A terceira mulher mais idosa do Brasil, dona Maria Rita Pereira, que completou 114 anos em janeiro deste ano, recebeu, neste final de semana, o “batismo nas águas”, em uma cerimônia rápida no rio Itaúnas, perto da AABB, em Barra de São Francisco.
A única filha viva dela, dona Zenilda Rita de Jesus, 71 anos, que é evangélica e frequenta a Igreja Assembleia de Deus Arca da Aliança do bairro Colina, disse que resolveu fazer o batismo da mãe por acreditar que essa é uma condição para entrar no Reino de Deus.
“Minha mãe está muito fraquinha, já quase não ouve e não enxerga direito. Acredito que ela ainda vai viver muito tempo, mas aproveitamos a oportunidade da visita do pastor Amilton Bento (líder da congregação em Nova Almeida, na Serra), para batizá-la. O próximo será o meu filho”, comemora ela.
O pastor da igreja em Barra de São Francisco, Sebastião da Cruz Caetano, o popular Tiãozinho da Colina, que pastoreia há quase três anos, disse que tem acompanhado a situação da família e decidiu, junto com dona Santa, fazer o batizado da matriarca também por acreditar que essa é uma ação necessária na vida de todos os seres humanos.
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Batismo nas águas
O jornalista e escritor José Caldas da Costa, que veio a Barra de São Francisco no ano passado, conhecer dona Maria Rita, explicou que “batizar descendo às águas é uma tradição cristã dos primeiros dias da igreja, para lembrar o batismo de Jesus ministrado por João, o Batista, no rio Jordão, e que marcou o início do ministério de Jesus como o Cristo de Deus.”
Com a disseminação da fé, em algum momento, alguém adota o batismo de crianças e introduz o ritual da aspersão, o que acaba se fortalecendo com a institucionalização da igreja pelo imperador Constantino no século IV.
“Porém, um grupo chamado anabatistas, ou rebatizadores, que remonta ao século II, não aceita essa mudança, mantém a tradição do mergulho para ser fiel ao termo grego baptismo. E mais, passa a rebatizar aqueles que, consistentemente, confessam a Cristo”, explica Caldas.

História de dona Maria Rita
Dona Maria Rita Pereira nasceu na região do Contestado, em 15 de janeiro de 1907, no município hoje conhecido por Mutum (MG). Maria Rita veio, inicialmente para a região leste de Minas, ainda bem jovem, montada em lombo de burros ou mulas, únicos meios de transporte de alimentos e outras provisões daquele tempo e morou por vários anos em São João do Manteninha (MG).
As tropas saíam da região de São Manoel do Mutum em direção ao “norte”, como era chamado o promissor Patrimônio de São Sebastião (hoje Barra de São Francisco), subindo pelo rio José Pedro, até alcançar o rio Manhuaçu, onde atravessavam o rio Doce, em balsas, e seguiam por Baixo Guandu e Pancas, ou mesmo por Resplendor até alcançarem a região.
Ela também viveu em Ecoporanga durante um tempo e, pelos cálculos da filha Zenilda, a dona Santa, vive em Barra de São Francisco há cerca de 35 anos
Casou-se com 25 anos de idade, ainda em Mutum (MG). A idade do primeiro casamento é calculada com base na idade da filha mais velha, Maria Pereira da Silva, que, se viva fosse, estaria com 86 anos. Depois dessa, vieram Ozias, que morreu aos 7 anos de idade, José Raimundo, que teria 84 anos, Zenilda Rita de Jesus, a dona Santa, única viva, com 71 anos, e Zenildo, que teria 69 anos. Este, ficou 30 anos sumido para Rondônia, até o reencontro com a família, pouco antes de morrer.
O primeiro esposo chamava-se Raimundo José Pereira, que é o pai de todos os filhos dela. Depois que este morreu, coincidentemente, casou-se com outro Raimundo José Pereira, mas ficou viúva novamente, depois que este foi envenenado.
Entre os dois Raimundos, ainda teve outro marido, que chamava-se Albertino e morreu com 76 anos. O último marido o outro Raimundo José Pereira, que tinha o mesmo nome do primeiro, morreu aos 70 anos, quando dona Rita já tinha 98.
“Se a gente deixasse, ela teria arrumado outro”, conta a neta Rosineia, 48 anos, filha de Zenilda Rita de Jesus, 71 anos, conhecida como Santa, e única filha viva de dona Rita e com quem mora. O pai de Santa, o primeiro Raimundo José, morreu com 45 anos e o segundo marido, Albertino, morreu com 76.
Hoje ela tem cerca de 100 descendentes, em seis gerações, a maioria deles radicada no Mato Grosso e Rondônia, além do Paraná.
Sem ter estudado, dona Maria Rita criou todos os filhos na roça, trabalhando em serviços como capina, plantio de fumo – o pai era produtor de fumo – e ajudando os pais nos afazeres domésticos.
Dona Maria Rita Pereira assumiu a liderança de pessoa mais velha do Espírito Santo com a morte de Esberta Evangelista dos Santos, a dona Caçula, em São Mateus, onde nasceu e viveu. Dona Caçula já estava muito debilitada, em cima de uma cama, como registrou o jornal local Tribuna do Cricaré. De acordo com o historiador Eliezer Nardoto, “dona Caçula morreu há seis meses”, pouco depois de completar 115 anos no dia 18 de janeiro de 2020.
Terceira mulher mais velha do Brasil, dona Maria Rita tem à sua frente dona Severina Conceição, nascida em 7 de janeiro de 1904, e que completou 116 anos em 2020, e dona Inocência Vieira de Jesus, de Paulo Afonso (BA), nascida em 16 de julho de 1906. Ela é apenas seis meses mais velha que dona Maria Rita. (Weber Andrade com José Caldas da Costa)
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