Weber Andrade*
Assisti do terraço onde moro, no centro de Barra de São Francisco, a passagem do cortejo fúnebre que prestava a última homenagem ao corpo do professor Márcio Andrade, 50, diretor da Escola Família Agrícola Normilia Cunha dos Santos.
Vitima da Covid-19, provavelmente a septuagésima terceira desde o início de março deste ano.
Um desfile interminável de carros, com os pisca alerta ligados, musica fúnebre à frente.
Lembrei-me de imediato do título do livro do escritor austríaco Johannes Mario Simmel, que tomei emprestado para título desse artigo.
“Se eu pudesse mandar, mandaria em primeiro lugar fuzilar uns 10.000 políticos e militares, para que pudéssemos ter um pouco de paz.”
Esta frase da jornalista Norma Desmond, personagem principal do livro de J. M. Simmel ilustra bem a posição do autor. Ex-engenheiro químico, dono de um estilo inconfundível, vendeu milhões de livros pelo mundo.
Os livros de Simmel sempre fizeram críticas aos sistemas políticos e ao comportamento humano. É o caso de “Por quantos ainda vamos chorar?, contundente e apaixonada crítica da utilização militar da biotecnologia. Um romance, enfim, que retrata os perigos aos quais o uso ideológico da manipulação genética expõe toda a humanidade, de maneira cruel e irreversível.
Mas não usei o título para traçar um paralelo com a atual pandemia que vivemos, que muitos acreditam ter sido criada pela China, que outros pensam que foi uma armação dos EUA. Nunca saberemos…
Mas a realidade à nossa frente, na porta de nossas casas, é cruel. Barra de São Francisco ainda é uma província, uma cidade que cresceu economicamente e atraiu milhares de pessoas, que para aqui vieram em busca de uma vida digna, de conforto para si e para os seus, o que todo ser humano busca…
Mas ainda somos uma cidade onde (quase) todo mundo se conhece, onde a maioria ainda é filha ou filho, pai, mãe, avô, avó do (a) fulano (a), do (a) sicrano (a), do (a) beltrano (a)…
No entanto, sem deixar de lamentar profundamente a perda do professor Márcio Andrade, quero lembrar aqui que mais da metade das vidas perdidas em nossa cidade por conta do coronavirus, não são lembradas para além de suas comunidades, dos seus convívios.
E, nem por isso, vemos as pessoas sensibilizadas com as perdas que não lhe dizem respeito.
Como disse o prefeito Enivaldo dia desses, tem comerciante que o parente morreu em um dia e, no outro, já estava com a porta do comércio aberta.
Os números são frios e já me indignei com um cidadão que replicou texto mórbido, onde o autor quis demonstrar que as mortes são muito poucas em relação ao total da população, algo de uma insensibilidade que dá nojo.
Por fim, lembro que as ruas estão novamente cheias de gente, querendo comprar um sapato novo, uma calça nova, aquele vestido bonito, querendo conviver nos bares e lanchonetes, sem se preocupar com essa pandemia que não vai acabar tão cedo.
Para todos, fica a pergunta: Por quantos ainda vamos chorar?
*Editor de Conteúdo do site TNL
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