mantendo sua decisão, apesar da persistente maldade que habita em nós e produz dores a partir de nós.
De onde tiramos a ideia de que podemos ser instrumentos de sua justiça para punir os outros quando nem aprendemos ainda a nos abrigar em sua misericórdia?
Precisamos parar para pensar e com um mínimo de sensatez manter claro que as divergências entre nós, sejam políticas, religiosas, esportivas ou de qualquer outra natureza, jamais se constituirão em bases que justifiquem a demonização, exclusão ou extermínio do outro.
Por que fechamos as portas e trabalhamos para tornar exíguo o espaço do outro, desconfiando de sua totalidade apenas por discordarmos com ele parcialmente? Por que jogamos fora tudo que o tempo compartilhado nos permitiu experimentar e conhecer do outro, em nome de momentos em que o outro nos pareceu inadequado, impróprio ou equivocado?
Precisamos parar para pensar sobre o valor de amigos, familiares, colegas de trabalho e irmãos de fé. Estamos trocando amizades tecidas ao longo de anos por inimizades apressadamente assumidas.
Precisamos parar para pensar sobre o sentido da vida que vivemos. Precisamos parar para pensar no engano que são coisas como: viver para acumular bens e desfrutar o maior conforto possível; querer sempre estar certo e achar que ceder nos diminuiria; acreditar que respeitar e conviver seja o mesmo que conivência, confundindo uma virtude com um mau-caratismo.
Precisamos nos humanizar entendendo que nem toda batalha precisa ser vencida e muito menos a qualquer custo.
Precisamos parar para pensar e escolher a bênção de aprender a andar com mais calma, comer mais devagar, respirar mais profundamente, tomar um banho mais demorado, olhar com mais atenção, ouvir antes de falar e falar depois de muito considerar.
Os sábios propositadamente adotam alguma cegueira, alguma surdez e considerável silêncio, tornando-se capazes de, na vida e não apenas da profissão, edificarem mais que destruírem e ofertarem a outros o tempo necessário para que aprendam.
A vida não está simples. Mas ela, na verdade, é simples. Mas, para perceber isso, é preciso a atitude de enfrentarmos mais a nós que aos outros. É preciso que aceitemos mais nossa fragilidade, parcialidade e especialmente finitude. A consciência de que a vida é efêmera e que logo passaremos pode facilmente nos ajudar a redimensionar conflitos e reclassificar prioridades.
Desde que nos percebamos apenas um entre muitos e não o mais importante entre os demais, é bem provável que, parar e pensar, nos caia muito bem.
Comente este post