
Weber Andrade
“Meu pai conta que por aqui, só havia tratadores e eu fui levado até um deles, não me lembro o nome, mas o tratador disse que não iria adiantar nada, que a doença não tinha cura. Mas, como eu era o único filho, ele decidiu me levar até Barra de São Francisco, até o doutor Fenelon e, ao me examinar e medicar, o médico disse que se eu tivesse demorado mais uma hora pra chegar, talvez não me salvasse.”
O relato é do produtor rural da região do distrito de Santo Antônio (Tatu), Adilton Gonçalves, 68 anos, por quatro vezes eleito vereador em Barra de São Francisco, que, aos oito meses de idade chegou a ser desenganado pelos ‘tratadores’, por conta da meningite, doença infecçiosa grave que pode ser causada por vírus, bactérias e fungos e por isso a transmissão pode ocorrer de pessoa para pessoa através de secreções e gotículas de saliva, bem como através de objetos e ambientes contaminados.
“Felizmente, eu escapei sem sequelas, mas, anos mais tarde, fui saber que dezenas de crianças, principalmente de famílias alemãs (luteranas), morreram devido à meningite aqui no distrito de Santo Antônio. Tem até um cemitério luterano, apesar de ser chamado de cemitério de São Pedro, onde estão os pequenos túmulos, mas no cemitério da sede do distrito também há muitas vítimas da doença enterradas”, relata Adilton.
O produtor rural conduziu a nossa reportagem até o cemitério de São Pedro, onde pudemos constatar uma grande quantidade de túmulos, muitos já com as informações sobre os mortos ilegíveis, mas também muitos outros com sobrenomes conhecidos na cidade, como os Holz, os Binow, Golt, Gebert e Beling, entre outros.
Na maioria dos túmulos, crianças que morreram no dia do nascimento ou uma semana, um mês, no máximo dois anos depois de nascidas.
“São todas vítimas da doença que teve alguns surtos, no final dos anos 1950, no início dos anos 1960 e também no início da década de 1970”, descreve Adilton.
Em rápida pesquisa na internet, nossa reportagem constatou que “a maior epidemia de meningite da história do país grassava na cidade de São Paulo nos anos 70”.
A omissão das autoridades na época, fertilizou terreno para o avanço da doença, que atingiu todos os bairros e chegou a registrar a média de 1,15 óbitos por dia. A doença se espalhou por vários Estados, inclusive o Espírito Santo.

Novo surto?
A Secretaria Municipal de Saúde (Semus) está preocupada com os casos de meningite que tem ocorrido no Estado. Dados do mês de julho (2022) dão conta de mais de 140 casos e 28 mortes no Espírito Santo, em torno de 20% dos casos confirmados. A preocupação é maior devido ao surgimento de casos na região.
A meningite é prevenida com vacinação. Estão disponíveis na rede municipal de saúde, as doses da vacina para prevenir a doença.
Diante do agravamento do quadro, a Secretaria Municipal de Saúde (Semus), em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), abriu esta semana a vacinação contra a meningite meningocócica C, para adolescentes entre 13 e 19 anos que não foram vacinados, profissionais da Saúde e crianças de 3, 5 e 12 meses (mediante avaliação do cartão de vacinação).
“O quadro é preocupante, porque já temos casos muito próximos de nós e, apesar dos avanços da medicina, a doença ainda é muito perigosa e pode levar à morte ou a sequelas graves”, explica o secretário municipal de Saúde, Elcimar de Souza Alves.
O objetivo da disponibilização da vacina para estes grupos é diminuir a incidência da doença meningocócica, meningite bacteriana que causa infecção das membranas que recobrem o cérebro. Ela é considerada a mais grave das meningites.
“A proteção aos adolescentes acontece, especialmente, por esse grupo ser o principal responsável pela manutenção da circulação da doença na comunidade. Já nos trabalhadores da saúde, a recomendação se dá considerando a gravidade e a letalidade da doença”, explicou a Sesa.
Quem pode se vacinar
Adolescentes de 13 a 19 anos que não receberam quaisquer imunizantes contra a doença meningocócica (meningocócica C ou ACWY) e trabalhadores da saúde, independentemente da idade.
A Semus informa que mulheres grávidas, que pertencem a estes dois grupos, devem apresentar orientação médica.
Onde se vacinar
Os imunizantes estão disponíveis em Barra de São Francisco nas unidades de saúde do Bambé, Alvino Campos, (Centro/Pavilhão), Irmãos Fernandes e Vila Vicente.
Comente este post