
Autor de dois projetos de leis, transformando em universidades federais autônomas os dois polos da Ufes no interior do Espírito Santo, o deputado federal Neucimar Fraga (PSD) disse que este ano será criada apenas a Universidade Federal de Alegre, no Sul do Estado, e que os problemas políticos vividos por São Mateus, com a prisão e afastamento do prefeito Daniel da Açaí (sem partido), prejudicou o projeto da Universidade do município.
No município do Norte capixaba, que está no centro das expectativas de uma explosão econômica a partir da criação de um moderno porto e da construção de uma ferrovia para o Vale do Aço Mineiro, com conexão para a região produtora de grãos no cerrado brasileiro, há especulações de que Daniel da Açaí poderá renunciar ao mandato para evitar a cassação em processo de impeachment da Câmara de Vereadores. A chefia do Executivo foi assumida pelo vice-prefeito Ailton Caffeu (Cidadania), que já promoveu a mudança do secretariado.
Neucimar explicou que apresentou dois projetos de lei na Câmara criando duas novas universidades federais no Espírito Santo: o PL 1963 cria a Universidade Federal de Alegre (“o nome ainda será discutido, não está definido se será Universidade Federal de Alegre, do Sul do Espírito Santo ou do Vale do Itapemirim”, observou) e o PL 1964, criando a Universidade Federal de São Mateus.
“O Presidente encomendou um estudo dos dois polos capixabas, mas eu também fiz indicação para transformar todos os polos do País em universidades autônomas. Mas o estudo de viabilidade técnico-financeira apontou para começar com seis polos no Brasil, pode até aumentar durante as discussões na Câmara e no Senado, e o Espírito Santo ficou com um, que será o de Alegre, que é mais antigo e mais estruturado. O de São Mateus ficou para depois e pesou também a prisão do prefeito, o que dificulta uma discussão desse tema agora por lá”, disse Neucimar.
RESISTÊNCIAS
O Centro Universitário do Norte do Espírito Santo (CEUNES), da Ufes, fez 10 anos de instalado, enquanto o de Alegre comemorou em 18 de março deste ano os 50 anos de sua aula inaugural, ocorrida em 18 de março de 1971, depois de ser criado, inicialmente como uma Escola Superior de Agronomia, vinculada à Secretaria de Estado de Educação. O reconhecimento do curso foi em janeiro de 1975 e a federalização, com sua incorporação Ufes, em dezembro do mesmo ano. Hoje, são 17 graduações, nove mestrados e três doutorados.
Neucimar Fraga (PSD) reagiu às notícias de resistências internas na Universidade Federal do Espírito Santo, bem como do corpo acadêmico, ao desmembramento de seu principal polo universitário para se transformar uma universidade autônoma.
“Se a gente for discutir isso somente com alunos, boa parte, talvez a maioria deles não vão querer o desmembramento porque querem o status de ser formados pela Ufes, que é uma universidade já reconhecida nacional e até internacionalmente. Mas eles passam, a maioria deles não é de Alegre e nem da região. Eles vêm de outros Estados e outras cidades, por meio do Enem. Eles serão ouvidos, mas principalmente temos que ouvir a comunidade da região, e esta quer a universidade”, disse Neucimar Fraga.
O parlamentar capixaba também observou que “muitos são contra a criação da universidade autônoma por questão ideológica, porque será criada no governo Bolsonaro; é um absurdo que educadores e acadêmicos sejam contra a criação de uma universidade federal”.
O deputado ainda esclareceu as vantagens de transformar o polo de Alegre numa universidade independente: “Primeiro, é bom deixar claro a diferença entre faculdade, Centro Universitário e Universidade Federal. As pessoas às vezes dizem que já tem uma universidade lá, mas não é verdade: o que tem é um Centro Acadêmico, que tem atribuições e competências diferentes. A Universidade tem atuação mais ampla e a autonomia financeira e de gestão permite maior aproximação com a realidade local”.
Neucimar Fraga acredita que com a equipe técnica que já existe no Centro Universitário de Alegre com sua transformação e autonomia, a tendência é que cresça e alcance um status “que pode até ser melhor do que a Ufes, dependendo das articulações e competência de gestão”. E existe, segundo ele, o ganho também da autonomia financeira e orçamentária, podendo fazer seus próprios investimentos, em ligação direta com o Ministério da Educação.
“Ganha também a própria Ufes, que vai poder desafogar seu orçamento, não precisando se preocupar com a gestão do campus de Alegre. Claro que a Ufes reage, não quer perder o controle sobre o campus, mas o impacto para a nova universidade será muito grande. As decisões serão tomadas localmente, com novos investimentos e novos cursos, sem depender da Reitoria da Ufes”, salientou.
Conforme ainda o deputado, os estudos de impacto técnico-financeiro já estão levando à previsão orçamentária federal e a nova universidade do Sul do Estado será criada ainda este ano. Segundo ele, “somente par ao corpo técnico, com o redimensionamento dos cargos diretivos, estão sendo reservados R$ 15 milhões anuais”. E finalizou: “Claro que a Ufes reage, porque, afinal, essa nova universidade vai passar a concorrer com ela e, quem sabe, até com maior gabarito. Mas isso é bom para a comunidade local, é bom para a comunidade acadêmica e vai ser bom para o Brasil, pois passaremos a ampliar nosso ensino”.
Apesar do entrave político momentâneo, Neucimar Fraga acredita que em 2022 será a vez de São Mateus ganhar sua Universidade Federal, com o CEUNES se desvinculando da Universidade Federal do Espírito Santo. (Da Redação com José Caldas da Costa)
Comente este post