*José Caldas da Costa
Todas as atenções políticas do Espírito Santo estarão voltadas, agora, para a Serra, único município onde haverá segundo turno nas eleições de 2024, e com um componente de surpresa: o deputado Pablo Muribeca (Republicanos) trabalhava com a hipótese de derrotar o novato Weverson Meirelles (PDT) e ir para o segundo turno, sim, mas contra Audifax Barcelos (PP), que liderava as pesquisas.
Todos os institutos de pesquisas falharam. Audifax deu vexame e ficou fora do segundo turno, que ocorrerá no dia 27 de outubro, das 8 às 17 horas. Entretanto, os votos que foram dados a Audifax serão os que decidirão a eleição entre Pablo Muribeca e Weverson, o candidato criado pelo atual prefeito Sérgio Vidigal.
A história recente da Serra mostra muita fidelidade do eleitor ao seu voto. Ou seja, quem vota no primeiro turno repete no segundo. Isso coloca Weverson com muita vantagem na disputa com Muribeca.
Weverson teve 97.087 votos (39,66%) e enquanto Muribeca obteve 61.690 votos (25,20%), eles vão disputar o segundo turno.
E, antes de aprofundar sobre o que pode acontecer com os 58.643 votos de Audifax, é bom lembrar que existem outros 27,183 votos soltos no “mercado serrano”.
São os votos do vereador Igor Elson(PL), que teve 18.751. Pela característica da candidatura, e sabedores todos dos episódios de dois anos atrás no Brasil, cuja raiz ainda está latente entre nós, não é exagero dizer que esses votos vão praticamente todos para Muribeca.
Assim, podemos contar que o deputado vai para 80.441 votos no segundo turno, com alguma pequena variação, para cima ou para baixo, “dentro da margem de erro”. Sim, o deputado pode contar com os 919 votos de Wilson Zon (Novo). Então, são 81.360 votos, potenciamente, de Pablo.
Ainda falta um pouco para alcançar os 97.087 votos de Weverson. E as dificuldades aumentam porque, por questão ideológica, talvez Muribeca não aproveite nenhum dos 7.513 votos do Professor Roberto Carlos (PT). Assim, é possível imaginar que esses votos vão para Weverson, que iria para 104.600 votos.
Chegamos, agora, aos 58.643 votos de Audifax no primeiro turno.
Apesar de o candidato hoje ser do PP, é bom lembrar que a origem de Audifax é nos quadros do PT desde o movimento estudantil da Ufes, passando pelo Governo de Vito. Buaiz em Vitória (1995-98). Depois, ele foi secretário de Vidigal na Serra e feito seu candidato à sucessão pelo PDT. Mas Audifax resolveu ir para um segundo mandato e, a partir daí, a relação entre os dois azedou e eles passaram a ser “adversários” (pero no mucho!).
Audifax deu uma “guinada ideológica” nos últimos anos, talvez movido por sua ligação, de berço, com o público evangélico (pode um político de esquerda ser evangélico de berço? Ora, por que não?), assim como Vidigal também tem essas ligações,
A Serra tem um grande percentual de eleitores evangélicos. Audifax resolveu fechar com esse grupo, guinando para a direita (principalmente depois de uma experiência mística em 2016, quando caiu muito doente na campanha pela reeleição, e acabou, ainda assim, se relegendo), mas faltou combinar com os russos, o que já ficou demonstrado em sua pífia candidatura ao Governo do Estado.
Isto posto, pode-se dizer que Audifax pode compor no segundo turno. Por história, isso seria mais fácil com o candidato de Vidigal do que com Muribeca. Agora, resta saber até que ponto as ovelhas das urnas vão seguir a voz de seu “pastor”. Serra tem a maior população e o maior eleitorado do Espírito Santo – 572 mil habitantes estimados pelo IBGE para 2024 e 362.524 eleitores aptos a votar neste ano. Não é fácil domesticar tanta gente.
Mas, diante de todos os cálculos anteriormente postos, Muribeca está com uma desvantagem potencial de 23.240 votos para Weverson no segundo turno. Se atrair esse número dos eleitores de Audifax, vão ficar outros 35.403 votos para Weverson liquidar a fatura e saltar para 140.003 votos.
Então, o que Muribeca precisa, de verdade, para realizar seu sonho de governar a serra, é cabalar 70% dos eleitores de Audifax, o que representaria 41.050, que, somados aos seus 81.360 votos potenciais, lhe dariam 122.410 votos.
Lembrando que, neste caso, sobrariam 17.593 votos de Audifax para Weverson, que saltaria para 122.193 votos.
Se Pablo Muribeca quiser fazer uma conta tão precisa para ganhar o segundo turno por 217 votos de diferença, vai lá e combina com 70% dos eleitores de Audifax (ah, existe um deputado no plenário da Assembleia que é craque em fazer contas para se eleger com precisão suíça, mas Pablo vai ter que descobrir quem é).
Agora, se não quiser esse risco, Muribeca só tem uma chance: conquistar quatro de cada cinco eleitores de Audifax. Assim, ele tem grandes chances de ganhar de Weverson com uma margem segura acima de 10 mil votos no segundo turno.
Pois é, dizem que política não é uma ciência exata, mas em muitos casos eleição pode ser, com o auxílio da matemática e do raciocínio lógico, e de uma boa dose de sorte de estar no lugar certo na frente das pessoas certas, no momento certo. E de ler coisas certas nas ocasiões certas.
Façam suas apostas, senhores. A Serra é de vocês.
*José Caldas da Costa é jornalista há mais de 50 anos, geógrafo e escritor.
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