*José Caldas da Costa
O que aconteceu no último domingo (15) no debate da TV Cultura (a cadeirada de José Luiz Datena em Pablo Marçal) tem lógica e foi, friamente, calculado por Marçal, que precisava dessa encenação para escapar do choque de realidade que começou a atingir o eleitorado de São Paulo.
Em Programação Neurolinguística, que Marçal domina bem, ele usou o que se chama de “ferida mortal” para tirar Datena do ponto de equilíbrio. E não teve a menor ética para isso. É o fim justificando os meios, como ensinou Maquiavel ao príncipe.
Na Psicologia se diz que houve um sequestro da amígdala, um termo popularizado pelo psicólogo e escritor Daniel Golleman, em seu livro “Inteligência Emocional” (que Datena tem pouca), para expressar aquela reação emocional intensa e imediata que anula a capacidade de raciocinar. É um instinto. Impulso animal.
A acusação de assédio sexual deixou cicatrizes profundas em Datena, tanto é que ele, após a agressão, grita, destemperadamente, que a sogra morreu por causa disso. Ou seja, está tudo muito latente nas emoções do apresentador, que foi estudado por Marçal para ser provocado. Datena chorou no meio da semana, e Marçal sabia como reabrir a ferida emocional.
Até o pedido de desculpas que ele mandou para Datena foi caso pensado de Marçal. Foi uma estratégia para baixar a guarda do adversário. Nas salas de tortura da ditadura militar usava-se essa técnica nos interrogatórios com dois delegados: um mau e outro bonzinho. O bonzinho fingia estar do lado do depoente e minava suas defesas.
Embora se perceba que há um movimento, ao que parece, de cunho internacional para uma “revolução às avessas”, de desmoralização da política, para desconstruir a democracia a fim de que novos grupos se apropriem do poder para interesses pessoais, há que se observar que política é algo que precisa ser levado mais a sério.
Pablo Marçal, como especialista em marketing digital, conhece as chaves e gatilhos que controlam a mente de avisados e desavisados, principalmente estes. Seus milhares, talvez milhões de seguidores nas redes sociais, muitos já passaram da categoria de fãs para a de seguidores fanáticos. Já tiveram suas mentes sequestradas, como exatamente ele diz para eles, seus seguidores, que os outros lhes fizeram.
Vemos a realidade como nós somos, para usar uma frase que os coaches gostam muito. Pablo Marçal controla a mente de seus seguidores mais fanáticos com as “chaves e gatilhos” que conhece bem, a fim de fazê-los ver o mundo e a realidade conforme os seus interesses.
Há 100 anos tivemos uma liderança sinistra com a mesma capacidade, que manipulou as fragilidades de um povo para quase levar a humanidade a uma tragédia universal. Para seu governo, se Pablo Marçal tiver permissão do eleitor para chegar onde quer, vamos sentir saudades de Bolsonaro. E olha que isso não é pouca coisa.
O autor é jornalista com 50 anos de profissão, geógrafo, Practitioner em PNL, MBA em Psicologia Positiva
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