Desde a última semana o presidente Jair Bolsonaro tem demonstrado destempero eleitoral. Primeiro, a exemplo de João Baptista Figueiredo, o quinto presidente general, aquele do “diga ao povo que me esqueça”, e que gostava mais de cavalos do que de povo, tem declarado não gostar de ser Presidente da República. Depois, passou a dizer que “sem eleições limpas” não será candidato à reeleição.
Difícil saber o que ele chama de eleições limpas num sistema eleitoral em que se elegeu e reelegeu várias vezes durante três décadas, e elegeu seus filhos em diferentes instâncias. Atualmente, dois deles estão no Congresso – um como deputado federal e outro como senador – e outro é vereador no Rio de Janeiro, aliás, por onde Jair começou sua carreira quando entrou na política num momento em que estava ameaçado de expulsão das FA por planejar atentados a bomba contra quartéis do Exército.
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Na última reunião ministerial, nesta quinta-feira, 7, o Presidente voltou a falar em não disputar as eleições.
Diogo Mainardi, em sua coluna em O Antagonista, aborda o assunto, tomando por base matéria em O Globo, e cita que, se for para o segundo turno, Jair vai para a tentativa de golpe, se perceber, como demonstram as pesquisas, que é real sua chance de perder.
O humor do presidente teria piorado depois que Artur Lira, presidente da Câmara, teve que adiar, também na quinta, 7, a votação da chamada “PEC das Benesses”, por falta de quórum. Pelo jeito, ratos estão pulando do navio. Essa PEC afronta, segundo juristas, a legislação por criar benefícios no período eleitoral sob a tutela de um “estado de emergência”. Em outras palavras, dinheiro público para comprar votos.
O certo é que essas eleições serão as mais tensas e desafiadoras desde a eleição de Fernando Collor de Mello em 1989. Um teste real não apenas para a democracia, mas para o funcionamento das instituições. Como se vê, mais de quatro décadas depois do retorno das eleições diretas e quase cinco décadas após o fim do regime militar (1964-1985), ainda vivemos sob a ameaça de baionetas e do terrorismo.
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Fonte do TNL, conectada com o Governo Federal, fez contato com o portal para questionar as informações acima veiculadas, que são mantidas em nome do direito de expressão. Registre-se, porém, que essa fonte garante que o adiamento da votação da PEC 1/2022, já aprovada pelo Senado, foi combinada com as lideranças partidárias para ajustes e que ela será aprovada nesta terça-feira (12). Até porque ela foi apensada à PEC 15/2022, a PEC dos Biocombustíveis, que já tramitou pelas comissões. Assim, o relator passou a ser o deputado Danilo Forte (União Brasil-CE).
A mesma fonte questiona a tese de que a PEC 1/2022 tenha propósito eleitoral. “É apenas uma coincidência com o período eleitoral”, argumenta. A proposta aumenta em R$ 200,00 o Auxílio Brasil e cria um auxílio de R$ 1 mil para os caminhoneiros.
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Fato: até por causa do período eleitoral, dificilmente os parlamentares se posicionarão contrários aos benefícios propostos. Pelo contrário, os aprovarão e tentarão reduzir o impacto que eles podem causar, “apenas por coincidência”, em favor da candidatura do Presidente da República à reeleição. De certo modo, o Governo colocou, numa só movimentação, o Congresso e o próprio Judiciário em xeque-mate. (José Caldas/Weber Andrade)
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