Um ato de violência deu origem à comemoração de 7 de abril como Dia do Jornalista. Foi a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que a criou em 1931, em memória de Giovanni Battista Libero Badaró, médico e jornalista.
Neste Dia do Jornalista, a Tribuna Norte-Leste faz um tributo especial ao seu fundador, jornalista Weber Andrade, que faleceu, de morte súbita, aos 62 anos no último dia 22 de março – seu corpo somente foi encontrado dois dias depois, no pequeno apartamento onde morava, em Barra de São Francisco (veja a homenagem de um de seus amigos)
História
Há uma rua no Cento de São Paulo com o nome de Líbero Badaró, assassinado em 22 de novembro de 1830, em São Paulo, por seus opositores políticos.
Seu assassinato gerou um movimento popular que contribuiu para a abdicação de D. Pedro I do trono brasileiro em 7 de abril de 1831, em favor de seu filho, D. Pedro II, com apenas 14 anos.
A ABI, fundada em 7 de abril de 1908, também desempenhou um papel importante na instituição do Dia do Jornalista, com o objetivo de garantir os direitos dos profissionais da área.
A data não apenas reconhece o trabalho dos jornalistas, mas também serve como um lembrete das ameaças que muitos enfrentam no exercício de sua profissão.
Em 2022, segundo o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), 67 jornalistas foram assassinados, destacando a importância de conscientização sobre os riscos enfrentados por esses profissionais em todo o mundo.
O que faz o jornalista?
O profissional de Jornalismo desempenha um papel fundamental ao dedicar-se à coleta, investigação, análise e transmissão de informações de interesse público.
Sua responsabilidade principal é atuar como intermediário entre os eventos e as notícias, apresentando fatos relevantes ao conhecimento do público em geral.
O jornalista é responsável por pesquisar informações, conduzir entrevistas, investigar fontes, buscar documentos e dados relevantes, e acompanhar eventos em tempo real, visando obter informações precisas e verificadas de fontes confiáveis.
Com base nessas informações, ele analisa e interpreta os fatos, destaca aspectos relevantes e verifica a veracidade das informações confrontando diferentes fontes para assegurar a precisão dos dados apresentados.
NOVOS TEMPOS
O jornalismo real jamais deixaria de existir e perpassa a simples reprodução de relatos oficiais, como tornou-se comum nos duas atuais, como se tornou comum com a liberdade que se tem para criar um sítio na Internet e chamar de jornal.
A prática do jornalismo pressupõe compromissos éticos, como o respeito à autoria de textos e fotos, por exemplo, e também aos direitos humanos.
É muito mais do que divulgar dados, mas saber transformá-los em informação. A “tia do whatsapp” não faz jornalismo, faz fofoca.
Há uma discussão que nunca se acaba: a regulamentação da profissão por meio do diploma superior de um curso de jornalismo, mesmo que isso seja cartorial e venha acompanhado mais de interesses comercias de instituições de ensino do que da boa formação profissional.
No Brasil, hoje, predomina a tese de que o exercício do jornalismo é uma prática livre. “Pero non mucho”.
VIOLÊNCIA
Nos tempos de Libero Badaró as regras eram outras, mas o jornalista, em regra, era visto como alguém mais intelectual e capaz de expressar-se bem. Há uma tênue divisa entre jornalismo e literatura. As vozes se confundem.
O jornalismo passou a ser uma profissão de alto risco nos últimos anos. O texto a seguir foi publicado pela Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais.
Após um crescimento sem precedentes nos últimos anos, o número de casos de violência contra jornalistas voltou a cair em 2023.
O relatório Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) mostra que, no ano passado, foram registrados 181 casos, o que representa uma queda de 51,86% em comparação ao 376 de 2022.
No entanto, para a presidenta da entidade, Samira de Castro, a realidade cotidiana do trabalho dos jornalistas no Brasil permanece preocupante.
“As agressões à categoria e ao Jornalismo continuam e, em determinadas categorias de violência, até cresceram significativamente em 2023, quando comparadas ao ano anterior”, afirmou a dirigente sindical, durante lançamento do relatório, realizado em 25/01, na sede do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro (SJMRJ).
Samira de Castro destacou que, apesar da redução em números absolutos, a violência contra jornalistas no país está no mesmo patamar de 2013, quando aconteceram as jornadas de junho e houve uma explosão das violações a atividade jornalística no Brasil, a partir da cobertura dos atos de rua.
“OS 181 CASOS DE 2023 REPRESENTAM 34,07% A MAIS DO QUE OS 135 CONTABILIZADOS
EM 2018, ANTES DA ASCENSÃO DE BOLSONARO”, COMPLETA A PRESIDENTA, CITANDO A VIOLÊNCIA INSTITUCIONALIZADA PELO EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA.
Nos quatro anos em que Bolsonaro ocupou a Presidência, ele próprio foi o principal
agressor, atacando pessoalmente a imprensa e incentivando seus apoiadores a também se tornarem agressores.
De 2019 a 2022, Bolsonaro realizou 570 ataques a veículos de comunicação e aos jornalistas, numa média 142,5 de agressões por ano; uma agressão a cada dois dias e meio. A violência verdadeiramente institucionalizada pela Presidência da República.
Tipos de violência
Os casos de cerceamento à liberdade de imprensa por meio de ações judiciais cresceram 92,31% no último ano. O número saltou de 13 ações ou inquéritos registrados em 2022 para 25 em 2023. Já a violência contra os sindicatos e os sindicalistas aumentou 266,67%, passando de três para 11 casos, na mesma comparação.
Foram criadas, em 2023, as categorias LGBTfobia/transfobia e Perseguição.
Houve três ocorrências de ataques transfóbicos e um ataque homofóbico. E houve uma situação de perseguição a um jornalista, por meio de variadas ações, de um mesmo agressor, com o objetivo de impedi-lo de trabalhar.
Ameaças/hostilizações/intimidações foi a violência mais frequente, em 2023. Foram 42 casos (23,21% do total), mesmo com a queda de 45,45%, em comparação com 2022, quando foram registradas 77 ocorrências. Ela foi seguida de perto pelas Agressões físicas, com 40 episódios (22,10% do total), nove a menos (18,37%) do que os 49 do ano anterior.
As Agressões verbais somaram 27 casos (14,92%). Na comparação com 2022, houve um decréscimo de 41,30%, com 19 episódios a menos. Na sequência, foram registrados 13 casos de Impedimentos ao exercício profissional. Como em 2022, ocorreram 21 casos, registrou-se queda de 38,10%.
Foram registradas, também, duas Detenções e uma condução coercitiva, mantendo o mesmo número de casos da categoria registrado em 2022, e um caso de Injúria racial/racismo, dois a menos que os três do ano anterior.
Houve, ainda, o assassinato do blogueiro e militante político Thiago Rodrigues, vitimado no Guarujá, em dezembro. A morte de Thiago foi registrada, mas não foi somada aos casos de violência do Relatório, por não se tratar de um profissional pertencente à categoria dos jornalistas.
Em 2023, houve queda no número de ocorrências na maioria das categorias de violência. Excluindo-se a Descredibilização da imprensa e a Censura, nas demais categorias esse decréscimo não foi significativo em números absolutos, mesmo em alguns casos em que o porcentual, em comparação com 2022, foi elevado.
É o caso, por exemplo, dos Atentados e Ataques cibernéticos, que caíram de cinco para um e de nove para um, respectivamente. Em porcentagem, foram menos 80% e 88,89%, respectivamente. (Da Redação com informações da Fenaj)
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