Usiel Carneiro de Souza*
“Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza” (Jorge Ben Jor).
Por qual Deus? Dos conservadores ou dos progressistas? Dos católicos ou dos evangélicos?
Deus anda meio dividido entre nós! Somos um país majoritariamente cristão. A participação de evangélicos nesta conta tem crescido rapidamente nos últimos anos. Nosso estado é um em que isso tem acontecido a taxas bastante altas. Mas já não nos dividimos entre evangélicos e católicos como antes.
Desde o processo que colocou no poder o presidente Bolsonaro, dentro do seguimento cristão uma clara divisão surgiu: conservadores e progressistas. Termos usados com sentidos confusos, mas que não vem ao caso tratar aqui.
A nova divisão não mostra sinais de retrocesso. Ao contrário, parece que as duas fileiras estão seguindo firmes em caminhos divergentes.
Uma delas confiante de que representa a verdade e tem consigo o sentido da Palavra de Deus representada pela Bíblia. A outra, confiante em reavaliar ideias tradicionais, inclusive compreensões de textos bíblicos, segura de que tal atitude não corresponde a infidelidade mas, ao contrário, significa apego ao verdadeiro espírito da Bíblia.
Pelo bem na Nação, o que a todos interessa, devemos levar mais a sério e concordar com um ponto fundamental e inquestionável da fé cristã, independente do lado que estejamos: somos pecadores.
Ser pecador é viver em paradoxo, em contradição. E isso é bem mais que simplesmente cometer pecados. Se fosse apenas fazer algo errado, artifícios para impedir ações pecaminosas seriam o caminho para produzir santos. Isso já foi tentado, mas jamais funcionou. Porque, mesmo sem cometer pecados, pecadores são pecadores, pois carregam consigo um mal que nunca morre.
Na canção de Jorge Vercíllo, “Encontro das Águas”, ele diz: ”Fui cruel, sem saber que entre o bem e o mal Deus criou um laço forte, um nó. E quem viverá um lado só?”
Podemos discutir quanto ao papel de Deus na coisa, mas precisamos admitir a coisa em si: todos vivemos os dois lados! Somos pecadores e não podemos deixar de ser! Mas podemos ser acolhidos por Deus! É a ideia da graça, que é fundamental na fé cristã. Segundo a fé cristã ela é a única saída para pecadores.
A graça é filha primogênita do amor de Deus.
Pela graça, mesmo sendo ainda os mesmos e vivendo como nossos pais, como cantou Belchior, a santidade vira semente em nós e floresce, superando o mal.
Pela graça podemos aprender com Deus o seu segredo: amar.
Pela graça acabamos por entender que o amor é o caminho espiritual de quem crê em Jesus.
A graça é que possibilita santos de verdade para a história humana. Pois é do amor que eles nascem! Pois santo é quem ama e não quem não peca!
Se as muitas Bíblias em nossas casas e em nossas mãos, em lugar de serem defendidas, adoradas e usadas como arma contra o outro, tornarem-se incentivo ao amor uns pelos outros, mesmo entendendo a vida e a própria Bíblia de forma diferente, nosso país será abençoado por Deus.
Tropical e bonito por natureza ele ainda é!
* Usiel Carneiro de Souza é teólogo, administrador e pastor da Igreja Batista da Praia do Canto (Vitória – ES)
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