Uma breve observação de nossa cultura vai nos confrontar com o costume da dependência como limitador do desenvolvimento humano. Talvez uma reprodução inconsciente do nosso modelo de colonização baseado nas capitanias hereditárias.
A micromanifestação de dependência no comportamento de classes mais baixas da sociedade – a ralé, segundo conceito de Jessé Souza -, com poucos rompendo a barreira da limitação do desenvolvimento humano criado pelos necessários – porém, carentes de atualização conceitual – programas de auxilios governamentais para os mais vulneráveis, vai se projetar na macroeconomia pré-capitalista criada por regimes autoritários.
Temos o mais longo período de vigência de uma Constituição – a de 1988 -, como se a nossa maturidade como nação levasse 100 anos desde a proclamação da República para se ensaiar.
Ou seja, vivemos um século na adolescência cidadã e, pelo andar da carruagem, talvez levemos mais um século para de fato nos tornarmos uma nação adulta.
Nesse contexto, criamos uma sociedade tutelada pelo Estado, a tal ponto que não conseguimos compreender quando ideias como as dos portos e ferrovias autorizadas são postas. Pelo contrário, atores importantes, acostumados ao ambiente do século XX, chegam a trabalhar contra. Talvez porque assim o status quo o exija.
O discurso majoritário secular que conduziu nossa economia tenta, a todo custo, tornar-se hegemônico. Por isso,
é importante que a sociedade abra seus ouvidos para ouvir, seus olhos para ler e sua mente para entender o que propõem novos atores, principalmente da infraestrutura logística brasileira.
O modelo anterior, ainda vigente, concentrou o desenvolvimento no litoral e, ainda assim, deixou regiões de fora.
Agora, precisamos olhar para as margens, onde estão muitos deserdados de uma das dez maiores economias do mundo. É dessa faixa marginalizada, por exemplo, que partem as grandes hordas dos que vão ser humilhados por outras sociedades no hemifestério Norte e, depois, enxotados como animais pestilentos.
É necessário que as elites políticas regionais se voltem para isso e rompam, ainda que “delicadamente”, com a dependência em relação àquilo que criado está. Ninguém vai fazer por você o que você mesmo não estiver disposto a fazer para mudar. A dependência dos dominados interessa a quem domina.
(Do Editor-Sênior)
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