*José Roberto Barbosa
A consolidação dos Portos de Urussuquara, no Norte do Espírito Santo, e de Caravelas, no extremo sul da Bahia, representará um novo paradigma na lógica portuária brasileira.
Distantes cerca de 200km entre si, ambos compartilham características que os qualificam como portos de nova geração – são os TUPs, Terminais de Uso Privado, possuem vocação multimodal, capacidade para operação de diferentes tipos de carga, e estão posicionados estrategicamente em regiões de grande potencial logístico, ainda pouco explorado.
A possível integração ferroviária entre esses dois terminais não apenas criará uma redundância operacional saudável, mas inaugurará um conceito de complementaridade territorial.
Urussuquara pode se especializar em grãos, contêiners e combustíveis, enquanto Caravelas pode operar fertilizantes, celulose ou combustíveis, dependendo da demanda, das rotas marítimas e das estratégias logísticas das operadoras.
Essa simbiose se toma ainda mais estratégica com a presença do Corredor Logístico Multimodal Centro Leste, em fase adiantada de estudos técnicos e licenciamento ambiental, que poderá ser conectado a ambos os terminais, ampliando a flexibilidade para os embarcadores do agronegócio, de mineração e da indústria.
Em vez de depender, exclusivamente, de um único terminal portuário, os exportadores e importadores passarão a ter uma rede de opções, com tempos de resposta mais rápidos e dinâmicos, menos custo de frete e maior previsibilidade, reduzindo, assim, atrasos e custos operacionais.
Importante destacar que, além de Urussuquara e Caravelas, o projeto do Corredor Logístico Multimodal Centro Leste prevê uma ramificação estratégica em Governador Valadares, cidade que, historicamente, se posiciona como um entroncamento ferroviário e rodoviário relevante, no vale do Doce, em Minas Gerais, no mesmo modelo do já previsto para a cidade de Barra de São Francisco.
Essa conexão poderá, ainda, se desdobrar em acessos diretos aos portos centrais do estado do Espírito Santo, como o Porto de Vitória (Vports) e o Complexo Portuário de Tubarão, além dos portos de Aracruz, ampliando ainda mais a malha logística e fortalecendo o papel do Espírito Santo como um estado logístico por excelência.
Essa flexibilidade permite que, principalmente, o corredor ferroviário seja dinâmico, capaz de redirecionar fluxos conforme sazonalidades, gargalos operacionais ou estratégias comerciais.
Isso favorece, inclusive, a competitividade portuária regional, estimulando uma lógica de cooperação e eficiência, e não de concorrência predatória, dentro dos novos padrões de movimentação de cargas.
A interligação entre Urussuquara, Caravelas, Governador Valadares e os portos centrais capixabas configurará uma malha estratégica que integrará litoral e interior, Centro-Sul da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e Goiás.
É o surgimento de um sistema logístico policêntrico, resiliente e adaptado às exigências do século XXI.
*José Roberto Barbosa é CEO do Grupo Petrocity – Ferrovias, Portos, Energia e Navegação
Corredor Centro-Leste: a ferrovia que vai mudar o mapa do transporte no Brasil
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