
As fortes chuvas que caíram sobre Petrópolis, na região serrana do Rio, interromperam a busca das equipes de resgate pelas vítimas daquela que já é a maior tragédia da história da cidade, com 182 mortes confirmadas, dez a mais que a maior catástrofe até então, ocorrida em 1988, quando 171 morreram.
Mas os números poderão aumentar muito mais, pois ainda há, oficialmente, 89 pessoas desaparecidas ao final do 7º dia do temporal que deixou um cenário de terror na cidade imperial.
No início da noite de ontem, 21, a possibilidade de acontecerem novos deslizamentos na Vila Felipe, um dos locais destruídos pelas chuvas, levou duas famílias a abandonarem as casas em que viviam.
Inclusive, um novo desmoronamento de uma casa na região ocorreu no início da noite. Não havia ninguém no imóvel e a queda não deixou vítimas.
Coleta de DNA
A Polícia Civil, por sua vez, iniciou nesta segunda um mutirão de coleta de DNA para acelerar o trabalho de identificação de vítimas.

Desaparecidos
O cadastro de pessoas desaparecidas está sendo feito pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio. Veja aqui a lista mais atualizada divulgada pelas autoridades.
Pela Polícia Civil, o cadastro é feito pela Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), que faz contato e atendimento especializado aos que buscam informações de desaparecidos e boletins de ocorrência.
O Ministério Público do Rio também tem um cadastro de desaparecidos. No MP, as informações sobre desaparecidos são recebidas pelos canais de comunicação do PLID.
CORPO DE GRÁVIDA ACHADO
No sétimo dia de buscas por vítimas da tragédia de Petrópolis, bombeiros encontraram o corpo de Suelen Rosa Felipe, de 39 anos. Grávida de 3 meses, a técnica de enfermagem que vivia no Morro da Oficina estava com a mão sobre a barriga quando foi achada pelos militares, segundo a mãe dela. Foi uma cena que emocionou as equipes de resgate.
BOMBEIROS CAPIXABAS
Equipes do Corpo de Bombeiros do Espírito Santo estão no local com cães farejadores e já encontraram pelo menos três corpos durante as buscas: o corpo de um homem foi encontrado dentro de um rio da região. Às 16h, mais dois corpos de crianças foram achados soterrados no Morro da Oficina, por equipe de busca do Corpo de Bombeiros do Espírito Santo, que está no local com cães farejadores enviados junto com os militares.
A informação foi passada pelo tenente-coronel do Corpo de Bombeiros, Carlos Wagner. Os militares capixabas estão atuando no Centro de Petrópolis e foram convidados por um morador a pernoitarem em sua residência.
Ao todo, nove homens, dois cães e 3 veículos (um microônibus 4×4 e duas caminhonetes 4×4) foram enviados à cidade da Região Serrana do Rio. Eles fazem parte de uma equipe especializada em salvamento em situações de soterramento e águas rápidas e de duas equipes especializadas em busca com cães.
As equipes de busca se dividem em três áreas principais — os setores Alfa, Bravo e Charlie, que abrangem regiões como o Morro da Oficina, a Rua Teresa, o Alto da Serra, a Chácara Flora, a Vila Felipe, Caxambu e localidades vizinhas. O posto de Comando Central está localizado no 15º Grupamento de Petrópolis.
Durante a sexta-feira, a população do município temeu que novos deslizamentos pudessem acontecer. Isso porque voltou a chover forte na cidade no início da noite. Sirenes no primeiro distrito foram acionadas, mas por volta das 21h30 a chuva deu uma trégua.
Para este sábado, a previsão é de que chova ao longo dia. O Climatempo tempo prevê que o dia deve ser de sol, com muitas nuvens e com períodos nublados, com chuva a qualquer hora. O volume de precipitação pode chegar a 22 milímetros ao longo do dia

