Weber Andrade
Não conseguiria escrever esse texto se não fosse na primeira pessoa. O Hospital Estadual Dr. Alceu Melgaço Filho (HDAMF), localizado em Barra de São Francisco, completou 50 anos neste domingo, 3 e sua história está entranhada em mim desde quando começou a existir. Em crônica sobre cemitérios, recordei que antes dele, o bairro Cruzeiro, aquele pedaço ali, era o cemitério da cidade. Brinquei com crânios que rolavam movidos pelas máquinas impiedosas. Vi a construção se erguer diante dos meus olhos e, mais tarde, vi minha mãe, Maria José dos Santos de Andrade, a Zezé, tornar-se enfermeira do nosocômio.
Por alguns meses, fui o garoto de recados, o estafeta que ia até o centro acordar o médico José Cipriano da Fonseca, o Zezinho Cipriano, ou mesmo o Deolindo – Sarmenchii Neto – quando havia alguma urgência ou emergência, já que não havia telefone, ou melhor, até que havia alguns. Lá mesmo no hospital ficava a central de comutação, onde uma secretária recebia a chamada e transferia para o numero desejado, tudo manualmente.
Neste segunda-feira, 4, para comemorar o aniversário do hospital, os funcionários organizaram um culto ecumênico, que foi celebrado pelo padre Belmiro Ohnezorge e pelo pastor Elyclayton Augusto.
Por lá, além dos servidores do hospital e vereadores, o secretário municipal de Saúde, Elcimar de Souza Alves, e encontrei dona Cleuza Lima Garcia, esposa do Jonoel Garcia e uma das primeiras ‘gerentes’ do hospital, falamos um pouco, ela lembrou-se de minha mãe e dos tempos difíceis do início.
Atualmente, o Hospital Estadual Dr. Alceu Melgaço Filho (HDAMF), tornou-se referência na Região Noroeste.
O cuidado com os pacientes foi reconhecido em agosto deste ano, quando o HDAMF e outros quatro hospitais da rede estadual foram premiados com o Selo Segurança do Paciente, emitido pela Epimed Solutions, em parceria com o Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP).
Para o diretor da unidade, Edvânio Mendes, a premiação é reflexo do cuidado dos servidores com os pacientes e também dos investimentos recentes do Governo do Estado no hospital, como a reforma e ampliação do centro cirúrgico, que passou de duas para quatro salas, além da ampliação da sala de recuperação pós-anestésica e a compra de novos equipamentos e quatro ambulâncias.
“Antes eram feitas, aproximadamente, 15 cirurgias por mês e hoje, depois desses investimentos, são 300 procedimentos mensais. O hospital passou por um processo de reestruturação, foram criadas estratégias de trabalho, regulamos as filas de consultas e cirurgias, que tinha uma demanda reprimida de cinco anos de espera, e melhoramos a supervisão dos contratos. Neste ano, fomos o primeiro hospital da rede estadual a bater a meta de cirurgias. Hoje percebemos uma procura maior da população querendo saber mais sobre os serviços prestados no hospital”, comemorou o diretor.
Perfil do hospital
O HDAMF disponibiliza 107 leitos, sendo 10 de UTI, 24 de clínica médica, 20 de ortopedia, 16 de clínica cirúrgica, 9 de obstetrícia, 6 de pediatria, 1 de isolamento e 21 leitos de pronto-socorro, sendo eles: 3 de emergência, 4 semi-intensivo, 9 clínicos/cirúrgico e 5 de pediatria.
São prestados serviços de clínica médica, cirurgia de baixa e média complexidade, obstetrícia de baixa complexidade, pediatria e UTI. No pronto-socorro, também são atendidos casos de urgência e emergência com especialidade de cirurgia geral e ortopedia.
Além dos serviços de urgência e emergência, o hospital tem diversas especialidades de suporte ao paciente internado, como cardiologia, cirurgia vascular e nefrologia.
Atende também consultas eletivas nas especialidades de cardiologia, cirurgia geral, neurologia, cirurgia ortopédica, urologia, gastroenterologia, mastologia, cabeça e pescoço, ginecologia, cirurgia plástica e angiologia.
Em 2021, o HDAMF realizou 1.488 consultas eletivas, em 2022, foram 9.625, neste ano, até outubro, já foram realizados 8.112 atendimentos.
Já os procedimentos cirúrgicos aumentaram 10 vezes mais no período de dois anos. Em 2021 a meta de procedimentos era 770, mas apenas 224 foram realizados na unidade. Já em 2022, o hospital conseguiu superar a meta de 990 cirurgias e realizou 1.477. Neste ano, a unidade também já superou a meta de 1.788 procedimentos e realizou, até outubro, 2.356 cirurgias.
Atualmente, 587 funcionários, entre servidores e terceirizados atuam na unidade.
História
A ideia do hospital nasceu, em 1970, da união da população francisquenses para que a cidade tivesse uma unidade voltada para o atendimento da população carente que, até então, só contava com serviços particulares de saúde. Para que as obras fossem viabilizadas, o então prefeito Joaquim Alves de Souza conseguiu verbas com o Governo do Estado para a construção.
O hospital foi entregue à população pelo prefeito Vicente Amaro da Silva em 3 de dezembro de 1973. Na época, o prédio recebeu o nome de Sociedade Hospitalar São Paulo da Cruz, uma instituição filantrópica mantida pela igreja católica.
Três anos depois, em 1976, o hospital foi transformado em Fundação Hospitalar de Barra de São Francisco e passou a ter convênio com a Sesa. O hospital foi encampado pela Sesa em 1983 e passou a integrar a rede estadual de saúde. Na época, a unidade recebeu o nome Hospital Estadual Drª Rita de Cássia Melgaço, em homenagem à servidora morta em acidente automobilístico no ano anterior.
A nova mudança para o nome atual – Hospital Estadual Dr. Alceu Melgaço Filho – foi aprovada em 2017 pela Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales). Alceu era marido de Rita de Cássia e atuou como médico e diretor da unidade. Após a mudança, Dr. Rita de Cássia passou a denominar o pronto-socorro do hospital.
Drª Rita de Cássia Melgaço
Rita de Cássia e dois filhos morreram em um acidente de carro em 17 de maio de 1982. Alceu sobreviveu, foi diretor-geral do hospital por seis anos, diretor clínico e por 10 anos secretário municipal de saúde de Barra de São Francisco. Alceu morreu em 2011 e dedicou à vida em defesa da saúde pública e gratuita. Entendia a medicina como instrumento de defesa da população e defendia o tratamento.
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