*José Caldas da Costa
A inventividade agressiva da Tesla, do bilionário Elon Musk, parece não ter limites – do tamanho de seu aparente desejo de mandar em todo o mundo.
Este final de semana foi impactado, para os mais conectados, pelo lançamento do Optimus, um robô humanoide faz-tudo. Uma nova era na história humana está se iniciando.
Nos ultimos 100 anos, a humanidade passou por transformações extraordinárias. Inicialmente, impulsionadas pelas duas grandes guerras. Os esforços de guerra tiraram da acomodação homens, mulheres e nações.
O primeiro momento de mudanças transformadoras durou cinco décadas, iniciando na crise mundial do capitalismo deflagrada pelo crash da Bolsa de Nova York, e eclodindo nos anos 80 e 90, quando chegaram os computadores, a Internet, a telefonia móvel, novos conceitos de liderança e nutricionais.
Alguns desafios novos também vieram. A geopolítica bipolar ruiu junto com o muro de Berlim e as reformas de Gorbachev que levaram à dissolução da União Soviética, com guerras locais de libertação de novas repúblicas que eram comandadas por Moscou.
A Europa se reconfigurou com novas fronteiras entre povos que, forçadamente, haviam sido agrupados nos pós-guerra em países que, na prática, nunca existiram, como Iugoslávia e Tchecoslováquia. O velho continente procurou se fortalecer com um mercado comum e uma moeda única, o euro.
Na segunda metade do período em análise, a velocidade das mudanças acelerou cada vez mais, impulsionadas pelos gênios criadores de Steve Jobs (Apple) e Bill Gates (Microsoft).
Muitos autores abordaram esses tempos, mas três me marcaram: Paul Zane Pilzer, Domenico De Masi e Jeremy Rifkin.
Pilzer, economista norte-americano, previu a explosão da Internet nos anos 90, analisou os efeitos das mudanças demográficas e alimentares que resultaram na pandemia de obesidade e as doenças relacionadas, e projetou a chamada “revolução do bem-estar” com seu faturamento na casa dos 13 digitos (trilhão de dólares).
Domenico De Masi, sociólogo italiano, contrapôs a era do trabalho compulsivo dos baby boomers com a perspectiva do ócio criativo a partir da “liberação do tempo” pelo advento dos recursos tecnológicos desenvolvidos por Jobs e Gates e seus seguidores. E chamou a atenção para a perda da oportunidade de o ser humano liberar sua mente para criar.
Rifkin, economista estadounidense, professor, escreveu várias obras, dentre elas, “O Fim do Emprego” (2004), prevendo que o emprego nos moldes da Revolução Industrial acabaria por volta de 2030. Um ano depois, numa entrevista, disse que as mudanças estavam se acelerando e que o fim do emprego se anteciparia. Essa realidade está à porta. É só olhar para fora.
Com as criações da Tesla, a velocidade das mudanças pode atingir níveis inimagináveis, mas o fosso entre grupos sociais se aprofunda cada vez mais. Há uma horda de excluídos, dentre eles iletrados, analfabetos digitais e funcionais, e os sem acesso.
Como lidar com esse desafio na era em que os robôs farão serviços básicos e tirarão a possibilidade de ganhos de sobrevivência a 50% da população mundial?
Hoje, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 10% da população do planeta passa fome.
Para quem acha que os auxílios sociais para população vulnerável não deveria acontecer, é melhor já ir se acostumando. O próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) revela preocupação com o tema. Afinal, a produção capitalista precisa de consumo.
“Os programas de gastos sociais podem fazer uma grande diferença na desigualdade, com destaque para a merenda escolar, o seguro-desemprego e os pagamentos previdenciários. Devem ser protegidos. Os programas de transferência de renda bem direcionados, como o Bolsa Família no Brasil, podem apoiar os vulneráveis”.
Então, o que esperar dos robôs da Tesla e do futuro da humanidade? Não sou profeta. Tenho curiosidade sobre o futuro, não o temo e quero estar nele. Por isso, quero viver pelo menos até os 153 anos. E, quem sabe, se os meus amigos não estiverem lá, ter um robô amigo para conversar comigo .
Ah, a propósito: a maioria da população, neste momento, nem sabe desse robô, preocupada que está com sua própria sobrevivência.
*José Caldas da Costa – jornalista há 50 anos, geógrafo, MBA em Desenvolvimento Humano e Psicologia Positiva
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