Em meio ao imbróglio criado pelo PT por causa da recepção oferecida pelo governador Renato Casagrande ao ex-juiz e presidenciável Sérgio Moro, uma especulação mexeu com o imaginário político capixaba: a possibilidade de Casagrande deixar o PSB e se candidatar à reeleição por outra legenda.
Acostumado com a falta de compromisso identitário dos políticos, sempre buscando espaços eleitorais mais do que de ideais, o mercado deglutiu a versão que alguém soltou no ar, sem levar em consideração um aspecto muito importante: Renato Casagrande é o único político de expressão no Espírito Santo a ter uma única cara partidária. Desde 1990, quando elegeu-se deputado estadual pela legenda.
Renato havia retornado engenheiro florestal para Castelo, onde nasceu, em meados dos anos 80, depois de estudar na Universidade de Viçosa, onde militou no movimento estudantil, ligado ao PCdoB, que liderava o setor no País.
A partir de 1996, quando, numa disputa quase fratricida, “tomou” o comando do PSB do professor Renato Viana Soares – que havia liderado a reconstrução da legenda desde que, em 1986, o partido readquiriu os direitos constitucionais cassados pela ditadura militar em 1965 -, Renato Casagrande sempre foi o principal expoente do socialismo democrático no Estado e virou cacique nacional, condição que nenhum outro político capixaba possui.
São 30 anos militando eleitoralmente pela legenda: deputado estadual eleito em 1990, vice-governador eleito em 1994, derrotado na disputa do Governo em 1998, deputado federal eleito em 2002, senador eleito em 2006, governador eleito em 2010, derrotado no projeto de reeleição em 2014 e de novo governador em 2018.
Nos interregnos, sempre esteve ocupando alguma posição política representando o partido, inclusive antes de sua primeira eleição – quando havia retornado a Castelo e ocupou funções públicas por lá, com rápida passagem pelo PMDB antes de ingressar na atual e definitiva legenda, e cursou Direito, sua segunda graduação.
O PSB, a propósito, é o único partido brasileiro que nunca trocou de nome, desde que jovens socialistas, divergindo da linha internacionalista do Partido Comunista Brasileiro, criaram a Esquerda Democrática em 1947 e, logo em seguida, a transformaram no Partido Socialista Brasileiro. A legenda chegou ao Espírito Santo em 1950, pelas mãos do escritor Rubem Braga, que incentivou seu irmão Newton a desenvolver o PSB no Espírito Santo, a partir de Cachoeiro de Itapemirim – a capital secreta também do socialismo brasileiro, pelo menos no nosso Estado.
Assim, é absolutamente desproposital pensar a possibilidade de Renato Casagrande deixar o PSB. Até porque, se isso acontecer, o partido se apequena de tal forma, que passa apenas a fazer figuração. Afinal, seus quadros no Estado não são lá essas coisas, o que, aliás, se constitui num sério problema para o governador na hora de formar o time.
DA REDAÇÃO: O portal recebeu algumas observações que acolhe e registra: “Coser e Perly têm a cara do PT”. Acrescentaríamos também a deputada Iriny Lopes. Quanto à informação que o PSB é o único partido que não mudou de nome, a referência é às agremiações anteriores a 1964. Logicamente que existe uma célula histórica, ainda que diminuta, do Partido Comunista, mas oficialmente o PCB virou PPS e depois Cidadania.
(José Caldas da Costa/Weber Andrade)
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