Weber Andrade*
Recentemente o parceiro José Caldas da Costa, um caprica sensível ao passado, esteve em Barra de São Francisco e levei-o para conhecer a Casa Matilde, uma daquelas vendas antigas, que a gente chamava de armazém de Secos & Molhados, na infância. Já entrei acelerado na casa dos 60, aliás, o tempo está acelerado, eu tento ir devagar, mas ele não para.
A Casa Matilde existe em Barra de São Francisco há mais de 60 anos, é mais antiga do que eu, e o proprietário, Norberto Kempim, um descendente de alemães, não faz questão de mudar o estilo, acompanhar o progresso. Nem cartão de crédito ou pix ele aceita, só dim-dim.
Dona Matilde nos deixou poucos dias depois da visita do jornalista Caldas. Mas teve oportunidade de vê-lo experimentando suas memórias de infância ao lado do marido Norberto. Caldas pediu uns caramelos, mas os queria em uma “trouxinha” feita naquele papel de embrulho cinzento muito comum antes do plástico. E Norberto o fez com maestria.
Não sou chegado a doces. Acho que fartei-me na infância, quando também frequentava, lá na minha terra natal, Mutum, o armazém do Valdomiro, que tinha um daqueles baleiros giratórios onde eu ia amiúde comprar as ‘trouxinhas’ de bala, as preferidas, aqueles ‘ovinhos’ coloridos.
Mas, desde a cena do Caldas na Casa Matilde, voltando a ser criança, bateu-me uma cegueira de doces quase incontrolável.
Aos domingos pela manhã costumo frequentar um boteco no Bambé, onde o proprietário, Moisés, que trabalhava antes nas proximidades da escola municipal Vicente Amaro, no Campo Novo, acostumou-se a encher o balcão de guloseimas.
Entre uma cerveja e um tira-gosto, ouvi um homem pedindo uma paçoca e só então dei-me conta de que estava no paraíso. Ao meu lado, no balcão, vários potes plásticos cheios de doces: cocada branca e preta, balas de vários sabores, marias-moles, paçoca e suspiro.
Não resisti. Pedi uma paçoca, comi, olhei e vi o suspiro, branco e rosa, pedi um e degustei e, para finalizar, comi a maria-mole. Acho que só faltou mesmo o manjar da dona Bina para mitigar minha saudade!
*Weber Andrade é jornalista, colaborador do tribunanorteleste.com.br e cronista bissexto.
Comente este post