*Erly Euzébio dos Anjos
Ouvi de um comentarista na TV, ao comentar sobre as consequências desastrosas da crise climática no estado do Rio Grande do Sul, fazer a diferença entre a “previsão” e a “prevenção”, que me chamou a atenção. Uma oportunidade para reflexão.
Previsão seria a capacidade de se antever com certa margem de erros o que poderia acontecer, a partir de indicadores e tecnologias adotadas. Enquanto que prevenção seria a possiblidade de se impedir ou minimizar danos que poderiam ocorrer, considerando, sem dúvidas, os indicadores da previsão.
Poderiam ser vistos interligados, mas são distintos. Pode se argumentar que com na prevenção somos capazes de antever as catástrofes climáticas e pôr em cena algumas medidas que poderiam salvar vidas, deslocando famílias, pessoas e animais a tempo de suas casas.
Bom, isso quando se adota algum planejamento, fazem avisos e investem em recursos materiais e humanos. Se torrarem o dinheiro e desmobilizarem as agências criadas justamente para este fim (como aconteceu recentemente), não há possibilidades nem de previsão e nem de prevenção.
E se somarmos a este quadro a reiterada descrença na Ciência (com o “C” maiúsculo mesmo), a ignorância generalizada que permeiam a partir das teorias conspiratórias e interesses privatistas no trato com a coisa pública que ainda prevalecem com relação a crise climática, temos respostas para entender o caos em que nos encontramos.
Praticamente nada é mais local e provinciano, apesar de que ações e planejamentos têm que ser local e intermediadas globalmente. Fala-se do esgotamento de um modelo de urbanização desenfreado e acelerado, de construções de residências, prédios e pontes que conhecemos do passado e que apesar dos alertas foram feitas.
Muitas vezes para políticos atenderem a demanda de seu eleitorado. O tema do meio ambiente, que concordo com os comentaristas, era algo abstrato e distante (o urso polar, o deslocamento de geleiras etc.), não é mais. Hoje a questão é urgente e bate literalmente na porta e entra sem pedir licença. Não respeita mais divisões conceituais e nem físicas antes estabelecidas. Invade o cotidiano de todos, apesar de que os mais vulneráveis são as vítimas preferenciais.
As cenas que vimos da enchente invadindo todas as casas e comércio aqui no estado, em Mimoso do Sul, por exemplo, nem se apagaram e vemos hoje repetir em comunidades do Rio Grande do Sul. E não há garantias de que não acontecerão em breve.
A saída, dizem os especialistas, é não construir ilegalmente a beira dos rios e nem na orla marítima, sem as medidas de contenção. As previsões indicam, mas é preciso para ontem de medidas preventivas.
Vivemos em estado de emergência constante, assinala acertadamente a ministra do meio ambiente, Marina Silva. As ações do Governo federal em junção com os estaduais, independentes de ideologias políticas, são as mais acertadas e merecem elogios. Já apanhamos antes e não podemos repetir. Mas como lidar com as consequências e gravidade da crise climática que nos assombra? Como lidar com o “novo normal”? Podemos até prever os cenários com certa segurança, mas como prevenir que ocorram com menos custos da vida humana? Eis a questão.
*Erly Euzébio dos Anjos é Sociólogo e Professor da UFES
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