Weber Andrade
Admiro quem senta-se à mesa – ainda há quem o faça em casa, com a mesa posta – no ambiente de trabalho ou num restaurante para almoçar e diante do prato, abandone os talhares para contemplar vídeos, fotos e responder mensagens no smartphone.
– É prejudicial à saúde, atrapalha a mastigação, a digestão, força a visão, enumera um médico meu amigo.
Sento-me à mesa do bar onde costumo ir no fim da tarde, lavar a goela e alegrar o espírito. Na varanda, quase ao ar livre, sou menos afetado pela fumaça do tabaco, vício que me acompanhou durante quase 30 anos.
Olho para as outras mesas. Ali na frente, um casal, diante de uma garrafa de Heineken, parece feliz contemplando as telas dos seus smartphones. De vez em quando, mostram uma imagem do aparelho para o outro e sorriem, mas logo voltam à tela mágica, onde cabe o mundo todo e um pedaço grande do universo.
Mais à frente, quatro amigos também estão sentados e felizes com suas pequenas TVs que interagem com o mundo inteiro.
– Olha o que vi aqui, esse vídeo é muito engraçado, comenta um deles, exibindo a tela do aparelho para os demais.
Todos sorriem, alguns fazem pequenos comentários, servem-se da cerveja, beliscam um tira-gosto e voltam à vida, ou melhor, ao smartphone.
Eu, profissional de comunicação, não tenho como ficar longe da tela muito tempo. Procuro evitar ao máximo, mas as notícias estão chegando e tenho que postar aqui no site. É trabalho que não para.
Mas fico a pensar sobre onde estamos vivendo: Aqui fora da internet é o real ou a fantasia?
Me lembro da Canção em Dois Tempos, de Vital Farias, e busco, de consolo, um excerto que diz que “ninguém nem percebia que o real e a fantasia se separam no final”.
E emendo com outro excerto, de outro cantor regionalista, Paulinho Pedra Azul, que pergunta: “Onde estás? Nas nuvens ou na insensatez. Me beije só mais uma vez, depois volte prá lá”.
*Weber Andrade é jornalista e cronista bissexto
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