Weber Andrade*
Ao conversar esta semana com o médico Fernando Antonio Calvão, muito competente em sua área e também pecuarista, mas apaixonado por leitura e informação, ele sentenciou: “Sua profissão está prestes a acabar. A inteligência artificial será mais eficiente para produzir textos”, vaticinou. O médico estava empolgado com a interação que teve com o ChatGPT que, em sua quarta versão, tem conseguido produzir textos e fornecer informações quase totalmente precisas sobre qualquer assunto.
Esqueci de perguntar a ele se havia testado algo sobre o próprio nome. E, para conferir o nível de conhecimento do ChatGPT, perguntei se ele conhecia o médico Fernando Antônio Calvão. Felizmente, com toda a fama do médico em Barra de São Francisco e região, o chat me decepcionou. Eis a resposta:
“Como uma inteligência artificial, não tenho acesso a informações completas sobre todas as pessoas do mundo, mas posso tentar ajudar com informações que estejam disponíveis publicamente na internet. Infelizmente, uma pesquisa rápida no Google não produziu muitas informações sobre o médico Fernando Antônio Calvão. Se você tiver mais informações sobre ele ou o contexto em que está procurando, posso tentar ajudá-lo de outras maneiras.”
Respirei aliviado. Acho que nós jornalistas ainda temos uma sobrevida, embora pequena porque as redes sociais já produzem ‘jornalistas’ sem conhecimento aos borbotões.
Mas, na manhã desta terça-feira, 2 de maio, percebi que a ameaça da inteligência artificial é muito maior do que pensava e pode acabar não só com a minha profissão, mas com a humanidade inteira.
Não tive como não me lembrar dos contos de Isaac Asimov sobre o nebuloso futuro da humanidade. “Eu, robô”, transformado em filme, mostrou um criador de inteligência artificial que precisou programar um dos seus robôs para mata-lo, como forma de denunciar e impedir o uso dessas máquinas para dominar os homens.
“Em 2035, é comum robôs serem usados como empregados e assistentes dos humanos. Para manter a ordem, esses robôs possuem um código de programação que impede a violência contra humanos, a Lei dos Robóticos. Quando Dr. Miles aparece morto e o principal suspeito é justamente um robô, acredita-se na possibilidade de que os robôs tenham encontrado um meio de desativar a Lei dos Robóticos”, diz uma sinopse do filme.
Pois, o personagem quase oculto desse filme – Dr. Miles – parece ter surgido na mídia, como o homem conhecido como o “padrinho” da inteligência artificial (IA) que pediu demissão do Google, alertando sobre os crescentes perigos da tecnologia.
Geoffrey Hinton, de 75 anos, anunciou sua saída do Google em entrevista ao jornal americano The New York Times, dizendo que agora se arrepende do seu trabalho.
Psicólogo cognitivo e cientista da computação, ele afirmou à BBC que alguns dos perigos dos chatbots (robôs virtuais) de inteligência artificial são “bastante assustadores”.
“Neste momento, eles não são mais inteligentes do que nós, até onde eu sei. Mas acho que em breve poderão ser.”
Hinton também admitiu que sua idade influenciou na decisão de deixar a empresa. “Tenho 75 anos, é hora de me aposentar”, disse ele à BBC.
A pesquisa pioneira de Hinton sobre deep learning (aprendizagem profunda) e redes neurais abriu caminho para os atuais sistemas de inteligência artificial, como o ChatGPT.
Mas ele afirmou à BBC que o chatbot poderá em breve ultrapassar o nível de informação que o cérebro humano detém.
“Neste momento, o que estamos vendo são coisas como o GPT-4 superar uma pessoa na quantidade de conhecimento geral que ela tem, e a supera de longe. Em termos de raciocínio, não é tão bom, mas já é capaz de raciocínios simples.”
“E, dado o ritmo de evolução, a expectativa é de que fiquem melhor rapidamente. Então, precisamos nos preocupar com isso.”
Na reportagem do New York Times, Hinton se referiu a “pessoas mal-intencionadas” que tentariam usar a inteligência artificial para “coisas ruins”.
Quando questionado pela BBC para falar mais sobre isso, ele respondeu: “É tipo na pior das hipóteses, uma espécie de cenário de pesadelo.”
“Você pode imaginar, por exemplo, uma pessoa mal-intencionada como [o presidente russo Vladimir] Putin que decide dar aos robôs a capacidade de criar seus próprios subobjetivos.”
O cientista alertou que isso pode mais cedo ou mais tarde “criar subobjetivos como ‘preciso obter mais poder’.
E acrescentou: “Cheguei à conclusão de que o tipo de inteligência que estamos desenvolvendo é muito diferente da inteligência que temos.”
“Somos sistemas biológicos, e estes são sistemas digitais. E a grande diferença é que com os sistemas digitais, você tem muitas cópias do mesmo conjunto de pesos, o mesmo modelo do mundo.”
“E todas essas cópias podem aprender separadamente, mas compartilham seu conhecimento instantaneamente. Portanto, é como se você tivesse 10 mil pessoas, e sempre que uma delas aprendesse algo, todas automaticamente aprenderiam. E é assim que esses chatbots são capazes de saber muito mais do que qualquer pessoa.”
O cientista enfatizou que não queria criticar o Google e que a empresa de tecnologia havia sido “muito responsável”.
“Na verdade, quero dizer algumas coisas boas sobre o Google. E elas terão mais credibilidade se eu não trabalhar para o Google.
Em um comunicado, o cientista-chefe do Google, Jeff Dean, afirmou:
“Continuamos comprometidos com uma abordagem responsável da inteligência artificial. Estamos aprendendo continuamente a entender os riscos emergentes enquanto também inovamos com ousadia”.
*Com informações de Google e BBC News
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