Morreu na manhã desta quarta (22), o ex-prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, Roberto Valadão, aos 86 anos. Valadão, como era conhecido, nasceu em Colatina/ES, 20 de setembro de 1938.
Valadão foi líder estudantil e prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, principal cidade do sul do Espírito Santo, em duas oportunidades: de 1983 a 1988 e de 2005 a 2008. Foi também vice-prefeito, vereador, deputado estadual e deputado federal por dois mandatos. Atualmente era vice-presidente do MDB cachoeirense, partido que ajudou a fundar, sendo um dos líderes históricos da legenda no Estado.
A causa da morte não foi divulgada, mas o político vinha sofrendo com problemas de saúde nos últimos anos. Valadão deixa quatro filhos.
Pelas redes sociais, o governador Renato Casagrande lamentou a morte de Valadão e decretou luto oficial de três dias. O prefeito Vitor Coelho (PSB), de Cachoeiro, também decretou luto de três dias no município.
IRMÃO DESAPARECIDO
Roberto Valadão foi líder estudantil na juventude em Cachoeiro de Itapemirim, mesmo caminho que tomou seu irmão Arildo Valadão, que era dez anos mais novo – nascido em 28 de dezembro de 1948, em Itaici, distrito de Muniz Freire – e, como estudante de física da UFRJ, presidia o Diretório Acadêmico. Por essa razão, passou a ser perseguido pela ditadura militar no início dos anos 70, depois do AI-5.
Ele a mulher, Áurea Elisa Pereira, que também era universitária, deixaram o apartamento onde moravam, no Catete, e passaram a viver na clandestinidade. Ingressou no PCdoB e foi morar em Caianos, no Araguaia.
Em 24 de novembro de 1974, Arildo foi emboscado por uma patrulha do Exército e executado. Seu corpo foi encontrado sem a cabeça, que foi cortada e levada ao capitão José Brant Teixeira, o “Dr César”. Como não houve a identificação e seu corpo nunca foi entregue à família, Arildo, irmão de Roberto Valadão, foi dado como desaparecido na época da ditadura. Áurea teve o mesmo destino, em dezembro de 1973.
O militar José Brant Teixeira foi denunciado pelo Ministério Público Federal pelo homicídio do militante Arildo Valadão na Guerrilha do Araguaia. Segundo a denúncia, o crime ocorreu por motivo torpe e meio cruel, tendo a vítima sido decapitada a mando do então capitão do Exército brasileiro, em novembro de 1973.
A ação penal é assinada por sete procuradores e sustenta que Teixeira, usando o codinome “Doutor César”, participou da terceira e mais sangrenta fase do combate à guerrilha do Araguaia, batizada de operação marajoara. O assassinato de Valadão ocorreu no segundo mês da operação, em 24 de novembro de 1973, por meio de emboscada.
José Brant Teixeira foi denunciado pelos crimes de homicídio qualificado, agravado por motivo torpe, meio cruel e emboscada; bem como pela ocultação do cadáver da vítima. Os executores não foram denunciados pelo MPF por terem sido coagidos a cometer os crimes mediante tortura e violência.
O ex-prefeito Roberto Valadão militou a vida inteira no MDB e é reconhecido em Cachoeiro de Itapemirim como um homem honesto durante toda a vida. Esses pareciam valores familiares, conforme revelado numa carta, a última enviada à mãe antes de perder contato, pelo irmão Arildo, explicando porque estava saindo do Catete.
“Os fatos resumem-se no seguinte: um rapaz foi preso há cerca de um mês, aproximadamente, e acusou-me de subversivo. Ora veja só a Sra., eu, que fui indicado para assessor direto do ministro da Educação e Cultura, ser acusado de subversivo! Não é mesmo engraçado? Logo eu, tão querido pelos professores e até pela direção da escola, em quem tanto confiavam, ser acusado de uma tal coisa?! É bem verdade que eu era presidente do Diretório Acadêmico de minha escola, mas esse cargo nunca foi sinônimo de subversão. É certo também que tanto eu quanto Áurea sempre fomos alunos aplicados – o que demonstram nossos sucessos na escola e também o fato de sermos ambos bolsistas do Conselho Nacional de Pesquisas. Tudo em nosso procedimento leva a uma só conclusão: que nossa vida é limpa, digna, honrada e honesta. […] Acredite, mamãe: esta é a melhor solução para tal problema. De outra forma estaríamos correndo vários riscos que resultariam num sofrimento mais para nós todos. Assim, a Sra. pode ter certeza de que, em qualquer lugar onde eu e Áurea estivermos, estaremos sempre bem. Algum dia chegará em que nós estaremos novamente juntos e então todas essas coisas serão coisas de um passado distante e nós riremos juntos e satisfeitos quando lembrarmos delas. Temos um quadro muito bonito que ganhamos de presente de casamento, que deverá ser entregue à Jane pelo cunhado da Áurea. Quero que a Sra. fique com ele e que o guarde para nós; quando a Sra. o olhar pensará que nós estamos bem e se consolará. Assim, quando nós estivermos novamente juntos, quando nos encontrarmos novamente – não passará muito tempo –, a Sra. nos entregará ele de volta”.
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