Tinoco dos Anjos*
Quando chegamos – eu, Arthur e Elizeth -, os preparativos para a festa de aniversário do sobrinho e deputado estadual Mazinho dos Anjos, 42, estavam apenas começando, por volta de meio dia, desse sábado. Era a minha primeira vez na quadra de uma escola de samba, no caso a Novo Império, campeã de 2022, que vai homenagear minha terra natal, Barra de São Francisco, no Carnaval do ano que vem.
Muitas mesas e cadeiras brancas e um solzinho que ameaçava esquentar. No palco, o Clube do Samba Vix abria seu repertório de show de animação da feijoada com uma música que me fez levantar para ensaiar os primeiros passos do dia: “Malandro”, de Jorge Aragão. Desde que me envolvi totalmente, a partir do segundo semestre de 2021, com os programas semanais de rádio Ensaio Geral, de Velasco, e Domingo Brasil, de Tarcísio, dentro do projeto Fina Sintonia, estou ligadíssimo nas pérolas da Música Popular Brasileira. E essa música teve uma gravação consagradora de Elza Soares, que foi parar na trilha sonora de um filme de Sophia Loren, irresistível.
Em seguida, começamos a avaliação sobre as despesas com a cerveja, o único item da festa que seria custeado pelos próprios convidados, 8 reais o latão da Amstel. O pessoal foi chegando e a comitiva de políticos pré-candidatos às eleições do ano que vem também. Normal, porque o aniversariante faz parte da classe.
Quando começou a chegar a feijoada, o prazer de estar na festa aumentou, porque era de uma qualidade nunca vista antes por mim em evento semelhante. À medida em que se alimenta e bebe, a música adquire um envolvimento maior com os presentes. Todo mundo parece feliz. Foi aí que comecei a entender o que significa uma quadra de escola de samba. Sem discriminação de classes sociais, todos estão ali para festejar, como diz aquele sucesso de Beth Carvalho e a tal comunidade sempre citada pelos sambistas ocupa realmente seu espaço na festa. Parece ser o Brasil com o qual todos nós sonhamos.
Por volta das 16 horas, comentei com um assessor de Mazinho sobre a aparição da escola de samba, na parte musical. “Calma, está tudo programado”, diz ele. De repente, o show da banda se encerra e o palco é tomado por um locutor típico de animação de quadra, com alto poder de mobilização dos presentes. Vai se formando a expectativa da entrada da bateria e da apresentação do samba-enredo de 2024.
Como havia um aniversário, era preciso também cantar parabéns. E aí, aconteceu uma surpresa pra mim, fui convocado a discursar em nome da família Dos Anjos sobre a iniciativa do enredo homenageando Barra de São Francisco. Nem estava no palco, falei ali debaixo mesmo da emoção da homenagem de quem nasceu naquela cidade, no noroeste do Espírito Santo, na “fronteira” com a mineira Mantena.
Integrantes da escola assumem protagonismo dançando ao som de antigos sambas. Um casal de mestre-sala e porta-bandeira aguarda sua vez de entrar em cena. Vai aumentando a expectativa, até que os dois intérpretes oficiais começam a cantar o samba que fala da cidade onde ocorreu no passado o episódio político chamado Contestado. Um conflito com Minas Gerais, hoje totalmente superado, daí pra frente, foi só animação e até um beijo meu na bandeira da escola de samba.
Ao final, literalmente, vesti a camisa da Novo Império. Tenho até fevereiro do ano que vem pra aprender a cantar o samba feito pela ala dos compositores. Fui chamado várias vezes de imperiano. Descobri minha escola no Carnaval da Grande Vitória. Particularmente, conclui que esse envolvimento com a Novo Império está contribuindo para melhorar o relacionamento entre alguns integrantes da família Dos Anjos.
*Tinoco dos Anjos é veterano jornalista capixaba
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