A Polícia garante que teve motivações passionais e não políticas o incidente ao final da reunião-comício da coligação Barra de São Francisco Tem Café no Bule, quando um homem na carona de uma motocicleta atirou contra a aglomeração no bairro Colina e feriu um cabo eleitoral que estava no local.
Durante todo o dia, no sábado (28), ligações e mensagens ameaçadoras foram feitas a membros da coligação. A Polícia Civil confirmou a linha de investigação de crime passional, que não tinha como alvo a pessoa ferida pela “bala perdida”, mas um outro indivíduo da comunidade.
A prisão do condutor da moto que levava o atirador (que fugiu após o disparo) poderá lançar luz sobre esse episódio e outros: o preso, Carlos Magno Gomes, estava no sistema prisional até há poucos dias, por envolvimento com o tráfico de drogas e porte ilegal de armas.
Municípios pequenos e como menos infraestrutura, como Barra de São Francisco e outros do interior do Espírito Santo e do Brasil, são mais vulneráveis à atuação de organizações criminosas na tentativa de controle do proceso eleitoral, segundo o coronel Pedro Luiz de Souza Lopes, chefe do setor de inteligênica da Polícia Militar de São Paulo, berço do Primeiro Comando da Capital (PCC), com ramificações não apenas em todos os Estados brasileiros, mas também no Exterior.
A declaração do coronel foi feita durante o 18º Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em Recife (PE), realizada no mês de agosto, e divulgada pelo jornal O Globo, que no último final de semana também entrevistou, sobre o tema, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Carmem Lúcia, que também demonstrou preocupação com o assunto.
“[A participação] É bem maior do que eu imaginava. Não dá para falar de são 100, 200 municípios, mas tem vários com indícios palpáveis de alguma movimentação importante do tráfico participar como financiador de campanha eleitoral”, disse Lopes, referindo-se ao número de municípios paulistas.
Segundo ele, a partir de 2015, o PCC ampliou sua atuação no tráfico internacional de drogas e agora está buscando novas modalidades para a lavagem de dinheiro. O financiamento de campanhas e a participação em contratos públicos são algumas das possibilidades, conforme noticiado pelo jornal O Globo.
Segundo o chefe da inteligência da PM, já ocorreram reuniões com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo para tratar do tema. “O que está sendo tratado com o TRE e as legendas é que precisamos ser informados sobre qualquer tipo de ingerência ou manifestação que possa implicar em limitação do processo eleitoral em virtude de prática criminosa dessa natureza. Temos recebido bastante material por conta dessa interlocução”,relatou.
A atuação do PCC, considerada hoje a maior organização criminosa do mundo, se assemelha à da máfia italiana e está sendo monitorada por vários países do mundo. Recentemente, autoridades americanos anunciaram terem prendido elementos ligados ao PCC buscando fincar tentáculos nos Estados Unidos.
PREOCUPAÇÃO DO TSE
A uma semana do primeiro turno, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, disse, em entrevista a O Globo neste final de semana, que a tentativa do crime organizado de influenciar e se infiltrar nas eleições municipais é “bastante grave” e “não pode ser subestimada”.
Segundo ela, a Justiça tem coordenado um cruzamento de dados para monitorar o tema. A ministra defende que o Estado “deve agir de forma a reduzir a violência” na política e que candidatos envolvidos em pugilatos durante debates devem ser punidos. “Como pode alguém que se apresenta de forma agressiva ser um pacificador quando assumir o cargo?”, questiona ela. “A democracia exige vigilância permanente”, reforça.
Uma pesquisa DataFolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostrou que 14% dos brasileiros dizem sofrer com a presença de facções criminosas ou milícias em suas vizinhanças. Em capitais, esse percentual chega a 20%. O crime organizado também está no centro do debate eleitoral.
Em São Paulo, candidatos à Prefeitura trocam acusações de que seus oponentes teriam ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa nascida nos presídios paulistas, hoje com ramificações em diversos países.
No Rio de Janeiro, o Tribunal Regional Eleitoral anunciou a mudança de endereço de mais de 90 seções eleitorais, numa tentativa de reduzir a influência de traficantes e milicianos sobre o voto.
No Rio Grande do Sul, três pessoas foram presas em operação conjunta da Polícia Federal (PF) e da Polícia Civil acusados de envolvimento em um ataque a tiros durante comício de um candidato do PT à prefeitura da cidade gaúcha de Bagé no último dia 15 de setembro. O acusado de efetuar os disparos foi encontrado morto, o que se suspeita de queima de arquivo. A Polícia investiga a ação do crime organizado no episódio.
AÇÃO NO NORDESTE
A BBC Brasil publicou uma reportagem sobre o tema no dia 6 de setembro em que afirma que, com as maiores taxas de homicídio do país na última década, Norte e Nordeste enfrentam o avanço das facções criminosas nacionais (como PCC, mas também o Comando Vermelho) para essas regiões, o que vem junto com a influência política desses grupos sobre as administrações locais.
“Quando as economias ilegais crescem muito, elas vão funcionar como qualquer outra economia capitalista, vão botar o Estado para ser o seu balcão de negócios”, diz Gabriel Feltran, diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês) e professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po), em entrevista à BBC News Brasil.
Um dos principais pesquisadores do crime organizado no país, o sociólogo é autor de Irmãos: Uma história do PCC (Cia. das Letras, 2018), entre outros livros dedicados ao tema.
Com base em seus estudos, Feltran avalia que a principal forma de influência do crime organizado na política brasileira hoje não é pela infiltração de candidatos ligados aos grupos criminosos na corrida eleitoral, mas pela atuação junto ao poder político para obter vantagens econômicas.
“Trata-se basicamente da influência de empresários sobre políticos”, afirma o sociólogo. “Não é porque os caras são criminosos e estão se infiltrando na política. É porque eles são empresários e estão fazendo o que todo empresário faz.”
Feltran vê como equivocadas as notícias recentes, baseadas em investigação da polícia civil, de que o PCC teria criado um banco para financiar candidaturas.
“São poucas as pessoas que entendem o que está acontecendo. A grande maioria faz esse tipo de raciocínio, que é o raciocínio da Lava Jato”, diz o pesquisador, fazendo um paralelo com a operação da Polícia Federal que investigou esquema de corrupção na Petrobras.
“As pessoas pensam que há uma infiltração do PCC na política. A estratégia do PCC não é essa”, afirma.
“A estratégia do PCC não é de uma organização revolucionária que quer tomar o Estado e comandá-lo. Tampouco é a estratégia do Pablo Escobar, de subjugar o Estado militarmente, matar juiz, matar promotor, peitar todo mundo, colocando o Estado pra trabalhar para ele. A estratégia do PCC não é nem uma, nem outra, é muito mais poderosa do que essas duas”.
À BBC News Brasil, Feltran falou ainda sobre os desafios para novos prefeitos diante das evidências da participação de facções criminosas em licitações municipais; do poder das milícias sobre o voto; do que ele considera uma “autonomização” do poder policial com relação às elites brasileiras; e do avanço das facções para o Norte e Nordeste e o efeito disso para as eleições deste ano. (Entrevista completa à BBC Brasil https://www.bbc.com/portuguese/articles/cd6y9gey6q3o)
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