Novo deslizamento
Também na tarde de quinta-feira, um novo deslizamento fez com que as autoridades retirassem as pessoas do bairro 24 de Maio. Uma moradora contou que uma barreira passou a um palmo da casa dela.
Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta, permanece muito alta a possibilidade de ocorrência de eventos de movimentos de massa na Região Serrana do Rio, especialmente em Petrópolis.
Ainda de acordo com o Cemaden, estes fatores indicam um elevado nível de umidade do solo que pode favorecer a ocorrência de deslizamentos de terra mesmo na ausência de chuva.
A Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) mandou quase todo seu efetivo para Petrópolis.
Quatro equipes passaram o dia fazendo uma varredura em hospitais, abrigos e escolas para identificar as pessoas desaparecidas.
“As pessoas que perderam entes queridos não têm condição de ir a uma delegacia fazer registro de desaparecimento. Então, montamos esse mutirão, indo nos locais, para pegar nomes, dados, roupas que essas pessoas estavam usando na hora, tudo pra facilitar essas identificações”, explicou a delegada Ellen Souto.

Resgates
Segundo a Secretaria Estadual de Defesa Civil, 24 pessoas foram resgatadas com vida e 967 pessoas foram encaminhadas para os 33 pontos de apoio montados na cidade em igrejas e escolas da rede pública municipal.
Entre os sobreviventes, estão os rodoviários que trabalhavam nos dois ônibus que foram arrastados para dentro do rio Quitandinha conseguiram sair dos veículos com vida.
A informação foi divulgada pelo Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Petrópolis (Setranspetro) nesta quinta-feira, 17.
Prorrogação de prazo para
pagamento de ICMS e IPVA
Na manhã desta quinta, foram publicadas duas medidas no Diário Oficial do Rio de Janeiro para ajudar o município. O pagamento do IPVA e do ICMS foram prorrogados para o segundo semestre e a Alerj vai repassar R$ 30 milhões para a prefeitura de Petrópolis.
O governador Cláudio Castro (PL) esteve na cidade da Região Serrana na quarta-feira (16). Ele concedeu uma coletiva ao lado do prefeito Rubens Bomtempo e do secretário de Estado de Defesa Civil, Leandro Monteiro.
“Foi a pior chuva desde 1932. Realmente, foram 240 milímetros em coisa de duas horas. Foi uma chuva altamente extraordinária”, atualizou o governador.
Links úteis
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O Corpo de Bombeiros ainda não sabe o número de desaparecidos, mas o cadastro do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), feito até o início desta noite, indica que ao menos 35 pessoas são procuradas.
Pelo menos 54 casas foram destruídas pelas chuvas que atingiram a região e mais de 370 pessoas foram acolhidas em abrigos improvisados.
Cerca de 400 bombeiros trabalham nas buscas aos desaparecidos. A Polícia Civil do RJ também montou uma força-tarefa na cidade. São cerca de 200 policiais, peritos legistas e criminais, papiloscopistas, técnicos e auxiliares de necropsia, servidores de cartório e de diversas delegacias da Região Serrana.
A Prefeitura decretou estado de calamidade pública e informou que as equipes dos hospitais foram reforçadas para o atendimento às vítimas. Quem tiver parentes desaparecidos deve procurar a delegacia.
A Defesa Civil informou que ainda há previsão de chuva moderada a qualquer momento no município nesta quarta (veja no vídeo abaixo). Em caso de emergência, o telefone 199 está disponível.

Cidade sob a lama
Logo cedo na quarta-feira, era possível ver o tamanho da devastação — embora, em muitos locais, fosse difícil distinguir o que era casa, o que era terra ou o que era rua.
Morros vieram abaixo, carregando pedras do tamanho de carros; veículos ficaram empilhados com a força da correnteza; vias importantes foram bloqueadas, dificultando o acesso aos desabrigados.
O Alto da Serra foi uma das localidades mais devastadas. A prefeitura estima que pelo menos 80 casas foram atingidas pela barreira que caiu no Morro da Oficina. Um vídeo mostrou o momento da queda.
Outras regiões também foram atingidas, como 24 de Maio, Caxambu, Sargento Boening, Moinho Preto, Vila Felipe, Vila Militar e as ruas Uruguai, Washington Luiz e Coronel Veiga.
Corpos também foram encontrados no Centro da cidade depois que o nível do rio desceu.

