
“Para nós é um exemplo de vida, como pessoa, como pai, como amigo.” Assim a filha Luci, 56, define o ex-professor, policial militar reformado Jorge Angélico Nolasco o senhor Jorge, como é conhecido em todo o município e região. Neste domingo, 11, a família toda se reunir na casa dele para comemorar o centenário do senhor Jorge, que completou 100 nesta segunda-feira, 12, com uma lucidez de dar inveja a muita gente jovem.
“Eu estive um pouco afastado de Barra de São Francisco durante o ano passado e este ano, por causa de um problema na perna. Estava ficando mais na casa do meu filho, em Vitória, por causa dos exames e tratamento”, revela o, agora centenário, senhor Jorge, à nossa reportagem.
“Já estou bem melhor e vim para cá passar o final de semana, mas gostaria mesmo é de ficar por aqui, cuidar da limpeza da nossa igreja – ele e a família frequentam a Igreja Maranata ao lado do fórum – ir à feira livre e conversar com os amigos”, conta.
Jorge Nolasco chegou a Barra de São Francisco em 1946, vindo de Muqui, no sul do Estado, para integrar as forças policiais que guardavam a região, em pleno conflito territorial entre Minas Gerais e Espírito Santo, que foi batizado de Contestado.
Casou-se em Mantenópolis, onde esteve destacado por algum tempo, com a senhora Leontina dos Reis, que morreu há 12 anos. “Se viva fosse, estaria hoje com 97 anos”, comenta o filho mais velho, Wilson Angélico dos Reis, 70 anos. Além de Luci e Wilson, Jorge Nolasco teve mais um filho, Oziel, que faleceu há cerca de 3 anos. Os filhos lhe deram 7 netos e alguns bisnetos.
“Ele tem uma memória muito forte. Dia desses fui com ele a Cachoeirinha do itaúnas, e, pela estrada ele ia apontando os nomes de cada um dos proprietários rurais”, descreve Wilson.
“As pessoas gostam tanto dele que, por onde ele passa, ninguém o esquece. “Levei ele a uma feira em São Paulo, uma vez e, há pouco tempo estive no local de novo e as pessoas que me conhecem vinham perguntar como estava meu pai, desejar saúde”, conta.

História
Nolasco conta que assistiu e trabalhou, junto com a tropa, na construção da antiga Cadeia Pública de Barra de São Francisco, que fica no alto da rua Juiz Thaurion Pimentel, na esquina com a rua Astrogildo Romão dos Anjos, hoje sede do 11º Batalhão de Polícia Militar. Também foi professor e hoje, é empresário no ramo de papelaria, mas a filha Luci é quem administra o comércio.
Sempre disposto a contar a história (dele) e da cidade que adotou para viver, o senhor Jorge, como é mais conhecido em Barra de São Francisco, lembra que a antiga Cadeia Pública, abrigava, nas décadas de 50 e 60, o contingente policial militar destinado para a região com o objetivo de proteger as divisas do Espírito Santo e, por isso, foram chamados de Sentinelas Capixabas.
“A gente tinha até um rancho (cozinha) nos fundos do prédio, onde todos os soldados tomavam suas refeições”, recorda ele.
Em março de 2015, a regional de Barra de São Francisco da Associação dos Militares da Reserva, Reformados, da Ativa da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros Militar e Pensionistas de Militares do Estado do Espírito Santo (Aspomires), prestou homenagem ao senhor Jorge concedendo-lhe o título de “Homem de Honra” e o Diploma “Construtores da Paz”.
Dos tempos do Contestado ele gosta de contar a história da inauguração do antigo Clube das Perobas, hoje sede da Casa da Cultura, na rua Prefeito Manoel Gonçalves, perto do Hospital Dr. Alceu Melgaço Filho (Hedamf). A obra foi realizada graças a doações de empresários e proprietários rurais francisquenses.
“Na época, já no final da década de 50, os policiais sem patente de oficial (soldados, cabos, etc…) não puderam frequentar o local. No dia da inauguração, foi uma festa muito grande e vieram muitos convidados de Mantena (MG), apesar de estarmos em pleno conflito do Contestado. Como lá em cima não tinha lugar para estacionar, os veículos ficaram cá embaixo, na avenida Jones dos Santos Neves. Quando a festa terminou e os proprietários dos veículos desceram, encontraram a maioria dos carros danificados, com a pintura arranhada, poltronas rasgadas…Disseram que foi ‘arte’ dos policiais, que se vingaram dos ricos e oficiais por não terem sido aceitos”, contou ele aos risos à nossa reportagem, mas logo disse que ele não participou e nem viu quem fez as traquinagens.
Jorge também esteve lutando pelo Brasil e os “Aliados” na 2ª Guerra Mundial. Ele conta que participou de batalhas na Itália, quando integrou a Força Expedicionária Brasileira (FEB), sendo hoje, um dos poucos remanescentes da FEB em Barra de São Francisco. (Weber Andrade)

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