Usiel Carneiro de Souza*
Por que o direito de todos é uma bandeira cristã e não a busca por uma sociedade evangélica? Não seria o mais indicado que pretendêssemos lutar para estabelecer um padrão evangélico para a conduta de todos na sociedade? Ou estabelecer os limites para todos conforme as prescrições de nossa fé? Não. Não seria.
Na verdade, pretender isso, embora possa parecer cristão a alguns, seria na verdade um desvio do Evangelho. Cercear direitos como forma de domínio é anticristão. Os limites do direito devem ser acordos sociais para o bem e segurança de todos. Não uma pretensão da fé cristã.
O Deus de Jesus é bondoso para com todos. É cheio de misericórdia e faz com que o seu sol e a sua chuva caiam sobre justos e injustos – e somente ele pode realmente diferenciar os dois. Seu alvo permanente é salvar, reconciliar, manifestar misericórdia… dominar e se impor é coisa nossa. Diariamente Deus demonstra seu espírito tolerante e respeitoso, sustentando a vida de todos nós. Isso já seria razão bastante para não pretendermos nos impor.
Mas temos também uma história. Ela revela que lutamos por liberdade religiosa quando, sendo minoria, vivíamos opressos por uma religião do estado. Lutamos por justiça e liberdade de consciência, pois a obrigação de nos enquadrarmos em certas crenças, roubava-nos possibilidades e restringia-nos direitos. Por isso, a pretensão de impor a ética evangélica à sociedade não apenas seria um antievangelho, mas também uma falta de ética à luz de nossa própria história.
Portanto, é correto, é cristão e digno que nós, cristãos evangélicos, defendamos e lutemos para que cada e todo brasileiro e brasileira tenha direitos plenos para uma vida digna em nossa sociedade. Sem distinção de qualquer tipo, pois nenhuma se justificaria. Para honrarmos esse dever precisamos refletir e amadurecer. Devemos ter coragem e o sincero desejo de buscar e conhecer a verdade para sermos livres e libertarmos outros, em lugar de seguirmos apegados acriticamente a conclusões mal acabadas. Elas acabam por alimentar nossa rigidez e nos tornar pessoas que apenas conseguem ouvir e pensar as mesmas coisas.
* Usiel Carneiro de Souza é teólogo, administrador e pastor da Igreja Batista da Praia do Canto (Vitória – ES)
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