
Desde que anunciou seu apoio à reeleição do governador Casagrande e lançou um movimento para que o vice-governador seja um nome do Norte do Estado, o prefeito Enivaldo dos Anjos (PSD) tem convivido com especulações de que esse nome seria o dele. Mas, nesta terça-feira (01), o chefe do Executivo de Barra de São Francisco colocou, definitivamente, uma pá de cal sobre qualquer movimentação ou especulação neste sentido.
“Não saio da prefeitura para ser candidato a nada”, disse o prefeito, repetindo a mesma resposta em três perguntas diferentes na entrevista concedida ao portal MovNews, de Vitória. Na ocasião, o prefeito reiterou que seu movimento é no sentido de que o vice-governador seja do Norte para que, depois de eleito, defenda os projetos de desenvolvimento econômico da região, com destaques para os projetos logísticos totalmente com recursos privados.
A reunião com os prefeitos da região, para lançar o movimento, estava marcada para a próxima sexta-feira (4), mas o prefeito adiou para o dia 25, em Barra de São Francisco, devido à explosão de casos de Covid na cidade. Ele espera que até lá a terceira onda da pandemia tenha atingido seu pico e já esteja descrescendo.
Veja, na íntegra, a entrevista concedida por Enivaldo dos Anjos ao portal de notícias da capital.
MOVNEWS– O senhor saiu na frente e lançou a candidatura do governador Renato Casagrande à reeleição. Já recebeu muitos apoios depois daquele encontro de prefeitos no Palácio Anchieta?

ENIVALDO – Esta é uma posição histórica do Norte. Fiquei incomodado porque a Amunes não se movimentou e então resolvi começar a me movimentar. Desde 2010 acompanhamos o governador Renato Casagrande. Fiquei com ele mesmo quando perdeu a eleição em 2014, mas ele ganhou nos municípios do Noroeste onde temos influência. Nós, do Noroeste, estamos juntos, porque juntos somos mais fortes. Lógico que outros prefeitos se manifestam, mas esperam os movimentos começarem.
MN– Agora o senhor lidera um movimento que reivindica um candidato a vice-governador na chapa de Casagrande seja do Noroeste/Norte do ES, onde está Barra de São Francisco, seu município. Tem recebido manifestações de apoio para a proposta? Já trabalha algum nome?
EA – Os nomes surgem no processo. Defendemos causas e não nomes. Quando fizemos o movimento municipalista para eleger Albuino em 1990 foi na mesma direção. Ninguém acreditava, mas nos juntamos e construímos a vitória. Na época, defendemos a mesma ideia: um vice do Norte. Queriam que fosse eu, mas eu tinha ganhado a eleição de deputado em 1986 e deixei a Assembleia para ser prefeito. Quase me comeram vivo aqui em Barra de São Francisco quando falei da possibilidade de ser o vice, porque deixaria o mandato de novo pela metade. Ou seja, naquela ocasião a cidade perdeu a chance de ter o vice-governador, mas fizemos o Adelson Salvador, de Nova Venécia. Então, nosso caminho é sempre esse, no sentido de um projeto e não de um nome.
MN – Por que o senhor acha que neste momento é importante ter um vice-governador do Norte/Noroeste do Estado? Tem a ver com o projeto do porto seco alfandegado de Barra de São Francisco?
EA – Tem a ver com a força econômica, social e política de nossa região. Lógico que isso, nesse momento, inclui os projetos privados, não apenas do porto alfandegado de Barra de São Francisco, mas também das ferrovias, do porto de São Mateus e da futura duplicação da BR 381, entre São Mateus e Governador Valadares. É o projeto de desenvolvimento do Norte e Noroeste. Isso vai mudar a história do Espírito Santo, porque é o maior projeto logístico em curso no País e, dentro das regras colocadas em nível federal, vai ter que acontecer nos próximos dez anos. Queremos um vice-governador que, uma vez eleito, seja um defensor de nosso projeto de desenvolvimento.
MN – Algumas lideranças comentam que o senhor pode ser o nome indicado para vice. Com cerca de 1 ano e meio de mandato que terá na hora de desimcompatibilizar, o senhor deixaria a prefeitura para segurar, como vice-governador, os investimentos que o senhor pretende levar para a região?
