
Um dos dois pioneiros no plantio de soja no Espírito Santo, o jovem empreendedor Vitor Alves, 36 anos, é médico veterinário formado pela UVV, especializado em gestão. Filho único de um casal de produtores rurais, seu pai, Nilson Alves, tem experiência no comércio de café, mas há muitos anos a família estava somente na pecuária, uma forte atividade econômica em Montanha, onde estão suas terras, na região Noroeste do Estado.
Assumindo a condição de “sucessor dos negócios familiares”, sentiu necessidade de diversificar as receitas da casa e começou a observar que a saúde do solo também pedia socorro. Foi daí que surgiu a ideia de adotar uma experiência nova para o próprio Espírito Santo: plantar soja onde antes pisava o gado. “Aprendo a cada dia com meu pai, que está junto comigo sempre”, valoriza o filho.
A ideia já havia sido experimentada em Pinheiros, município vizinho, pelos irmãos Arthur e Lucas Sanders, que fizeram seu primeiro plantio em março de 2021. Eles são amigos e trocam experiências. “As validações desses dois amigos mostraram essa nova possibilidade. Outros produtores já estão querendo adotar a nova cultura”, disse Vitor, que em setembro de 2022 fez seu primeiro plantio, numa área de 300 hectares. E gostou tanto da experiência que já anunciou que vai dobrar a aposta.
“Vamos dobrar a aposta, aumentar a área plantada para 600 hectares. Para dar um descanso à terra, vamos intercalar com o milho. É uma dobradinha de ouro. O Norte vai ser o Mato Grosso do Espírito Santo na produção de grãos”, anima-se Vitor, acreditando que até mesmo as dificuldades atuais de comercializar a safra serão, brevemente, superadas. “As empresas de fora vêm buscar aqui, mas logo esse mercado vai se expandir por aqui também”.
O produtor refere-se ao Estado do Mato Grosso, onde o plantio da soja, especialmente a partir dos anos 80, foi feito por pioneiros do Sul do País. De acordo com dados da Associação Mato-Grossense de Municípios, o Estado de Mato Grosso tem se consolidado na liderança de produção de soja no Brasil, atingindo novos recordes a cada safra e figurando entre os principais produtores mundiais do grão. Se fosse um país, Mato Grosso seria o terceiro no ranking global”.
Estimativa do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), divulgada na primeira quinzena de março, aponta a produção de 44,3 milhões de toneladas de soja na safra 2022/23, o que representa cerca de 30% da produção total do Brasil. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o país deve produzir 151,4 milhões de toneladas.
GADO E GRÃOS
Apesar de a família e a região terem tradição na pecuária, e de os próprios Alves terem feito a opção pela produção de grãos, Vitor não acredita que a criação de gado vá ser substituída: “As duas atividades vão coexistir, até porque os grãos que produzirmos também vão servir para alimentar o gado”.
Outro desafio é o déficit hídrico, que no Noroeste é o maior do Estado, conforme pesquisas recentes divulgadas pela Universidade Federal do Espírito Santo. “Resolvemos isso com a construção de barragens e utilização de irrigação com pivô central”, observa Vitor, que aplaude a iniciativa do deputado Mazinho dos Anjos que, em nome da Frente Parlamentar do Desenvolvimento Econômico e Social do Noroeste do Espírito Santo, fez uma indicação do governo para criar, nos 29 municípios ao Norte do Rio Doce, um polo de agricultura irrigada, que possibilitará incentivos fiscais com fundos da Sudene operados pelo Banco do Nordeste.
As perspectivas da soja no Norte/Noroeste do Estado animam Vitor, que vem testando diferentes cultivares mas diz que a sementes que melhor se adaptaram foram as da KWS, empresa que chegou ao Brasil há 11 anos, mas tem atuação global e 160 anos de experiência em melhoramento de plantas. “Essa semente chegou próximo de 100 (sacas) por hectare”, diz Vitor.
A média nacional é de 60 sacas por hectare, o que coloca o Norte/Noroeste do Espírito Santo bem posicionado para performar no mercado de soja, proteína vegetal cada vez mais valorizada no mercado internacional, até por aspectos ambientais. De acordo com estudos da Embrapa, produzir 1 kg de proteína de soja demanda 1.500 litros de água, enquanto são consumidos 6 mil litros para produzir 1 kg de frango e 15.500 litros para produzir 1 1 kg de carne bovina.
O número de produtores de soja na região vai aumentar cada vez mais a cada safra, acredita Vitor, inspirados pelo sucesso obtido na propriedade da família Alves em Montanha e dos irmãos Sanders em Pinheiros. Mais um exemplo de que o empreendedorismo muda a história. Atraído pelas notícias desses pioneiros, o vice-governador e secretário de Estado de Desenvolvimento Ricardo Ferraço visitaram os plantios para conhecer de perto da experiência, em companhia do secretário de Agricultura, Ênio Bergoli, e de prefeitos da região.
“Sempre temos que valorizar e apoiar quem empreende e quem trabalha. Anteriormente, a propriedade tinha sete colaboradores e a implantação da lavoura [de soja] aumentou e muito as oportunidades na região. Estamos diante de uma experiência inovadora e importante, com tecnologia e conceitos relacionados à sustentabilidade que certamente nosso Governo estará apoiando”, afirmou Ricardo Ferraço. (Da Redação com José Caldas da Costa)
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