‘Situação quase de guerra’, diz governador
O governador Cláudio Castro continua em Petrópolis. “A situação é quase que de guerra. Vimos carros pendurado em poste. Carro virado de cabeça para baixo. Muita lama e muita água ainda”, descreveu.
Segundo Castro, o ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, deve ir à cidade nesta sexta-feira, 18.
“Grupos de trabalho já estão vendo o que vai precisar ser reconstruído. Mas nesse momento é salvar as pessoas e limpar a lama, lixo e escombros”, disse.
O senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ) informou que o presidente Jair Bolsonaro também fará um sobrevoo na região na sexta. Segundo Flávio, o presidente voltará direto da Europa para Petrópolis. Bolsonaro viajou para Moscou, na Rússia, e nesta quinta, 17, estava em Budapeste, na Hungria.
Castro afirmou que “as sirenes funcionaram perfeitamente”. “Tanto que a tragédia não foi maior porque as sirenes funcionaram.”
“Mas foi uma tragédia de uma hora para outra, com uma quantidade de chuva raramente vista: 200 milímetros em duas horas é uma quantidade absurda e infelizmente, não teve como salvar todas as pessoas”.
“Estamos passando por uma situação de extrema gravidade, e direcionamos todos os esforços para garantir o socorro da população”, destacou o prefeito Rubens Bomtempo.
“Muita gente chegando em óbito, cheia de terra, de várias idades”, relatou um médico em um pronto-socorro.
A busca por sobreviventes em meio ao soterramento no Morro da Oficina seguiu intensa ao longo da madrugada e contou com a ajuda de moradores e equipes dos Bombeiros, Exército e Defesa Civil.
Agentes das secretarias de Obras, de Serviço, Segurança e Ordem Pública, Saúde, Educação, além da Comdep e CPTrans também atuavam no atendimento da população e recuperação da cidade.
“Orientamos a população que ao sinal de qualquer instabilidade nas áreas em que residem, que procure o ponto de apoio e nos acionem”, destacou o secretário de Defesa Civil, o tenente-coronel Gil Kempers.
O Ministério Público do Rio (MPRJ) cadastrou até o início desta noite 35 pessoas desaparecidas em razão dos deslizamentos decorrentes do forte temporal que atingiu Petrópolis.
As comunicações estão sendo recebidas pelo Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (PLID/MPRJ), que está mobilizado em sua central de atendimento.
As informações sobre desaparecidos são recebidas pelos canais de comunicação do PLID:
Telefone: (21) 2262-1049
E-mail: atendimento.plid@mprj.mp.br
Site: www.mprj.mp.br/todos-projetos/plid
Pontos de apoio
A Prefeitura abriu todos os pontos de apoio para o acolhimento da população de área de risco.
“Em geral, essas estruturas funcionam em escolas e neste momento, há atendimentos nas localidades do Centro, São Sebastião, Vila Felipe, Alto Independência, Bingen, Dr. Thouzete e Chácara Flora. Ao todo, 184 pessoas estão recebendo suporte da prefeitura, que direcionou para as unidades profissionais da Saúde, Educação, Agentes Comunitários, além da Defesa Civil”, disse o município.
Corrupção em lugar de obras
Gênese da corrupção investigada pela Lava Jato do Rio, segundo procuradores, a Secretaria Estadual de Obras do RJ viveu anos subjugada por uma organização criminosa especializada em fraudar licitações, superfaturar material de construções e desviar dinheiro público.
O Ministério Público Federal descobriu, e a Justiça vem concordando, que, por 15 anos, a secretaria responsável por melhorar a infraestrutura do estado – inclusas aí as obras para encostas na Região Serrana – foi transformada em um bunker arrecadador de propina, além de uma mina de dinheiro clandestino para campanha política do então PMDB.
No total, o desvio chegou a mais de R$ 4 bilhões, diz o Ministério Público Federal.
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