EA – Quando me elegi, não era meu projeto e continua não sendo. Nenhuma candidatura pode ser posta como projeto pessoal, mas de um grupo, de uma região. É o grupo que vai decidir, é a nossa capacidade de mobilização que vai definir. Mas posso garantir uma coisa: fui eleito para cumprir o mandato. Não sou e não serei o candidato a vice-governador. Não saio da prefeitura para ser candidato a nada.
MN – Se Casagrande se reeleger e o Vice for o ex-prefeito, Enivaldo dos Anjos certamente não seria apenas um vice, mas um executivo do primeiro time do novo mandato.
EA – Quem vai definir o time é o governador, que nós vamos trabalhar para reeleger, porque está fazendo um bom trabalho pelo Estado. Essa possibilidade de Enivaldo no time não existe porque fui eleito prefeito e vou cumprir o mandato. Repito: não saio da prefeitura para ser candidato a nada.
MN – A custa de quê e de qual sucessor o senhor faria isto, já que hoje o seu vice, Gustavo Lacerda, é seu adversário político?
EA – Como disse, isso não passa pela minha cabeça. Vamos discutir o projeto. Luto pelo Norte e não por mim. Vou repetir de novo: não saio da prefeitura para ser candidato a nada. A população confiou em nosso projeto e vamos executá-lo.

MN – Mas voltando ao porto alfandegado, quais benefícios esse porto traria para a região?
EA – Uma mudança completa no padrão de desenvolvimento. É importante observar que a ideia do porto seco alfandegado está ancorada na construção da Unidade de Transbordo e Armazenagem de Cargas (UTAC), que permitirá a transposição de cargas por vagões que transitarão pelas duas ferrovias, a EF 030, de Barra de São Francisco a Brasília, e a EF 456, de São Mateus a Ipatinga. Junto com isso, vêm novos investimentos. Para você ter uma ideia, tudo está apenas no começo, mas acabei de autorizar a construção do primeiro condomínio fechado de alto luxo no município e obtivemos do Grupo Maurício Toledo o compromisso de construir um hotel de grande porte na cidade. Um grupo de Ipanema (MG) está construindo uma unidade de laticínio. E isso é apenas o início. Imagine o que vai acontecer quando tudo isso estiver pronto, daqui a 10 a 15 anos, com porto em São Mateus, as duas ferrovias e a BR duplicada no que vai se transformar nossa região. Novos empreendimentos virão. Tudo o que fazemos hoje é pensando nesse futuro.
MN – O Norte do Estado vive um boom de desenvolvimento. Qual a participação dessa região na arrecadação do Estado?
EA – Agradeço a oportunidade de falar nisso, porque nós somos o maior produtor de rochas ornamentais do Brasil. A indústria de granito em Barra de São Francisco é moderna e pujante e responde por 11% do PIB do Espírito Santo. Com o corredor logístico, essa indústria vai se expandir, porque hoje opera muito aquém de sua capacidade instalada porque não tem como transportar. São 400 carretas trafegando diariamente pelas rodovias da região com direção, principalmente, a Vitória. O porto em São Mateus vai possibilitar um novo canal de exportação e importação. Você consegue imaginar o futuro com essa logística? Com a BR 101 duplicada? Com a BR 381 permitindo um percurso alternativo para São Paulo sem passar pelo Rio de Janeiro e com topografia muito mais favorável? Isso aqui vai se tornar o centro econômico mais importante do Sudeste, tirando São Paulo. Além do desenvolvimento do Noroeste, tem todo o Norte beneficiado, principalmente o litoral. Lógico que todo o processo de desenvolvimento do Espírito Santo foi canalizado para o Centro e o Sul do Estado, mas nós estamos virando esse jogo no braço e quem ganha é o Espírito Santo. Pensamos numa cidade de 100 mil habitantes para daqui a 15 ou 20 anos em função desse desenvolvimento e precisamos trabalhar com competência para isso. É esse o projeto que me entusiasma. Já tenho quase 40 anos de vida pública, precisamos de novas lideranças para cuidarem do que estamos criando. (Da Redação com informações do MovNews)
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