
Não há cristão, cujo compromisso espiritual seja maior com o Evangelho e com o Cristo do que com suas próprias tradições, que não tenha se incomodado com o nascimento da expressão “terrivelmente evangélico”.
Desde lá, a associação improvável dos termos vem se revelando profética. E com isso, apenas piorou o que não vinha muito bem – a imagem dos evangélicos, devido, em particular, ao amor e busca pelo dinheiro como base teológica de alguns grupos.
Ao amor e busca pelo dinheiro, associou-se o amor e busca pelo poder. E a política e suas possibilidades tornaram-se lugar acessível no atual governo. Para muitos pastores, bispos e apóstolos evangélicos (estas duas últimas denominações já bastante sintomáticas), as circunstâncias tornaram-se irresistíveis. Com as portas abertas por um governo que declara abertamente sua disposição em levar o país para onde os pastores quiserem, o frisson e celebração apenas cresceram.
Para muitos, talvez, bem intencionados, porém, sem dúvida alguma, mal avisados, a questão alcançou ares apocalípticos. O bem estaria finalmente vencendo o mal. Agora se poderia dizer com segurança “O Brasil é do Senhor Jesus Cristo”.
Parece ter se multiplicado a participação de pastores em esferas públicas nas mais diversas instâncias do poder público. “Terrivelmente evangélicos” começaram a surgir. Muitos, que não eram, desejaram ou passaram a ser. Mostrar-se intolerante, passou a ser louvável. Num compasso cada vez mais acelerado, os seguidores de Jesus parecem tê-lo deixado caminhando sozinho “no caminho de Emaús”.
Todo esse quadro é apenas um dos aspectos que revelam o que muitos líderes e pensadores cristãos consideram ser sinais de um cristianismo evangélico enfraquecido. Entre outros, acrescentam: distanciamento da vida prática, resistência a mudanças, leitura bíblica pretensamente literalista.
A prisão do ex-ministro Milton Mendes e dois outros pastores, suspeitos de operarem um balcão de negócios no Ministério da Educação, reforça as cores da imagem que pesa contra a comunidade evangélica brasileira. É importante que se lembre que o mundo evangélico não é monolítico. Ao contrário! Mas, é também um fato que a lama acaba manchando todo mundo.
Bem, voltando aos termos “terrivelmente” e “evangélico”, que as últimas cenas tenham entristecido terrivelmente os evangélicos. Que não acrescentem aos enganos, passados e recentes, o de enganarem a si mesmos. Seria terrível para o futuro dos evangélicos!
Sem saudosismo, mas com uma vontade danada de defender a raiz do evangelho de Cristo, bons tempos aqueles em que a nossa arma era a Palavra, o poder que buscávamos vinha do alto e usávamos a força do argumento para levar as pessoas aos pés da cruz do Calvário e não às benesses do Planalto.
Usiel Carneiro de Souza
Administrador e Teólogo
José Caldas da Costa
Jornalista e Geógrafo
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