Weber Andrade*
Inventar palavras é um ato de puro exercício literário. João Guimarães Rosa, aquele do ‘Grande Sertão:Veredas’, citou um escondido Mutum – seria a terra onde nasci? – em sua obra, onde começa a saga de Miguilim, em Campos Gerais, um personagem fascinante do escritor que se destaca por ser um menino míope no sentido literal da palavra. Míope, mas de palavreado farto e imaginário rico por obra do doutor de Cordisburgo.
Porém, o livro dele que mais encanta a gente é Sagarana, o primeiro, onde tece narrativas divertidas e diferentes de tudo que já li no romanceiro nosso e no de alhures – dos quais não posso analisar o escrito, que já foi traduzido de língua diversa da nossa.
O titulo do livro é uma palavra inventada, um hibridismo. “Saga” tem origem germânica e significa “conto heróico” ou “lenda”. Já “Rana” tem origem no Tupi e significa “que possui semelhança”.
Li isso tudo e muito mais desde a adolescência até os 40, que é quando a gente começa a viver, segundo uns entendidos de vivência e morte. Vivia eu de leitura, mais que de pão e vinho nesses tempos, quando mais em fuga estava de mim e do mundo do que agora.
Cheguei nos sessenta muito vividos, mal por mal, bem por bem, mas sempre procurando não fazer mal a ninguém. Quis ser poeta e escrevi rimas diversas que não me renderam muitas críticas e pouquíssimos elogios, também escrevi crônicas muito longas para serem crônicas e muito curtas para serem um conto. Ainda escrevo, como agora, mas já de forma comedida, sem aquele ímpeto da juventude.
Neste quase fim de vida – há quem acredite que eu vá viver uns 100 anos, mesmo sem orelhas grandes – deparando com um mundo digital incomodante, resolvi inventar uma palavra que talvez o doutor Guimarães tivesse inventado primeiro se entre nós estivesse: Analfabetose.
A palavra, procurei nos dicionários, fui ao Google e não achei. Não tive coragem de perguntar ao chatgpt, porque já me disseram que ele é mais sabido do que todos. Portanto, a tomo como minha.
Mas a minha palavra criada pretende definir uma patologia nova, uma doença que não mata de repente, mas que está acometendo um tantão de gente nova e velha nas redes sociais que deveríamos procurar uma cura. Eu, fique claro, não pretendo viver nem morrer disso.
*Weber Andrade é cronista bissexto e colaborador assíduo do tribunanorteleste.com.br
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