É algo que precisaremos decidir: esses novos tempos tecnológicos serão uma benção ou uma maldição? Esses novos tempos de revisão de conceitos nos arruinarão ou nos amadurecerão? Seremos bestializados pelas novidades ou refinados? Seremos iluminados pelo passado ou fossilizados?
Com um pouco de calma (e de estrada na vida), acabo desconfiando de afirmações fatalistas sobre o futuro e também das saudosistas sobre o passado, como se houvesse sido um tempo somente de acertos. E acredito que devemos, sim, ir devagar com o andor, mas a procissão não pode parar! Trata-se da vida!
O grande Charles Dickens, considerado o mais proeminente romancista da era vitoriana, com suas declarações, leva-nos a refletir sobre a dialética da vida:
“Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos. Foi a idade da sabedoria, foi a idade da tolice. Foi a época da fé, foi a época da incredulidade. Foi a estação da luz, foi a estação das trevas. Foi a primavera da esperança, foi o inverno do desespero. Tínhamos tudo diante de nós, não havia nada antes de nós. Todos íamos direto para o céu, todos íamos direto para o outro lado.”
E aproveito para, imediatamente, trazer o poeta brasileiríssimo, Gonzaguinha: “Somos nós que fazemos da vida, como der, ou puder, ou quiser”. Pensemos, à luz disso, sobre educação e sobre padrões morais.
Há uma conversa em curso entre legisladores sobre a necessidade de se proibir telas nas escolas, o que significaria a preservação nas escolas de certas estratégias de ensino. Por exemplo, a atividade de se copiar o que o professor escreve no quadro. Advoga-se que assim preserva-se a capacidade de memória de curto prazo do aluno.
Ouvi um especialista sobre isso recentemente. Mas, fiquei me perguntando: eu sabia de memória o telefone de todas as pessoas com quem precisava falar com alguma frequência. Também memorizei a tabuada. Hoje não sinto necessidade de nenhuma das duas capacidades. Tenho outras! A tecnologia me colocou diante de um novo mundo.
A educação precisa lidar com novos tempos e os que decidirão sobre ela farão melhor seu trabalho se tiverem em mente que não há somente males, mas também coisas boas no novo momento provido pela tecnologia. O que as estratégias educacionais fizeram no passado é fácil medir. O que a tecnologia possibilita no presente é preciso descobrir e aproveitar.
Há também uma crise sobre as mudanças de conceitos e a revisão de padrões socialmente estabelecidos. Há quem viva de apontar perigos e absurdos. E certamente há ambos em certas cenas. Mas também o passado protagonizou seus absurdos e fez suas vítimas. O pior e o melhor estavam lá e estão aqui.
Mas seria o caso de não admitirmos mudanças? Por que pensar que mudanças que possibilitem a existência pública e digna do outro necessariamente representa um risco a mim, que até então detive o monopólio do que era aceito? A moralidade do passado é irretocável? Nenhuma jamais foi.
Que pena que sejamos naturalmente maniqueístas, quando temos a possiblidade maravilhosa de não sermos! Que pena que permaneçamos tão incapazes de ouvir e tão apressados em falar! E com isso atrasamos a vida e a tornamos dolorosa para muitos! Elevamos desnecessariamente o custo de sermos uma sociedade mais igualitária e, lamentavelmente, fortalecemos as mãos dos que a fazem violenta.
Os tempos mudaram, mas não necessariamente para pior, se soubermos lidar com o que há de diferente e de novo. Se desenvolvermos perspectivas menos individualistas, que superem o pensamento de gueto. Se avançarmos para perspectivas mais coletivas, capazes de contribuir com o bem comum, especialmente quando o avanço parecer beneficiar apenas o outro. Pois está nisso nossa chance.
Os tempos passados não retornarão. O mundo seguirá avançando. Muros seguirão caindo tanto quanto pontes sendo destruídas. A salvação não está no passado. Está em nossa sabedoria para lidar com o que ainda não conhecemos tão bem, mas que necessariamente não está destinado a ser mal. E também na capacidade de reconhecer nossos equívocos ao longo da história.
Um caminho seguro quando ainda estamos construindo o caminho é o compromisso de amar e respeitar o próximo. É a escolha de sempre honrar a vida e defender a dignidade humana. Agindo assim é que nossa fragilidade e equívocos deixarão de produzir cadáveres!
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