A constatação de que o jovem de 16 anos, que abriu fogo contra profissionais e alunos de duas escolas de Aracruz, a 70 km ao Norte de Vitória, utilizava um símbolo nazista no uniforme militar que vestia durante o ataque e que o pai dele, um oficial da PM do Espírito Santo, também utilizou seu perfil nas redes sociais para divulgar o livro que é a Bíblia do Nazismo, poderá levar à abertura de um inquérito pela Polícia Federal para investigar a eventual existência de uma célula nazista no Espírito Santo.
A informação foi confirmada por uma fonte da Polícia Federal no Estado, sob demanda da Tribuna Norte Leste. De acordo com essa fonte, essa investigação, “a depender, sim”, poderá ser iniciada. A informação sobre a possível ligação com os ideais nazistas foi confirmada pelo próprio governador Renato Casagrande (PSB), durante a entrevista coletiva no final da tarde, na escola Primo Bitti, uma das atacadas.
“Ele carregava na sua roupa camuflada um símbolo da suástica. A investigação é que vai dizer, mas estamos destacando a existência do símbolo. Alguns jovens têm interação, comunicação, com grupos violentos e até nazistas do mundo todo”, disse o governador, durante a entrevista.
O superintendente de Polícia do Norte do Estado no âmbito da Polícia Civil, delegado João Francisco Filho, disse que, ao depor, o jovem de 16 anos mostrava-se tranquilo e sem demonstrar arrependimento. Segundo o superintendente, a ação era planejada há dois anos: “E no dia de hoje executou. Pegou o carro do pai, cobriu a placa, praticou o ato, voltou para casa e depois saiu e foi para uma outra casa que a família possui no município. Foi lá que o prendemos, com a ajuda do cerco inteligente”.
O diretor-geral da Polícia Civil, delegado José Darcy Santos Arruda, disse que, inicialmente, o jovem não tinha um alvo definido. “Acreditamos que ele não tinha esse alvo definido. As pessoas com esse tipo de patologia costumam ficar isoladas e se juntar a grupos extremistas. Vamos trabalhar toda a história dele para entender com quem está se relacionando aqui e fora do Brasil”, disse Arruda.
De acordo com o delegado José Francisco, o jovem tinha uma pistola .40, da Polícia Militar, e um revólver calibre 38, do pai dele, além de três carregadores. “Uma das armas era do pai, da Polícia Militar, e havia ainda uma pistola particular. Ele confessou tudo, mostrou as roupas e como fez. Estava bem calmo. Ele planejou isso ao longo de dois anos”, acrescentou o superintendente regional da PCES.
NAZISMO É CRIME
A apologia do nazismo se enquadra na Lei 7.716/1989, segundo a qual é crime:
- Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa – ou reclusão de dois a cinco anos e multa se o crime foi cometido em publicações ou meios de comunicação social.
- Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
Essa lei é respaldada pela própria Constituição, que classifica o racismo como crime inafiançável e imprescritível. Isso significa que o racismo pode ser julgado e sentenciado a qualquer momento, não importando quanto tempo já se passou desde a conduta.
Inicialmente, não havia menção ao nazismo na legislação, que era destinada principalmente ao combate do racismo sofrido pela população negra.
“MINHA LUTA”, O LIVRO DE HITLER
No mês de outubro, a professora Marisa Midori, da Universidade de São Paulo (USP), se valeu de uma notícia “aterradora” sobre uma professora do Paraná, do Colégio Sagrada Família, da cidade de Ponta Grossa, que foi flagrada em sala de aula ostentando a bandeira do Brasil no corpo e fazendo uma saudação nazista, para falar sobre a questão na coluna Bibliomania do Jornal da USP, publicada no dia 14 de outubro.
“Ela foi demitida. Mas devemos lembrar que, infelizmente, não são raras manifestações como estas, que reproduzem gestos e símbolos nazistas e fascistas”, afirma. Passaram-se menos de dois meses e um novo fato preocupante ocorre, agora no Espírito Santo, onde um jovem de 16 anos ataca a tiros duas escolas, com um uniforme militar com o símbolo nazista e se descobre que o pai do rapaz é um oficial da Polícia Militar, fã de Adolf Hitler.
Segundo Marisa, “a história do nazismo, ou pelo menos um capítulo dessa história de horror, responsável por uma guerra terrível, que levou milhões de seres humanos à morte ou à completa miséria, pode ser contada a partir da biografia de um livro. E eu me refiro à história de Mein Kampf, ou Minha Luta, de Adolf Hitler”.
A professora conta que a primeira edição apareceu em Munique, no verão de 1925, com grandes expectativas, inclusive da editora do Partido Nazista, a Franz Eher Verlag.
Mas, como lembra a professora, a realidade reservou outro destino para o livro: “Segundo Riback, em A Biblioteca Esquecida de Hitler, obra publicada pela Companhia das Letras, em 2009, ‘após uma onda de interesse inicial… as vendas despencaram’”. Marisa ainda conta que, depois da ascensão do nazismo, o livro conheceu uma outra sorte.
“Mein Kampf é hoje considerado a Bíblia Nazi, o que nos faz refletir sobre o perigo que representa o leitor de um só livro. O próprio Hitler reafirmava a importância de uma leitura intensiva e obediente de sua obra. Uma leitura que reavivasse a fé na superioridade da raça ariana”, comenta.
A primeira tradução de Minha Luta saiu no Brasil em 1934 e “imediatamente obteve grande sucesso, alcançando nada menos do que três edições na década de 1930”, segundo Vitkine, autor de Mein Kampf, História de um Livro, publicado pela Nova Fronteira, em 2016. (Da Redação com portal G1 e Jornal da USP)
https://tribunanorteleste.com.br/https-tribunanorteleste-com-br-rio-itaunas-ameaca-transbordar-no-centro/
Comente este post