Pedro Valls Feu Rosa*
Dia desses tive a oportunidade de ler uma interessante entrevista da escritora Mahvish Khan, publicada na revista Superinteressante. Trata-se de uma norte-americana que funcionou como intérprete na famosa prisão de Guantánamo, mantida pelos EUA em uma área de Cuba.
Eis o chocante resumo de seu testemunho sobre as condições em que encarcerados os presos naquele estabelecimento: “A maioria fica presa sozinha em celas de concreto de 2,10 m x 2,40 m – o tamanho de um colchão King-Size. Ali ficam a cama, o banheiro e a pia. Eles comem e rezam sozinhos. Muitos não veem a luz do Sol durante meses, porque só podem sair uma hora ou menos por dia, no meio da noite. Vários são submetidos a buscas nas cavidades do corpo na frente dos outros. Também são confinados sob frio ou calor extremos”.
Enquanto isso já li em um jornal brasileiro a seguinte notícia: “A Justiça manda soltar um rapaz de 120 quilos. Agentes penitenciários tremem. Como a porta da cadeia está selada a solda desde a rebelião, eles já sabem que o único jeito de tirá-lo de lá é pelo teto, içando-o por mais de quatro metros até uma grade. A “pescaria” quase acaba em tragédia, quando os quatro agentes encarregados da missão, sem agüentar o peso, soltam o “peixão”, que se estatela no chão. Até ontem, quatro presos conseguiram sair içados. A alimentação é jogada por cima, todos os dias, às 11 e às 17 horas, pela mesma grade por onde saiu o preso gordinho. Banheiros há 13, ou 123 aparelhos excretores para cada privada. A saída é defecar em sacos plásticos (várias vezes em um mesmo saco), que são empilhados em um canto do local. Não há luz”.
E narrou ainda o repórter: “Muitos presos estão doentes. Mantidos seminus, dispõem apenas de cobertas finas e são obrigados a dormir uns encostados nos outros. Foi o jeito que deram para contornar o inverno que faz os termômetros da região baixarem para a casa dos 10 graus centígrados”.
Pouco tempo depois a imprensa noticiava o caso de uma Delegacia brasileira cuja cela, de dois metros quadrados, estava sendo utilizada para armazenar (sim, armazenar – há outro termo possível diante de uma situação dessas?) nada menos que 39 seres humanos. Uma outra, com vagas suficientes para 36 pessoas, armazenava inacreditáveis 254 detentos.
Guantánamo… onde fica mesmo esse lugar?
*O desembargador Pedro Valls Feu Rosa é articulista de diversos jornais com artigos publicados em diversos Estados da Federação, além de outros países como Suíça, Rússia e Angola.
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