Nos dias finais da Guerrilha do Caparaó, em março de 1967, ele acabou ganhando um inusitado protagonismo no movimento de resistência feito por militares expulsos no golpe de 1964: gravemente acometido pela peste bubônica, Avelino Bioen Capitani pedia aos seus companheiros para ser deixado para trás, para que morresse sozinho na floresta e, assim, não comprometesse a segurança do grupo.

Um de seus antigos companheiros de armas, o também marinheiro Amaranto Jorge Rodrigues, arriscou-se e desceu a serra para buscar remédio. A região já estava sob vigilância da Polícia Militar de Minas Gerais e, denunciado pelo farmacêutico, Amaranto foi preso quando caminhava por uma estrada de volta para encontrar-se com o grupo combalido.
Dois dias antes, dois homens, Jelcy Rodrigues e Josué Cerejo, já haviam sido presos numa barbearia em Espera Feliz, onde aguardavam o trem para voltar ao Rio de Janeiro, desistindo do combate. Estava chegando ao fim, na divisa do Espírito Santo com Minas Gerais, a primeira guerrilha contra a ditadura militar que durou até 1985. Todos os detalhes do movimento de resistência estão no livro “Caparaó – a primeira guerrilha contra a ditadura”, de José Caldas da Costa (Boitempo, 2007), ganhador do Prêmio Vladimir Herzog.
LUTA CONTRA O CÂNCER
O gaúcho Avelino Capitani perdeu sua última batalha e, aos 82 anos de idade, morreu neste sábado (17) de complicações de um câncer. Avelino Capitani era anistiado da ditadura militar, mas a anistia completa demorou 15 anos.
A despedida está sendo neste domingo (18), das 8h30 às 11h30, no Cemitério João XXXIII, capela 3, Av. Natal, 60, Bairro Medianeira, Porto Alegre. Do último grupo da guerrilha, com dez homens, Milton Soares morreu sob tortura na prisão. Nós últimos cinco anos, morreram Amaranto, Jelcy Rodrigues (um dos subcomandantes, de. Covid), o comandante Amadeu Felipe e, agora, Avelino.
Sabidamente, já morreram também Hermes Neto, um dos mais novos do grupo, e os irmãos Luis Carlos e Dirceu Dornellas, estes três do grupo de apoio no Rio, bem como Amadeu Rocha, elemento de ligação do grupo de Brizola no Uruguai, Bayard Demaria Boiteux, responsável político do movimento, como presidente do PSB, e Paulo Shilling, apoiador intelectual do núcleo de Brizola.

Avelino Capitani era conhecido como “Anjo Louro” na Associação dos Marinheiros e foi um dos mais bravos participantes da resistência à ditadura. Preso e condenado por “Caparaó”, fugiu de forma espetacular da Penitenciária Frei Caneca, no Rio, e engajou-se de novo na luta armada, manejando com destreza sua pistola 45mm. Acabou homenageado por Jorge Benjor na música “Charles Anjo 45”.
Marinheiro reformado e escritor, Capitani nasceu em 18 de agosto de 1940, no Alto Tamanduá, hoje Progresso. Filho de João Capitani e Oliva Bioen Capitani, casou-se em 1981 com Teresa de Jesus Reckziegel de Lucena, tendo a filha Juliana, nascida em 1993.
Pequeno agricultor, em 1954 foi trabalhar numa criação e engorda de porcos no Bairro Conservas de Lajeado. Dois anos depois, mudou-se para Porto Alegre, onde trabalhou numa fábrica de móveis.
Em 1959 fez concurso para a Escola de Aprendiz de Marinheiro, em Florianópolis, seguindo no ano seguinte para a Marinha no Rio de Janeiro. Em 1962, filiou-se à Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil (AMFNB), recém-fundada. Após o golpe de 1964, como um dos diretores da Associação, participou da chamada Rebelião dos Marinheiros, sobre a qual escreveu um livro. Foi preso e no final daquele ano fugiu da prisão do Alto da Boa Vista (RJ), e se exilou no Uruguai.
Depois da luta armada, foi regatado por um navio cubano no porto de Antofogasta, no Chile. Na entrevista para o livro sobre a guerrilha do Caparaó, Capitani contou ao jornalista José Caldas da Costa, que, ao retornar ao Brasil com a anistia de 1979, foi procurado para orientar, militarmente, uma organização criminosa do Rio. “Recusei. Minha luta era política e não com fins criminosos”, disse, na época, Avelino Capitani.
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