A comunidade do bairro de Aparecida, na região de Porto de Santana, em Cariacica, nunca mais será a mesma desde que uma de suas moradoras fez a família e a vizinhança se orgulharem de quem são, representadas no palco do Domingão do Hulk, na TV Globo, campeão de audiências nas tardes dominicais, por Lorrany Silva, 26 anos.
A moça foi ovacionada pelo auditório ao cantar “Bebi, Liguei”, um dos grandes sucessos de Marília Mendonça (falecida em acidente aéreo em Caratinga, MG), no quadro “3 Minutos pra Brilhar” no último domingo (18). A semana que se passou agora foi sonho e de curtir o sucesso repentino.
Lorrany Silva é cariaciquense, onde sempre morou sua família, onde se casou e teve seu filho de sete anos. Por acidente de percurso, o parto de dona Stela, em que ela nasceu, foi numa maternidade de Vitória, justamente porque era uma gravidez de risco e, na época, Cariacica não tinha ainda uma rede hospitalar que pudesse recebê-la.
DOM INATO
Cantar parece ser um dom inato para Lorrany. Como nas tradicionais histórias de cantores negros norte-americanos, Lorrany também desenvolveu sua vocação cantando desde criança na igreja evangélica frequentada pela família. Na escola também. E aos 7 anos ganhou seu primeiro concurso de música. Nunca frequentou aula de canto.
A realidade de quem mora na periferia das grandes cidades bateu cedo à sua porta, mas Lorrany continuou se divertindo com a música: “Eu sou cristã, mantenho minha fé, frequentei a igreja até minha adolescência, mas hoje não frequento mais”, contou Lorrany para a reportagem da Tribuna Norte-Leste.
Lorrany foi parar no Domingão do Hulk por causa da cunhada Soane (irmã de seui marido), que mandou um vídeo para a produção do programa em que ela apareceu cantando simulando, com o cabo de vassoura, o pedestal do microfone. E, não mais que de repente, o carnavalesco Milton Cunha, que participa do grupo de jurados do programa, apareceu em sua casa em Aparecida para convidá-la a participar do quadro.
As imagens mostram Lorrany emocionada recebendo Milton, acompanhado pela banda de congo e o indispensável “João Bananeira”, uma figura folclórica que expressa a manifestação popular marcante de Cariacica. No palco do Domingão, ela fez bonito. Mas o que vem agora?
“A música surgiu na minha vida de forma natural, fui criada em berço evangélico. Na época do ensino médio, adorava cantar e solar no coral da escola. Canto desde os 6 anos de idade, mas em nenhum momento havia pensado em seguir de forma profissional na música, até surgir essa riquíssima oportunidade de levar meu talento até o palco da TV Globo”, contou ela.
Descolada e articulada, Lorrany fez o ensino médio, onde cursou Técnico em Edificações no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes). Entretanto, não prosperou profissionalmente na área e sim com uma microempresa de faxina junto com sua mãe.
“A experiência foi incrível e superou todas e qualquer expectativa que eu havia criado. A humanização do quadro, o fato deles terem feito questão de não só levar parte da minha família para acompanhar de perto essa minha realização, mas também de exibir um pouco sobre de onde eu venho, minha cidade e sua cultura”, relembrou ela.
Lorrany foi recebida no dia seu fim à apresentação pelo prefeito Euclério Sampaio, que registrou ser a moça um exemplo dos valores que Cariacica tem para mostrar.
Segurando a bandeira do município e sorridente, Lorrany registrou o momento na memória, no coração e na rede social.
“Com o coração cheio de orgulho, carrego a bandeira da minha amada Cariacica. Participar do Domingão com o Huck foi uma honra imensa, mas ver minha cidade sendo destaque nacional por uma pauta positiva me emocionou ainda mais! Gratidão a todos que torceram, vibraram e se sentiram representados comigo. Hoje, Cariacica é notícia pelo que tem de melhor: sua gente, sua força e sua beleza!”, escreveu no Instagram.
JANELA DE OPORTUNIDADE
Para Lorrany, a experiência não foi apenas uma oportunidade de levar o talento para fora do Estado, como também uma chance de investir na nova carreira, desta vez, como cantora.
Como se imaginava, já que ela brilhou no “Domingão do Hulk”, cantando “Bebi, Liguei”, Lorrany tem como inspiração artistas do sertanejo feminino, sendo Marília Mendonça a principal delas. Mas não apenas.
“Marilia Mendonça me serve de espelho, a história de vida, a garra dela. Eu escuto muito as músicas dela, tanto que foi uma de minhas escolhas para cantar na apresentação. Claro, teve toda uma ajuda da produção musical. Outras que também me inspiraam são a Maira & Maraísa e a Simone Mendes”, contou.
Lorrany ainda não tem casa própria, mora de aluguel, e manda um recado para mostrar que está levando a sério a oportunidade.
“Empresários do Espírito Santo e do País inteiro, estamos aí. Meu plano é continuar. Para uma pessoa que nunca pensou em viver da música, esse gostinho, essa experiência incrível que nunca vou esquecer, foi uma virada de chave na cabeça, no meu pensamento de que é possível sim. Me deu coragem para conquistar mais coisas do que eu conquistei, realizar mais sonhos através desse dom maravilhoso que Deus me deu”, projetou.
Pensa, sim, em formar uma banda, crescer profissionalmente: “Vamos atrás de instrumentos, de parceiros, para conseguir montar um show. De início, minha ideia é começar a fazer algumas participações, mas depois expandir e crescer”.
Enquanto isso não acontece, porém, a realidade bate à porta e a parceria com a mãe na empresa de faxina continua. É dali que ela tira seu sustento, enquanto sonha com o sucesso: “Faxina varia muito. Orçamento é muito individual. A gente analisa o local, o que a pessoa precisa, varia entre R$ 200 a R$ 350,00, quando é um pós-obra”.
Como o momento é especial, Lorrany aproveita para manter vivo o sonho:
“É tudo muito novo para a gente. Havia uma rotina antes dessa exibição do programa. Estamos na primeira semana pós-exibição e tentando colocar tudo em seu devido lugar. Prioridade é aproveitar a janela de oportunidade, a exposição, e levar meu talento para vários lugares do País, entrar na casa das pessoas, na vida das pessoas, impactar as pessoas de alguma forma, como na propagação das boas novas”. (Da Redação)
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